MOCA: não se sabe com rigor
quando é que a moca de madeira foi adoptada pelos alunos da Universidade de
Coimbra. A moca tem origem pré-histórica. Na sua qualidade de arma de caça,
arma de defesa e bastão de mando, foi usada pelos grupos de caçadores
recolectores, tendo passado mais tarde para as comunidades agro-pastoris do
Neolítico. Em Portugal, sob diversas formas, sobreviveria nas comunidades
populares tradicionais e na Academia de Coimbra até ao século XX.
Na sua origem, a moca era uma espécie de
bastão troncónico, com cerca de um metro de extensão, mais estreito na base e a
alargar na direcção da cabeça. Tinha a morfologia de uma maça, quase sempre
sulcada de nódulos ou picos e servia sobretudo para caçar animais de grande e
médio porte, chacinar adversários e esmagar ossos. As mais resistentes e
duráveis eram cortadas ainda verdes e afeiçoadas em fogueiras, ganhando
acrescida capacidade de resistência ao desgaste provocado pela água, fogo e
amplitudes térmicas.
É deste tipo a maça do herói grego Hércules,
sucessivamente figurada em vasos cerâmicos e esculturas. Nos séculos XIX e XX a
maça ou clava de Hércules chegou a ser erradamente representada em trabalhos
escultóricos cujo tema era a Fortaleza, quando o símbolo desta alegoria é uma
coluna arquitectónica.
Na Idade Média, as maças de tipo bastão
originaram um novo tipo de arma usada em contextos militares e logo adaptada
como símbolo dos poderes monárquico, académico, papal e episcopal, a maça de
ferro com cabo cilindriforme e cabeçorra de picos robustos, usada para
esmigalhar elmos, armaduras e ossos. Transformada em artefacto artístico, a
maça militar rapidamente foi apropriada pelas universidades europeias e
transformada nas maças que os bedéis carregavam na frente dos reitores para
simbolizar a autonomia de cada Faculdade. Conhecem-se derivação desta
apropriação nos parlamentos, câmaras municipais, casas eclesiásticas,
irmandades e confrarias, catedrais e sinagogas. Da maça militar medieval terá
nascido a moca, arma de madeira usada pelos camponeses que os senhores
convocavam periodicamente para a guerra. Como é sabido, os camponeses
arregimentados não tinham direito aos cavalos, armaduras e armas de metal dos
senhores, adoptando quase sempre alfaias agrícolas (foices, gadanhas, machados,
picaretas). As mocas, de diversa envergadura, podiam ter cabos longos,
charolões repletos de nódulos ou mesmo picos de ferro cravejados. Volteadas no
ar, provocavam ferimentos dolorosos e desvastadores.
As mocas portuguesas mais conhecidas são as de
Rio Maior, de cabo curto, charolão compacto e cravejado de pregaria. As de tipo
conimbricense não obedecem a um tamanho padronizado. As mais apreciadas eram
obtidas a partir de troncos nodosos e de raízes. Ao contrário da Moca de Rio
Maior e das maças militares, a moca académica coimbrã não podia ter pregos,
picos eriçados, cabeça redonda ou oval lisa.
Curiosamente, nas comunidades tradicionais
portuguesas, a moca não foi a arma mais utilizada pelos camponeses. Foi antes o
pau ferrado, bordão ou varapau, que os camponeses exibiam invariavelmente em
feiras, romarias e deambulações entre aldeias. Alguns paus ferrados tinha
ponteira de metal ou aguilhão, servindo simultaneamente para picar o gado
bovino e cavalar. O pau era usado em rixas masculinas individuais, combates
entre aldeias, jogos rituais e condução do gado. Exibido com garbo, conferia
respeitabilidade ao camponês, na medida em que imitava a vara do mando usada
pelos mordomos de confrarias, vereadores municipais, juízes de direito e
oficiais da Universidade de Coimbra. O pau ferrado foi muito usado pelos
estudantes de Coimbra até finais do século XIX, em caminhadas ao Buçaco,
Condeixa e Figueira da Foz, brigas entre estudantes e futricas, charivari
alegórico de fim de ano e combates rituais no Largo da Feira. Porém, não
chegaria a ser convertido em símbolo de práticas praxísticas.
Tudo indica que o uso da moca de tipo
académico remonta às origens da universidade. Para a intensificação do uso
terão contribuído as continuadas medidas proibitivas emanadas do poder régio e
reitoral que puniam severamente o porte de espadas, punhais e armas de fogo em
contextos extra-militares.
Na cultura popular e escolar a moca está
directamente associada à virilidade. A sua anatomia fálica remete para o pénis
erecto e diversos vocábulos populares expressam em vernáculo a ideia de coito,
como “mocar” e “dar uma mocada”. Em sentido algo contrário, assinala-se a
expressão “estar com uma grande moca”, isto é sonolento ou entorpecido,
analogia que remete para o desequilíbrio entre a cabeça e o cabo da moca.
Outros termos regionais contíguos são “porra”, “porrada”, “porro”, “porrete”,
“porretada” e “cacete”, alguns deles com sentido fálico explícito tanto na
cultura oral portuguesa como na brasileira.
Usada indistintamente por alunos de todos os
anos dos cursos, a moca chegou à entrada do século XX como arma pessoal de
defesa, arma de caça e bastão de poder dos veteranos. A moca era considerada
artefacto sagrado. Era habitualmente guardada pelos académicos nos seus quartos
de dormir, dependurada nas paredes e arrumada debaixo dos catres. Em situações
de arruamento era escondida sob a capa ou em bolsos fundos da batina. Podia
transportar-se suspensa do pulso, uma vez que o cabo era perfurado e comportava
correia de couro ou cordão.
Eis alguns contextos vivenciais académicos que
proporcionavam visibilidade à moca:
-c açadas clandestinas a
capoeiras existentes na cidade de Coimbra;
- batidas às ruas do Bairro
Latino para caçadas a gatos que depois eram estufados pelos grupos “gaticidas”;
- participação em caçadas nos
campos dos arredores da cidade;
- cortejos alegóricos das
festividades de encerramento do ano escolar, conhecidas por Caçoada do Ponto,
Festa do Ponto, Festa das Latas, Latadas e Queima das Fitas, onde mocas de
grande porte eram exibidas a pé e em burro por estudantes que parodiavam
archeiros e guardas de honra, ou mesmo em carros alegóricos engalanados para o
efeito;
- rituais punitivos ligados à
iniciação de caloiros tanto na Universidade como no Liceu de Coimbra, onde os
alunos novos ou novatos eram identificados com terminologia zoófila como
bichos, bestas, carneiros, touros e tourinhos;
- símbolo antitrupista. Neste
caso peculiar, a moca é vista como um troféu de guerra, apreendido em refregas
nocturnas entre trupistas e antitrupistas.
A partir da década de 1890 vários foram os
liceus que importaram a moca usada na Universidade de Coimbra. No Minho, os
alunos dos Liceus de Braga, Guimarães e Viana do Castelo chamavam-lhe “a
macaca” e praticavam um ritual de iniciação de caloiros chamado “beijar a
macaca” (António Nóvoa e Ana Santa-Clara, Liceus de Portugal, 2003, pp. 136 e
765). Este ritual era uma paródia ao compasso pascal que corria as casas e
levava a beijar a cruz, dando os alunos mais velhos a moca a beijar aos
caloiros. Na cultura académica coimbrã, o único objecto que podia substituir a
moca era um fósforo.
O bastão do poder é um símbolo transcultural e
trans-territorial, assinalado na Índia, na China, na cultura agrária
portuguesa, nas monarquias mediterrâneas e nas civilizações da Suméria, Egipto
e Grécia clássica, quase sempre na sua forma de báculo ou vara alta.
Considerando o quanto a cultura académica coimbrã está povoada de sinais da
mitologia greco-romana, o bastão acorre ainda na qualidade de símbolo da
Faculdade de Medicina (bastão de Esculápio, com serpente), da Faculdade de
Economia (caduceu ou bastão de Mercúrio com duas serpentes), e Faculdade de
Desporto (Júpiter com a vara encimada por águia, em louvor de quem se faziam os
jogos Olímpicos). Insígnia tutorial, o bastão ocorre como símbolo da autoridade
e prestígio do mestre no acto de iniciação do discípulo. Nas universidades
espanholas, os reitores usam desde 1850 a cana ou bastão. O bastão de prata é
também a insígnia do Mestre-de-Cerimónias da Universidade de Coimbra.
Partir o bastão ou a vara em linguagem
cerimonial significava ratificar a morte de uma autoridade ou dignitário. Era o
que faziam os vereadores portugueses nas exéquias solenes por morte do rei
(quebra dos escudos) e o grão-mestre francês quando os monarcas faleciam.
TESOURA: a tonsura de
caloiros é praticada na Universidade de Coimbra desde praticamente as origens.
Não caberia à Universidade de Coimbra a invenção desta prática punitiva, que já
se encontrava instituída pelo Direito canónico e pelo direito criminal
peninsular. De acordo com o Direito canónico eram obrigatoriamente tosquiados
os clérigos que tomavam ordens sacras e também os membros do clero regular ou
monástico. Em vários forais municipais portugueses achava-se consagrada a pena
de tonsura dos traidores e mulheres adúlteras. Os falsos traidores podiam ser
publicamente tosquiados e achincalhados, pena que os franceses aplicaram em
1945 às mulheres acusadas de colaboracionismo com os ocupantes nazis.
Uma das aplicações de sanções à mulher adúltera
consistia na tosquia dos cabelos, seguida do desfile escarranchada em burro,
com o rosto voltado para o rabo do jumento e sujeição a escárnio público.
Sujeito a idêntica pena podia ser também o sedutor ou amante, se apanhado em
flagrante.
Uma estrofe do Cancioneiro de Rezende alude a
esta prática enraizada: Por fazer coisa enovada/Ireis o revés da sela/Ó rabo
mui bem pegada/Escarranchada, faça quem quiser burrela. Nos trava-línguas
infantis portugueses, o corte de cabelo mal alinhavado pelo barbeiro era assim
representado: Quem te tosquiou/Que orelhas te deixou/Por detrás e por
diante/Como o burro do Vicente?!
A tesoura usada pelos adeptos da tonsura só
muito tarde, após a Revolução Republicana de 5.10.1910, é que começou a
apresentar pontas redondas, graças ao triunfo de medidas securitárias. Durante
séculos, o que os tosquiadores usavam eram os tesourões da tosquia do gado
lanígero, ou na falta delas as tesouras dos alfaiates que eram de tamanho
avantajado e pontas bicudas. Como as tesouras da tosquia não tinham as hastes
fixas a um eixo, até finais do século XIX a literatura académica e os processos
disciplinares fazem eco de ferimentos e golpes no couro cabeludo dos
tonsurados.
Os ferimentos provocados no couro cabeludo dos
sancionados em trupes e graus não resultavam apenas da falta de perícia
provocada por situações de embriaguez. As sevícias eram agravadas por certos
tipos de rapanço autorizados (em particular os ad libitum ou plenos, os
secundum praxis, em que cada executor dava um golpe a menos que o presidente, e
os de desenho artístico “à Santo Antoninho”, com letras e falos erectos).
Considerada acto bárbaro e arcaico, a tonsura
foi abolida no rescaldo da Crise Académica de 1969 e retomada nos finais da
década de 1970, sempre como ritual masculino. Em Maio/Junho de 1969 a pena de
rapanço seria praticada por membros dos piquetes grevistas em alunas que
furavam a greve e tentavam fazer exames. A partir de 1987 surgiram em Coimbra
trupes femininas que praticaram tonsura simbólica.
Em situações raras, a pena de rapanço foi
aplicada pelos académicos de Coimbra a figuras externas que se considerou terem
ofendido gravemente a Academia.
Fortemente criticada desde o Iluminismo, a
tonsura seria adoptada no século XIX como um mecanismo ligado aos ideais da
higienização, ordem, disciplina e regeneração. Assim aconteceria em relação aos
mancebos incorporados nos quartéis militares, aos mendigos internados em
asilos, aos menores institucionalizados nas casas de detenção e correcção, aos
presos nas cadeias penitenciárias e aos doentes mentais entregues aos hospícios
psiquiátricos, instituições onde os internados eram alvo de rituais de
despojamento e morte simbólica.
PALMATÓRIA: a palmatória foi
o mais importante instrumento punitivo usado pelos veteranos da Universidade de
Coimbra até à Revolução de 1910. Intimamente associada às imagens disciplinares
do ensino da gramática e primeiras letras pelos mestres, a chibata e a
palmatória em formato de espátula ocorrem na iconografia medieval como símbolos
de um dos saberes das Artes Liberais, a Grammatica.
O ensino à base da memorização, disciplina e
obediência à autoridade do mestre ficou longamente associada aos colégios da
Companhia de Jesus, onde se usava a palmatória, abolidos pelo Marquês de Pombal
em 1759.
Este instrumento disciplinar esteve em uso em
Portugal nas escolas de instrução primária, colégios e seminários católicos até
meados do século XX. Conhecida na gíria escolar por “Santa Luzia” e “Menina dos
Cinco Olhos”, a palmatória apresentava cabo curto trabalhado em torno de
marceneiro e pá circular com cinco perfurações. Era chamada “Santa Luzia”, uma
vez que a sua forma lembrava a bandeja onde Santa Luzia exibia ante os crentes
os olhos que lhe haviam sido arrancados no martírio.
Até 1910 a palmatória é abundantemente
referida na literatura coimbrã e aqui e ali nos processos disciplinares da
Polícia Académica como o instrumento mais utilizado na aplicação de
palmatoadas, boladas ou “bolas” nas palmas das mãos. Palmatórias havia que
tinham uma face coberta de couro e outra esculpida. Os furos funcionavam como
ventosas e formavam bolhas e hematomas nos sítios onde a pá fustigava a pele.
Nos museus ligados à instrução primária
portuguesa existem exemplares de palmatórias. No Museu Académico de Coimbra
encontra-se uma que pertenceu ao estudante Antero de Quental e que lhe valeu em
1859 oito dias de prisão, pois que sendo o mesmo Antero aluno do primeiro ano
de Direito andou na noite de 20.04.1959 com outros colegas dando praxe a um
aluno liceu, para mais embuçados nas capas e munidos de tesouras, palmatórias e
cacetes (Ana Maria Almeida Martins, Antero de Quental, 1986, pp.70-72).
Apodada de símbolo do imobilismo científico e
do atavismo pedagógico, a palmatória viria a ser abandonada pelos estudantes
após a Revolução do 5 de Outubro de 1910 e substituída pela colher de pau.
COLHER DE PAU: as mais
apreciadas pelos estudantes da Universidade de Coimbra são as de fabrico
caseiro, manufacturadas pelos artesãos de Lorvão e Arganil. As de Arganil com o
seu cabo cónico e a sua concha redonda toscamente desbastada estão entre as
mais procuradas. Existem de todos os tamanhos, desde a colherzinha ornamental,
à de tamanho médio e ao gigantesco colherão que se usava para mexer os
caldeirões dos bodos e ranchos.
Símbolo gastronómico por excelência, apesar
das desconfianças exprimidas pelos agentes sanitários da União Europeia, a
colher de pau continua a ter lugar garantido nas comunidades estudantis e nas
confrarias gastronómicas.
A colher de pau é desde a Idade Média o
símbolo das actividades gastronómicas, dos mendigos que de terra em terra
esmolavam e dos estudantes universitários sopistas (Léon Moulin, A vida
quotidiana dos estudantes na Idade Média, 1994, pp. 41-44 e 142-146; Jacques Le
Goff, Os intelectuais na Idade Média, 1990, pp. 42-44). Na cultura ibérica
católica esteve instituída até aos séculos XIX-XX a prática de ir às sopas aos
conventos, abadias e bodos festivos anuais. Alguns dos bodos mais aclamados
tinham lugar em Maio, durante os festejos do Divino Espírito Santo, cujo
programa oferecia aos irmãos, mordomos e passantes fortuitos pão, vinhos e
carnes guisadas. Nos conventos portugueses e espanhóis estava enraizada a
tradição da oferta de sopa a mendigos e estudantes. A distribuição de sopa aos
presos foi mantida em Portugal até à década de 1860 respectivamente pela
Misericórdia de Lisboa e Misericórdia do Porto, a primeira obrigada a dar caldo
aos presos do Limoeiro e do Aljube, e a segunda aos reclusos da Cadeia da
Relação. Um derivado tardio desta tradição, que ainda se avistou em algumas
cidades portuguesas durante a Segunda Guerra Mundial foi a “sopa dos pobres”.
Para se ir aos bodos e às
sopas conventuais era necessário andar munido de malga e colher de pau, ou ter
engenho e manha conforme ilustra o célebre conto popular da sopa de pedra.
Na Idade Média as profissões e oficinas
estavam organizadas por ruas e convenientemente identificadas com emblemas
postos às portas (tesoura do alfaiate, serra do carpinteiro). Certos grupos
sociais ou religiosos estavam constrangidos a exibir em local bem visível da
indumentária símbolos discriminatórios como a lua dos mouros, a estrela de
David dos judeus ou o cornicho dos maridos enganados. O símbolo dos mendigos
ambulantes, monges em missionação ou viagem entre mosteiros e estudantes era a
colher de pau. Esta tanto podia ser exibida na aba do chapéu, como no peito do
vestuário e nos cestos e alforges. Assim a desenhou Jerónimo Bosh na obra
“Viajante” ou “Caminho da Vida”, trabalho datável de 1500-1502.
Os sopistas espanhóis e os goliardos ou
bargantes portugueses não raro andavam à lebre, ou seja pediam esmola em comes
e bebes, calcorreando distâncias entre as Escolas Maiores e os conventos e
entre povoações. Tanger instrumentos, cantar anfiguris, parodiar sermões, fazer
malabarismos, cantar em verso facécias, cuspir fogo e exibir animais amestrados
eram sucesso garantido. Havia quem vendesse pseudo relíquias a incautos, como
falanges de Cristo, picos da coroa de espinhos, farpas da cruz e unguentos
miraculosos. Os tunantes espanhóis exibiam os seus dotes musicais, vocais,
oratórios e sedutores através do traje e das cantorias. Na aba do sombreiro ou
chambergo exibiam a colher de pau e o garfo sobrepostos, costume que no século
XIX passou para o bicórnio napoleónico.
O costume ibérico da colher de pau era
partilhado pelos estudantes de Coimbra. Em diversos tamanhos e formatos, a
colher sobreviveu a todos os movimentos abolicionistas. Com fitas multicolores
no cabo, carantonhas, emblemas pintados e legendas latinas na concha, até 1910
a colher desempenhou basicamente duas funções:
- símbolo dos estudantes
tunantes que a partir de meados de cada mês, por míngua da mesada paterna,
andavam à lebre, isto é mendigavam sopas e dormida a troco de momices,
cantigas, versalhada e venda de rifas;
- bastão ou ceptro dos
veteranos que nas paredes dos quatros de dormir e nos cortejos festivos
alegóricos exibiam enormes colherões, ora empunhados na mão direita ora alçados
ao ombro, na qualidade de bastões de mando e alabardas de gala.
Às duas funções enunciadas se veio juntar uma
terceira, por sinal menos honrosa. Com o abandono da palmatória em 1910, os
estudantes praxistas precisavam de um instrumento punitivo. Em substituição da
palmatória adoptaram a colher de pau, doravante associada às “unhadas”. Se a
palmatória era criticada, a colher não veio dignificar a situação, com a concha
côncava a bater no rebordo das unhas dos sancionados. Como substituto deste
instrumento, a praxe coimbrã admite o sapato. Em suma, ele houve tempos de
palmatoada e bolada, de colherada e unhada e sapatada."
António M. Nunes