O CALOIRO NÃO TEM DE TRAJAR PELA 1.ª VEZ, APENAS NA SERENATA MONUMENTAL
Nesta
altura do ano, altura das Queimas, continua ainda bem presente a ideia errada
de que é nesta altura, especialmente na Serenata Monumental, que os caloiros devem
trajar pela primeira vez.
Obviamente
que isso não apenas está errado como é um atentado à Tradição e uma noção
totalmente anti-Praxe.
Muitas
"casas" proíbem liminarmente o caloiro de trajar (pior ainda, quando
o fazem em razão da não participação em praxes - uma verdadeira aberração - ver AQUI)
até à sua 1.ª Serenata Monumental.
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Traçar da capa 2011 GDLp ESCE IPS |
O
N&M já explicou e provou que tal ideia é errada (ver AQUI,
sobre o caloiro que sempre trajou)
Contudo,
continua a maioria dos caloiros a só comprar traje por esta altura, para se
apresentarem na Serenata, à espera que seja o padrinho/madrinha a traçar-lhes a
capa (coisa que não fazem, porque estupidamente alguém lhes disse que não o
podiam fazer antes, nem sozinhos).
Noutros
casos, os caloiros não estão proibidos de trajar, mas também ninguém os
incentiva a trajar antes, subsidiando, no fundo, a ideia de que a altura mais
apropriada para o fazer pela primeira vez é na Serenata Monumental.
Releva isso de uma enorme hipocrisia, pois não basta não proibir, deixando implícita
e inconscientemente no imaginário colectivo que giro giro, que fica bem e
melhor, que é mais adequado trajar só naquela noite.
E
nisso, os organismos de Praxe são coniventes e cúmplices, achando que lavam as
mãos (e respeitam mais a Praxe) e ficam impunes só porque não proíbem os caloiros
de trajar.
Sabendo
nós que estas coisas dos ritos são um fenómeno de grupo, e não havendo quem
esclareça objectiva e formalmente, não dizer nada é o mesmo que consentir e
aceitar (e passar essa ideia) de que há uma altura definida para usar o traje
pela primeira vez.
No
fundo, esse "silêncio" apenas induz as pessoas numa suposta liberdade
que é, contudo condicionada. São, portanto, livres de comprar na altura da Queima
-e para usar na Serenata (e os caloiros acham mesmo que estão a optar).
Sim,
o caloiro é livre de só querer comprar o traje nesta época para usar para a
Serenata, mas convenhamos que quando o que se regista é que todos, ou quase
todos, o fazem só nesta altura, é porque por detrás de tudo isto está uma ideia
feita, construída sobre um erro - e essa "liberdade" acaba por ser
muito pouco espontânea e muito pouco livre.
Assim, participar, promover ou divulgar eventos do "traçar da capa"
(ver AQUI)
é defender um preconceito que, na essência, é anti-Praxe, sejam os caloiros
proibidos de trajar antes ou não.
PRAXAR CALOIROS TRAJADOS
Por
detrás de tudo isto (com base nessa idiotice de que os caloiros não devem/podem
trajar) está muitas vezes outro erro concebido pelos próprios praxistas: mas,
afinal, como é, depois, praxar caloiros trajados?
Como
o traje é, hoje em dia, já não um traje de uso comum, mas apenas tirado do
armário (salvo tunos e outros em actividades cujo o traje é de uso mais
regular) em determinadas, e escassas, ocasiões, quase sempre ligadas ao gozo ao
caloiro, é normal que o mesmo seja tido como sendo de uma intocável "sacramentalização".
Obviamente
que, como todos nós comungamos, o traje merece todo o respeito, desde logo
porque se deve usar com aprumo e limpeza, pelo que inconcebível andar a
sujar-se um caloiro trajado ou pô-lo a rastejar, andar de quatro e quejandos.
E
com muita razão, diremos nós, pese embora não nos podermos esquecer que o
uniforme estudantil serve também para ir às aulas, porque a sua função primária
sempre foi essa, identificando o estudante como tal.
Mas
perguntemos: não eram os caloiros, antigamente, praxados e usavam traje? Claro
que eram, e assim o foram durante décadas e décadas.
Porventura
o que difere é que o gozo ao caloiro não passava por certas actividades a que
hoje quase se resumiu o gozo.
O
gozo ao caloiro tem necessariamente de implicar sujar o caloiro, pô-lo a rastejar
e submetê-lo a actividades que impliquem deixá-lo num farrapo de sujidade?
Não
será de parar e pensar se, porventura, as actuais práticas do gozo ao caloiro
não estarão, já, demasiado longe do que era suposto, saindo, muitas delas,
completamente fora do que é apropriado e adequado ?
Não
será de reflectir se, tendo de praxar caloiros trajados, durante o gozo, isso não
obrigará os praxistas, a pensar com mais criatividade, com maior civismo e
respeito o acto de realizar o dito gozo?
Não
será de redescobrir como era o gozo ao caloiro noutros tempos, optando por
propor brincadeiras que sejam capazes de melhor dignificar quer esse acto quer
o respeito pelo uniforme estudantil?
Tirando
os actos mais bárbaros (que não se justificam de todo), não eram os caloiros,
no passado, rapados, sujeitos a colheradas, gozados...? Eram,
claro que sim!
E
não usavam todos traje? Claro que usavam!
O
que se passa, então, para, de repente, já não ser possível ter um gozo ao
caloiro feito com inteligência, pertinência e graça que seja compatível com o
uso do traje por parte do caloiro? Houve retrocesso intelectual?
O
uso do traje deve ser subordinado ao tipo de gozo que se pratica? Não será isso
um total contra-senso?
É
que, de facto, quando os praxistas só concebem praxes com base em brincadeiras
que implicam sujar terceiros, colocar pessoas de quatro, a rastejar, a levarem
com porcarias (muitas vezes com um ofensivo desperdício de bens alimentares), transformando o gozo em recrutas mal amanhadas ou provas de duvidoso mérito praxístico, continuaremos convictos que os problemas da Praxe e das praxes continuam alimentados por pessoas que não têm 2 dedos de testa, e que usam as suas poucas
capacidades intelectuais para o desperdício de serem parvas.