quarta-feira, março 07, 2012

Notas ao Centenário do OUP




São 100 anos de história, e estórias mil.
O OUP será, porventura, a maior, e mais prestigiada instituição cultural/artística académica do país, a par com o orfeão Académico de Coimbra (e os Antigos Orfeonistas), a TAUC (como grémio associativo) e os Antigos Tunos da TAUC.

O OUP prestou ao país e aos estudantes, nomeadamente na região do Porto, um serviço benemérito e de valor inigualável.
Merece o respeito, justifica-se, até, a inveja de quem, como eu, nunca teve a sorte de pertencer a um organismo assim (pois nunca fui estudante do Porto).

No que concerne à comunidade tunante, bastaria apenas referir que é pela mão do OUP que se introduz em Portugal o conceito de Festival de Tunas, sendo o seu certame o mais antigo do país.
Já a sua Tuna, embora mais antiga que o Orfeão, foi, desde sempre, uma das suas mais prestigiadas facetas, sendo a TUP, a par com a TAUC e a Tuna do Liceu da Évora, as mais antigas agremiações tunantes académicas do país.

Entre muitos e muitos galardões, recebeu a  Medalha de Ouro de Mérito Artístico da Cidade do Porto, a Comenda da Ordem de Benemerência (assinalável esta distinção) e a Comenda da Ordem de Instrução Pública (pelo seu papel  na divulgação da cultura portuguesa junto das populações mais isoladas, bem como no estrangeiro). Poucos se podem gabar de tal, a sublinhar, precisamente, o impacto e o mérito do Orfeão, muitas vezes, e injustamente, esquecido, menorizado ou relativizado.


A actividade do OUP não se ficou pela simples performance artística per si, pois o seu altruismo, generosidade e sensibilidade pelo meio onde se inseria, levou a que muitas ambulâncias fossem compradas com o dinheiro angariado nos espectáculos, muitas igrejas ou instalações paroquiais fossem recuperadas, a um sem número de agremiações culturais pudessem ser  reestruturadas, reequipadas ou vissem realizado o sonho de uma nova sede.
Quantas gerações ali fizeram/iniciaram a sua formação artística , ali beberam valores e saberes que nenhum dinheiro paga, ali encontraram uma família de muitas gerações, de muitas histórias, de muitas glórias e passado ilustre?

Podem orgulhar-se todos os que contribuíram para estes 100 anos de história, tal como todos nós que apreciamos o trabalho bem feito e sabemos reconhecer o méritoa quem o tem, de facto, nos orgulhamos de ainda ter instituições neste país que produzem com qualidade, muitas vezes sem subsídios, sem apoios, e quase sempre na abnegação e gratuidade dos seus componentes.

Parabéns OUP!


8 comentários:

António Pedro disse...

Apenas uma correcção: o "grémio associativo" de que fala não é exactamente a TAUC mas sim a própria AAC, que engloba, para além do Orfeon, muitas outras instituições, como o Coro Misto, a Secção de Fado, o TEUC, o CITAC (e podíamos continuar por aí fora) que são verdadeiros motores culturais da cidade de Coimbra, da região e do país. Resumir a missão cultural da AAC à TAUC (que muitos méritos tem, sem dúvida alguma) e ao Orfeon (igualmente) parece-me inexacto e bastante redutor.

De resto, está obviamente o Orfeão de parabéns. Uma enorme instituição, sem dúvida.

J.Pierre Silva disse...

Caro António,

Convém diferenciar um Orfeão de uma Associação Académica. A AAC nasceu com um propósito que não artístico, já a TAUC sim.

A TAUC é um grémio, na medida em que não tem apenas "Tuna", mas engloba um conjunto de grupos (orquestra, rags, fados....).
Aliás, essa noção de grémio é herdada do séc. XIX e inícios do XX em que as Tunas englobavam outras valências, como grupo cénico, fados, declamação de poemas, solos de instrumentos que não compunham a Tuna propriamente dita (piano, oboé.....).
Aliás, tanto é assim que, se formos puristas, a TAUC há muito não tem Tuna, mas sim uma orquestra, pelo que a designação Tuna assume, como no passado de antanho, uma abrangência mais lata, ao nível de ateneu, grémio, associação cultural, na qual se desenvolvem muitas diversas expressões artísticas.

Abraço

António Pedro disse...

A Associação Académica de Coimbra (1887) remonta à criação da Academia Dramática de Coimbra, que data de 1867. Assim, como pode ver, os primórdios da Associação Académica de Coimbra nascem de uma actividade cultural que é o teatro. Em conjunto com o nascimento do Orpheon Académico de 1880, com os relatos de um clube estudantil futebolístico em 1876 e das comunidade estudantis de produção literária é que a Associação Académica de Coimbra nasce, utilizando o seu pendor cultural como forma de representação estudantil e crítica social.

Pode argumentar que hoje em dia já não o faz como outrora o fez; no entanto, serve este comentário para corrigir uma imprecisão, quanto a mim, considerável, já que ao contrário do que acontece com a TAUC, há já largos anos que o Orfeon Académico de Coimbra se dedica apenas ao seu coro clássico (e fazendo-o muito bem). Na verdade, a instituição mais próxima do OUP que encontra em actividade na AAC é a "jovem" Secção de Fado, com três grupos de Fado e Canção de Coimbra, um grupo de folclore académico (a par com o OUP e com o Gefac os únicos em actividade), um grupo de música instrumental portuguesa, duas tunas (Estudantina e Estudantina Feminina) e Orxestra Pitagórica.

J.Pierre Silva disse...

Caro António,

Não se pode, nem deve, estabelecer a origem da AAC à Academia Dramática de Coimbra. São coisas distintas. A AAC nasce como organismo representativo dos estudantes com claro objectivo de ser uma forma oficial de defender os interesses dos alunos legal e formalmente.
Claro está que, como é natural, a associação tenha, ao longo dos anos, promovido no seu seio a criação de grupos culturais e artísticos, mas como núcleos.
A Secção de Fado tornou-se, a partir decerta altura, um "orfeão" dentro da AAC, mas sem autonomia total de que goza o OUP (sempre autónomo desde que existe).
Atente que a designação "Orfeão" ora se restringe á concepção de Coro, como se alarga à de "grémio".
A título de curiosidade, dizer que a TAUC, chegou a ingressar na AAC em 1899, para depois dela sair em 1891, alegando preferir ser autónoma. Em 1910, tocará em favor da AAC que estava a atravessar grave crise financeira.

Actualmente, a secção de Fado será o organismo cuja configuração está mais próxima do OUP, mas não em termos de funcionamento e autonomia.

Abraço

António Pedro disse...

Não podia estar mais em desacordo. Essa génese de que fala esbarra na actual configuração da AAC (actual, como quem diz: com pelo menos 30 anos), em que a Direcção Geral (o tal organismo que defende os interesses dos alunos legal e formalmente) é uma ínfima parte comparada com a representatividade e trabalho das secções culturais e desportivas da Académica, somado ao dos organismos autónomos e todos os outros grupos da academia. Do mesmo modo, o Orfeon e a Tuna, em conjunto com outros organismos autónomos, consubstanciam a missão cultural e a oferta extra-curricular dos alunos da Universidade de Coimbra. Dizer o contrário e exagerar sentidos etimológicos não traz verdade ao que está à vista de qualquer pessoa que estude em Coimbra ou conheça a AAC. Se em relação à Tuna posso conceder, é totalmente infundado que o Orfeon seja hoje um "grémio" destacado da restante AAC, como de resto já não o é há anos (se é que alguma vez o foi mais do que qualquer outra Secção ou Organismo Autónomo, apesar de se chamar Orfeon. O Orfeon Académico de Coimbra é conhecido entre os estudantes de Coimbra "apenas e só" (e já não é pouco) como um coro de referência: se não estou em erro o coro académico em actividade mais antigo da Europa; não como "grémio aglutinador" do que quer que seja, como de resto o confirmará qualquer pessoa que tenha estudado em Coimbra nos últimos 100 anos).

Não sei em que estudos se baseia para afirmar tão peremptoriamente que a Academia Dramática, o Orfeon e a Tuna não foram decisivos para a criação da AAC, mas sem querer que me leve a mal continuo a confiar nos meus. Se algum dia tiver a oportunidade de passar pela sala museu do Orfeon poderá confirmar que são duas instituições indissociáveis, e o mesmo se pode dizer da Tuna, cujo primeiro regente foi simultaneamente fundador da AAC. E o mesmo se aplica a todas as secções, organismos autónomos, praxistas ou não, cujo único "grémio aglutinador" é hoje, como sempre, a Associação Académica de Coimbra, de costas mais ou menos voltadas. A César o que é de César.

Paulo Martins disse...

Creio que é importante dissociar prestígio e mérito, da factualidade histórica.
Sabemos que bastam 100 anos para se poder enviesar o facto consoante a vontade interpretativa do mesmo. Talvez por isso se mantenham as eternas discussões acerca de fundações e respectivas datas sem que uma resposta cabal seja comumente aceite. A história, sendo uma ciência do passado apresenta aspectos ao nível da descoberta que a torna apaixonante e extraordinariamente dinâmica. Tantas vezes o que até hoje era dado como adquirido amanhã deixa de o ser. Basta vasculhar a gaveta de menino e comparar o meu livro da 3ª classe com os livros de história de Portugal do actual 1º ciclo. A ode, o feito, o super-herói português morreu logo após o 25 de Abril, para renascer um pouco mais pequeno mas totalmente construtor nos períodos pós adesão europeia.
O facto e a mentalidade andam de mãos dadas. Assim se criam os moinhos. O prestígio é um moinho de Cervantes para cada um de nós.

Posto isto, ao considerar-me previamente desculpabilizado, não irei deixar de opinar cavalgando o facto histórico, sobre o assunto que suscitou o contraditório.

As razões do étimo não constituem de per si facto. Sabemo-lo nomeadamente na tentativa de separação estrutural entre Tuna e Estudantina. Apesar de os mais distraídos correrem o risco de reflexivamente pensar que uma Estudantina é a Tuna de estudantes, hoje, até prova em contrário, sabemos que assim não é, aliás como o autor e gestor deste excelente espaço virtual já por diversas vezes documentou e atestou.

Entramos pois na questão do prestígio e do mérito. Do conceito e de quem é o quê.
Se o mérito não pode ser aferido em bases comparativas, ou se tem ou não tem, o prestígio fala diferente. Quem faz o que pode, a mais não é obrigado. Quem faz bem, deve ser reconhecido e merece o aplauso. Tem todo o mérito.
Quem se destaca, quem se projecta acima dos demais, quem por obras valorosas se liberta, quem é mais reconhecido e distinguido, quem consegue melhores resultados, quem ultrapassa o tempo, tem mais prestígio.
(cont).

Paulo Martins disse...

Ao colocarmos a par Instituições centenárias, deveremos faze-lo com base no mérito.
No caso do OUP é tal, que só o querer, a dádiva e o amor à causa o mantém intacto e resguardado na verdadeira babilónia associativa que é o Porto. Quando a inveja não é saudável, como a já aqui confessada, é obra, 100 anos volvidos, estar inteiro e enxuto. Mérito.

O prestígio do OUP é enorme. Derivado do mérito. O OUP é grande, destaca-se facilmente, tem excelência nas organizações e apresentações, é fiável e confiável. Tem berço. Serve e representa. É o orgulho associativo da UP, tantas vezes utilizado como argumento de contraposição em conversas de comparações académicas, mesmo por aqueles que lhe guardam mal. É, em suma, uma das maiores realidades colectivas associativas do País. Prestígio.

Coimbra é diferente. Cresceu diferente e pode ser diferente. Durante séculos foi formatada para tal. Em Coimbra, desaguou a juventude cultural de toda uma Metrópole e suas Províncias, onde todas as famílias para ela trabalhavam, directa ou indirectamente. Descontextualizar o movimento associativo português do passado socio-político e geográfico de Portugal e traduzi-lo em créditos associativos desta ou daquela Instituição é um profundo erro. As coisas não se colocam a par para além do mérito, quando a linha de partida tem uma décalage de séculos.

Também neste domínio, a referência, mesmo que de soslaio a estruturas de Antigos Estudantes de Coimbra, às quais com muito orgulho pertenço, como fontes de frutificação do movimento associativo, só pode ser entendida como reconhecimento de méritos e prestígios individuais, já que colectivamente fazer a sua elevação ao nível da essência do texto é completamente descabido. Não por demérito. Apenas e só pela sua finalidade.

Perceber que a UC estatutariamente concede à AAC a representação de todos os estudantes de Coimbra, bem como a define como “dela fazem parte todas as Secções Culturais e Desportivas bem como os seus Organismos Autónomos” é fundamental pra a troca de opiniões que aqui ocorre. Neste aspecto vejo-me inequivocamente tentado a concordar com o António Pedro quando recusa a separação do movimento cultural associativo de Coimbra, vendo a mesma ser baseada em datas, confluindo depois em méritos e prestígios diferentes entre protagonistas que cresceram, e assim continuam, a par dentro de paredes comuns.

Da mesma forma que nem todos os grupos que compõem a vasta panóplia associativa do OUP foram gémeos na respectiva fundação, também a AAC se compõe por grupos associativos, numa constante dinâmica de vida e morte que a traduz geracionalmente. Poderia citar os extintos Organismo de Fado Académico, o CELUC ou ainda a Secção de Futebol , a de Hipismo, a de Automobilismo ou a de Aeronáutica. Pelo contrário, a AAC deu à luz, a AAC/OAF, a Secção de Direitos Humanos, de Escrita e Leitura ou a de Astronomia.
Certo, certo é que a AAC é o motor associativo da Academia de Coimbra desde 1887 assim como o OUP o é, no Porto desde 1912. Ambos com todos os seus componentes e em todas as suas valências. No caso com igual mérito.

Saber reconhecer as diferenças que são colossais também é fundamental. O OUP encarregou-se da vertente cultural da Academia do Porto. O CDUP da desportiva. A AAC encarregou-se de tudo. Até ver, com muito mais prestígio. Reconhecidamente.

Um abraço

Paulo Martins

p.s. – recomendo a leitura da intervenção do Conservador da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Professor Doutor Carlos Fiolhais, na Sessão Solene da Comemoração dos 120 anos da AAC.

https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:HJi8fKbWw7MJ:estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/12336/1/AAC%2520-%2520Cultura.pdf+&hl=pt-PT&pid=bl&srcid=ADGEESj12nMf5ZKKitestURixozNlc5xehL1EiRfK-VskonR19xLzz24iINuVz-q1PNbXpd_5VbJ6OFCbSlW3-qyy_JlpO89DAY_GTuSN5Pge4ZkJ5AYIG20Xaz8NCDQj1MUoQKsRZYE&sig=AHIEtbQF3EhbXOb0jL6rM3yGPvPcXcyiNg

Eduardo disse...

Como antigo elemento do OUP e integrando a AAOUP, agradeço as tuas simpáticas palavras.

Forte abraço,

Eduardo