Este artigo já há muito que o devia a mim próprio e aos leitores do blogue.
Já por diversas vezes aqui se falou sobre a praxis de emblemas, pins... mas nunca tínhamos abordado uma outra questão, porventura de pormaior importância: o papel das lojas e empresas dedicadas à confecção e/ou venda de artigos académicos.
Floresceram nos anos 90, acompanhando o grande “boom” das tradições
académicas e das tunas e oferecendo, quais hipermercados, artigos a um preço
bem mais acessível – e a concorrência acabou por beneficiar o consumidor final
(ainda que, muitas vezes, à custa da qualidade, diga-se, em abono da verdade).
Antigamente, os trajes adquiriam-se em alfaiatarias ou modistas; depois, em
lojas de pronto-a-vestir comuns. Sapatos, esses, numa sapataria, obviamente, ao
contrário do que hoje se torna comum: as lojas também os fornecerem.
Hoje massificou-se o negócio, a que se colou uma parafernália de acessórios
tão inúteis quanto ridículos.
Nada a obstar, até aqui, excepto, precisamente, o que ainda agora acabámos
de dizer: a venda de artigos cuja utilidade e pertinência é nula.
Cada um tem de fazer pela vida, é certo; mas um negócio sério deveria ser
mais respeitador das tradições, evitando adulterar as mesmas a pretexto de
lógicas comerciais que transforam a seriedade e sobriedade num verdadeiro
carnaval. Não é bem um vender "cavalo por vaca", mas disponibilizar ambos por atacado.
O resultado está bom de ver: às custas da tradição que se deturpa e, por isso, delapida, enchem-se as caixas registadoras dos euros ganhos a venderem pseudo-pastas da praxe para finalistas; fitas de finalista sem pés nem cabeça (estampadas, com desenhos…e às dezenas); emblemas sem fundamento algum; “penduricalhos”, como as famosas “madeirinhas”, que são mais um adorno vazio de sentido... tudo contribuindo para a Praxe se vá progressivamente tornando num verdadeiro carnaval e feira de vaidades.
Têm as lojas culpa nesse corso carnavalesco?
Têm, claramente, ao colocarem no mercado artigos que os códigos (pelo menos os mais sérios) e a
Tradição não contemplam, lado a lado com o que é autêntico e tradicional; ao
venderem sem aconselhamento, sem procurarem, seriamente, respeitar a Tradição ou informar-se sobre a mesma (mesmo se sabemos que, algumas vezes, seguem código, eles próprios, pejados de artificialismos estapafúrdios).
Mais espantoso e digno de censura se torna quando algumas dessas casas
comerciais foram fundadas e são propriedade de antigos veteranos e pessoas que
desempenharam cargos de responsabilidade em Praxe.
Não têm que olhar à Tradição, pois as lojas não são organismos de Praxe,
responderão, e bem. Certo. Não são, de facto, e, desse ponto de vista, nada a
acrescentar. Mas perguntaríamos então, de onde provêm as pastas de finalistas e as fitas estampadas ou desenhadas (pois não consta que fossem iniciativa estudantil - legislada em código)? Se não são organismos de praxe, por que razão apareceram certos artigos (madeirinhas, certos emblemas, pastinhas de finalista e outras tretas......) que nunca foram contemplados autorizados ou criados no foro estudantil? Afinal quem dita a Praxe? Afinal onde mora a culpa de certas "invenções"? E depois querem fazer crer que é tudo "da Praxe"? Da "praxe" de quem?
Por isso importa falar de ética e seriedade no respeito por uma Tradição de que se aproveitam comercialmente.
Por isso importa falar de ética e seriedade no respeito por uma Tradição de que se aproveitam comercialmente.
E no que toca a ética... não devemos estar muito longe da verdade se
dissermos que não há uma loja no país que não tenha telhados de vidro. Mas
quando são os próprios estudantes que atiram pedras aos próprios sapatos… até
“percebemos” que as lojas sacudam a água do capote, nesse capítulo, pois se os protagonistas
comem e calam… alguém tem de lhes dar de “comer”.
Seja como for, se os estudantes têm culpa no cartório pela sua falta de critério, as lojas e empresas que se dedicam a este tipo de comércio não saem de todo ilesas, ao terem inundado o mercado de acessórios que vendem, muitas vezes, com argumentos ou justificações erróneos.
As seguintes imagens são de algumas lojas que têm página na Net (muitas outras não têm), onde
podemos ver os tais artigos à venda, confirmando o que acima expusemos (imagens a que colocámos jocosamente o "selo" de "Not Approved", para que o leitor possa perceber que "nem tudo o que luz é ouro", como diz o chavão).
Respeitamos e compreendemos a lógica comercial e a eficácia do cross merchandising.
Entendemos, no
entanto, que estes estabelecimentos podem e devem ter, também, uma função
pedagógica, ajudando a separar o trigo do joio; o que é essencial, do que é
acessório; o que é Tradição do que o não é.
As
nossas portas estão, como sempre estiveram, abertas para ajudar e aconselhar,
dentro da modéstia dos nossos conhecimentos.
10 comentários:
Ora aqui está um texto que merece reflexão por parte de todos nós. É certo e sabido que, em grande parte dos códigos de praxe que se prezam, muitos desses "adornos" são considerados uma autentica disfunção cerebral. Uma forma promiscua de "ganha-pão" das tão merecedoras casas cuja praxe é centeio.
Porem, na minha opinião, não sao so "eles", os vendedores/exploradores, que têm culpa. Mea culpa têm tambem as ditas comissões de praxe, ou orgâos que a tutelam. Fazer vista grossa e deixar passar é o primeiro passo para que mais tarde se passe a considerar "tradição" vulgos emblemas, distintivos, pins e miniaturas que nada mais acrescentam senão numero e mau gosto.
Estou a dirigir-me a vós, leitor/estudante, para que ensine os seus colegas e caloiros, o verdadeiro significado dos simbolos e, numa ideia subjacente, desmaterializar objectos superfulos, numa especie de "embargo" ao mau producto.
Fazendo analogia ao texto, deixemos de comprar carne de cavalo, na esperança que voltem a fornecer picanha.
Saudações Académicas!
o Dux-Veteranorum da UCP-CRB Carlos Carvalho
E o problema não se esgota no desvirtuar dos rituais académicos, há uma abismal diferença de qualidade, seja nos tecidos seja nos sapatos entre as diferentes casas de vendas de trajes. Desde o traje composto por tecido asiático com oferta do sapatinho de plástico, à qualidade de um artigo nacional com sapatos em pele. E por meia duzia de trocos há associações (felizmente só algumas) que remetem os seus associados para quem menos qualidade oferece, subalternizando-se à mesma lógica comercial que o autor do texto imputa às diferentes casas de venda de trajes académicos. Então que diferença essencial existe entre ambas?
Saudações
M. Bernardo - Alumni FCSH-UNL
Estranho... a empresa que comercializa os trajes académicos de mais baixa qualidade, seja em tecidos seja em sapatos não aparece nos cartazes "not aproved" neste texto. Parece estarmos perante um ensaio de publicidade subliminar, será? Gostaria de pensar que não, no entanto fica bem claro que os interesses comerciais deste mercado não se esgotam nas casas de venda de trajes académicos. Coerência, pede-se!
A. Bernardo
Alummi FCSH-UNL
Caro Gansolino,
O artigo não tem como função elencar todas as lojas ou fazer um qualquer index inquisicional.
Não queremos, nem podemos, visitar todas as lojas que existem no país, daí que escolhemos, em primeiro lugar, as que detinham informação sobre os produtos vendidos, na Internet, aproveitando as imagens que as próprias forneciam ao público.
O artigo é um alerta e os casos concretos são apenas ilustrativos. Ficaram outras tantas lojas de fora? Certamente, mas não deixámos de apontar que nenhuma escaparia (" no que toca a ética... não devemos estar muito longe da verdade se dissermos que não há uma loja no país que não tenha telhados de vidro.").
Se há lojas que vendem material de fraca qualidade, há; e isso também o apontámos. Mas daí a andarmos a fazer um ranking de lojas com base no teor/gramagem/onças de tecido X ou Y......
Além disso o artigo foca algo distinto: o que é vendido como sendo pela Praxe e, afinal, não é.
Se um estudante compra trajes de tecido fraco, pois isso não vai de ser ou não ser da Praxe, vai, isso sim, de escolhas segundo a carteira de cada um. Se compram sapatos de plástico, isso vai da burrice de quem não sabe escolher sapatos e não se é da Praxe.
Mas o Gansolino está no seu direito de aqui nos trazer o nome dessa loja, para que os leitores a tenhamn também em conta.
Acusar-nos de publcidade subliminar é que me parece exercício néscio e de quem não parece muito familiarizado com este blogue e com a sua forma de ser e estar neste meio.
Cumprimentos.
Caro WB, tem razão, o meu post anterior não devia ter sido publicado pois eu próprio quando o escrevi não tinha reparado que essa mesma loja afinal aparece no elenco "not aproved". Uma desatenção grave que eu assumo. Ainda o apaguei e sinceramente, julgava não ter sido publicado. Mea culpa.
Os meus melhores cumprimentos,
M. Bernardo
Vou falar do caso mais "alarmante" em Coimbra: A Toga.
1º Não tem multibanco.
2º Se pedir factura, não é visto com bons olhos.
3º Há "packs (inúteis) oferta" se comprar isto e aquilo.
4º Faculdades com 2 cores: grelo = 2 fitas. E insistem que é assim porque está em fotos antigas de livros conceituados.
5º Insistem em vender o colete às raparigas para usar em dias mais frios.
Meu caro, se a Toga é caso alarmante em Coimbra, então venha para Lisboa para ver o que é bom.. A Toga ainda é,pelo reporte que tenho, das poucas que não vende gato por lebre aos estudante, pois os tecidos são de qualidade. Pode ser um pouco mais cara, mas a diferença é visível. Quanto ao multibanco tente consultar no site da Unicre os valores das taxas a pagar aos bancos, ficará certamente com uma ideia diferente da que tem. Relativamente às facturas, com boa ou má cara têm que as passar. Nós não vamos à loja para fazer amigos, vamos para comprar um traje. Se o comerciante fica com má cara é problema dele.
Quanto à falta de qualidade dos artigos,tenho tido os piores reportes da Copitraje e da Tugatraje, que empregam tecidos de qualidade inferior nos seus artigos associado a um marketing de vendedor de feira: ...dois emblemas pelo preço de dois.. fantástico, não perca esta promoção! Acaba por ser um atestado de imbecilidade que é passado ao cliente, mas o cliente ao que parece gosta. Uma delas inventou recentemente....o pom-pom para a capa. No comments. Está inventado o pom-pom académico! Sugeria então a camisinha académica, com um sensor que no êxtase despoletasse um valente FRÁÁÁ !!
Nota negativa para as Associações cúmplices desta situação, deveriam ter alguma vergonha.
Desejo um bom dia e uma fantástica Páscoa ao autor e a todos os leitores do Blog. Como gerente de uma casa que vende trajes académicos, tenho o dever de dizer algo acerca do papel pedagógico que estas deveriam ter: eu, na minha loja vendo o que os clientes me pedem! E quando o pedem é porque a sua associação ou estabelecimento de ensino que frequentam lhes disse que o deveriam fazer. Não nos compete decidir o que é Tradição ou não na medida em que são os próprios alunos que nos vêm pedir um determinado artigo. Nós recebemos resoluções das Associações Académicas e não as discutimos. Tentamos adaptar o nosso artigo ao que a associação pede. Que papel seria o nosso em tentar demover o cliente da compra de um artigo que todos os alunos da sua Universidade ou curso têm como adquirida, em prole de outro porque não é da Tradição ou porque a Tradição se foi dissolvendo? Os órgãos de Praxe é que têm que se pronunciar sobre isso e estar muito atentos. Por isso é que são órgãos de Praxe.
Aqui só se vende o que o aluno pede. E se o pede é porque alguém lhe disse para o fazer. No entanto é uma ajuda preciosa poder contar com algum esclarecimento seu. Este blog foi –nos recomendado por uma das mais antigas associações académicas de Lisboa.
Na minha modesta opinião, seriedade comercial e oportunismo são medidos pela dignidade do tecido com que os trajes são produzidos, pela dignidade do calçado, do cetim das fitas, até porque a qualidade já não depende da carteira de cada um, este é um mercado que está regulado quanto a preços. O pessoal é que anda pouco atento.
Os meus melhores cumprimentos
Marçal
Desde já obrigado pro nos seguir e pela sua participação.
Esclarecer que se só vende o que os clientes lhe pedem, partindo do pressuposto que estão de acordo com as suas respectivas entidades reguladores, pois muito bem.
Mas o facto é que os casos que enunciamos não se podem escudar nesse argumento.
Existe, deontologicamente pelo menos, o dever de quem se dedica exclusivamente a este tipo de comércio, em estar informado sobre o que diz o respectivo código (e quando não o que dita a tradição).
Não sei se todas as lojas recebem informação ou indicações dos respectivos organismos estudantis que regem a Praxe, mas garanto-lhe que muitas não recebem, assim como algumas fazem vista grossa a isso.
As restantes, dentro do leque do que conhecemos directamente (quer por contacto pessoal, quer por testemunhos e relatos) está-se literalmente nas tintas.
Veja o caso das fitas de finalista nas suas versões timbradas, estampadas e quejandos. Em que código isso está definido? Quem autorizou? Melhor: quem inventou isso e depois fez “franchising” ao país inteiro?
E as “madeiras” (miniaturas) quem as inventou? Em que código estão contempladas?
E os emblemas que se vendem, alguns dos quais este artigo ilustra? De onde vêm? Quem os permitiu?
Existe muito produto que resulta de uma lógica meramente comercial, uma “praxe comercial” que coloca à venda produtos que são unilateralmente uma “proposta” exógena aos estudantes, aos códigos de Praxe, à própria tradição.
Inunda-se o mercado com produtos que se disfarçam de “secundum praxis”, como sendo “apropriados” escusando-se depois a culpa de certas mega-empresas na lógica da oferta e da procura, quando são essas empresas a criar a procura, muitas vezes jogando nas entrelinhas do que é permitido nos códigos de Praxe (ou fazendo literalmente vista grossa).
Não sei se culpa dos retalhistas se de quem os fornece, mas a verdade é que há muita publicidade enganosa nesta área.
Se há comerciantes honestes (que os há), também há quem não lhe a meios para atingir fins, nem que isso signifique vender gato por lebre, ao mesmo tempo que também oferece coelho genuino.
Os organismos de Praxe deveriam estar mais atentos, isso é facto, mas isso é apenas o outro lado da questão. Desta feita o artigo foi para lado da moeda onde estão os comerciantes, os que vivem do negócio das tradições académicas.
Quando diz que o mercado está regulado, ficamos bem mais descansados, embora sempre cientes que haverá sempre quem até a isso consiga fugir.
Abraço
Boa noite, estou a comentar para fazer um simples reparo ao anónimo que falou da Toga em Coimbra.
Há faculdades em coimbra que têm sim 2 cores e os grelos não só devem de ter 2 cores como isso está mesmo escrito no código da praxe da UC.
Até lhe deixo aqui o Artigo em que isso mesmo vem descrito:
Artigo 263º
Os portadores de insígnias pessoais usá-las-ão com as cores das respectivas Faculdades que são:
a) Faculdade de Medicina: - amarela
b) Faculdade de Direito: - vermelha
c) Faculdade de Ciências e Tecnologia: - azul clara (Licenciaturas), azul clara e branca (Engenharias, Matemática e
Arquitectura)
d) Faculdade de Letras: - azul escura
e) Faculdade de Farmácia: - roxa
f) Faculdade de Economia: - vermelha e branca
g) Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação: laranja
h) Faculdade de Ciências do Desporto e Educação: Castanho e Branco
Quanto aos coletes na UC só compra quem quer porque como as raparigas devem ou deviam saber o colete na UC é proibido. Quanto à maioria dos politécnicos, o colete é opcional sendo opção de aproximadamente 99% das raparigas usá-lo.
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