sábado, outubro 28, 2017

Notas a uma entrevista furada (praxes académicas- SIC, 2017)




Este é mais um triste exemplo de como a desbragada procura por 5 minutos de fama televisiva leva pessoas inaptas, totalmente desprovidas de senso, a prestarem-se a um triste espetáculo, onde nada mais fazem do que dar tiros nos pés e, assim, mancharem a já muito debilitada imagem do estudante e suas tradições.

 
Desde logo a estudante que se apresenta travestida de traje. Travestida porque não se percebe todo aquele folclore carnavalesco de colheres (pintadas ainda por cima), de pins na lapela e com uma capa cravada de emblemas sem qualquer nexo (que mais parece uma ilustração de um livro do código da estrada).
O facto de se apresentar de gorro dentro de um estúdio de televisão evidencia, também, essa falta de noção e de boas regras de etiqueta e educação.

Não precisava a aluna de abrir a boca sequer, quando a imagem que apresentou já tinha dito tudo.
Nada mudou pelas bandas do ISCSP, desde que analisámos aqui o seu código de "praxe".


Quando abre a boca para falar do que é Praxe, com esses clichés gastos de integração e transmissão de valores (quais valores?) ................ apenas traduz sonoramente o que os olhos já tinha depreendido.

Mas o que é simplesmente escabroso, da parte dela, é o relativizar do conceito de humilhação, achando poder deturpar o seu significado, atirando postas como ser difícil falar de limites ou de abusos, ou mesmo o que é haver uma praxe abusiva.
Chega a ser ofensivo á inteligência humana que uma aluna universitária tenha esse tipo de argumentos e creia não ser possível haver consenso sobre o que é um acto de abuso ou humilhação.

 
O estudante que se apresenta naqueles preparos, está exactamente na mesma linha.

Falar alguém cuja indumentária é, ela própria, inequivocamente, um desrespeito à tradição académica e à cultura portuguesa, deixa logo antever que dali não se espera grande coisa. E quando, ainda por cima, temo-lo a usar braçadeira, tipo força policial ou uma qualquer polícia política de antanho ............... percebe-se desde logo o tipo de concepção de praxes que reina naquela instituição.


Achar que alunos de uma creche pintarem caloiros faz desse acto algo mais aceitável ou desresponsabiliza os praxistas é néscio. Pintar caloiros, não sendo uma coisa ostensivamente afrontosa é, por exemplo, tradição que nunca foi permitida em Coimbra, berço das tradições e da Praxe.

Referir "praxes solidárias" para passar uma imagem de gente porreira é falacioso. Praxe e solidariedade são coisas diferentes. Praxes solidárias não existem, não são Praxe. Mais uns a querer "tapar o sol com a peneira".
 
A questão da lama é de um supremo ridículo. Só porque o praxista não se importa de se sentar na lama isso justifica que os caloiros o façam ou seja menos inadequado?
Alguém no seu perfeito juízo sequer convida colegas a sentarem-se na lama?

Um estudante que reconhece que quando foi praxado sangrou do joelho (e nada disse, na altura, por medo), acha que isso é experiência positiva para futuro? É sequer normal que caloiros andem de joelhos, quanto mais daí resultar lesões?

E quando ele afirma que não é por ter uma matrícula a mais ou ser mais velho que os vai mandar ao chão, ao invés de dizer que não o faz e não permite tal (na qualidade de Dux), apenas reconhece que isso existe (se faz) e que serve para "mostrar uma experiência".

E justificar que condicionar as pessoas faz bem (como ele pretende que lhe fez bem a ele) é de uma parvoíce total.

Todos sabemos bem como funcionam as coisas por lá. E quem não sabe, ficou esclarecido com o discurso.

Lamentável que quem exerce o cargo de Dux, se desculpe das praxes abusivas afirmando que está ali não a defender as praxes,  mas a defender "a sua praxe", o que ele faz individualmente (nem sequer se refere ao que se passa na sua instituição, ele, como responsável de todas as praxes perpetradas por alunos do IADE).

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Obviamente que os outros dois convidados estiveram bem. Não era preciso muito, aliás, para isso suceder.

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Já o caloiro ("Tarzan") que ali se apresentou com um pedaço de cartão ao pescoço, apenas contribuiu para afundar ainda mais o barco. A que propósito é preciso ter-se um n.º de emergência nas costas do cartaz?
Qualquer pessoa depreende naturalmente que se isso acontece é porque há a hipótese de algo correr mal. Essa é a mensagem que passa. Afinal, as praxes não são aquilo que ali tentam desajeitadamente pintar aqueles 2 estudantes.
Já o que o rapazito diz............é argumento ao nível de aluno do 2.º ciclo.

 
 
 
CONCLUSÃO

 
Mais uma vez, não vale a pena arranjarem-se desculpas de que a culpa é da comunicação social, de que quem conduz a entrevista não é isento, de que não se devia discutir estes assuntos neste ou naquele programa.

Parem com os choradinhos infantis, com as teorias persecutórias e as desculpas de mau pagador.

Estes assuntos devem ser discutidos e ainda bem que há oportunidades para tal.
São é oportunidades muito mal aproveitadas.

O que se espera de qualquer estudante universitário é que seja capaz de ter um discurso à altura das circunstâncias, seja em que programa ou situação for.

O que se espera de quem vá falar de praxes, de Praxe ou de motociclismo é que saiba do assunto, seja uma pessoa preparada e conhecedora, que saiba esgrimir o tema -  resultante de algo mais do que empirismos sazonais.  

Uma vez mais, foram apenas, e só, os praxistas ali presentes que deram cabo de tudo; que, para além de exporem as suas fracas competências nestas matérias (e em termos de oratória), contribuíram, com mais esta ocasião, para transmitir uma imagem paupérrima do estudante universitário, das suas tradições (quando não ridícula pelos exageros cénicos do/no traje).


Ajudaram, isso sim, a vincar ainda mais, na opinião pública, a falta de justificação para praxes, vincar ainda mais nos espectadores que, com chavões embrulhados de meias palavras e argumentos curtos, se está a esconder e disfarçar o que de facto ocorre.
 
Não é assim que se credibiliza e se recupera o respeito da opinião pública, em torno das questões das praxes.
A atitude de sacudir a água do capote, de atribuir aos outros o que de mal se faz ou simplesmente relativizar é apenas confirmação de um estado de negação (adornado de vitimização).

Mas quando as pessoas nem sequer sustêm os ímpetos, perante a possibilidade de ir à televisão, sem sequer procurar reflectir se têm aptidão e estaleca para assumir tal papel, sem sequer ponderarem que, afinal, pode até ser melhor não se exporem ........... claramente que não se pode esperar nada de bom.

É assim que se facilita a vida aos anti-praxes, que nem precisam de se mexer, tal é o fervor com que os praxistas se encarregam de destruir e ridicularizarem o que dizem defender.

 
NOTA: discussão em "Tradições Académicas&Praxe"