No meu tempo, na altura da recepção aos caloiros, dois eventos marcavam os pontos altos de tal calendário: o Julgamento do caloiro e, depois, a latada e baptismo dos caloiros
O Julgamento do Caloiro era nada mais nada menos do que uma paródia, uma encenação, na qual os doutores rivalizavam em criatividade retórica e literária, com textos cómicos, simulando um tribunal cujo objectivo não era praxar propriamente, mas fazer rir a assistência (caloiros incluídos, que assistiam a par dos doutores).
Era um momento de boa disposição, com os caloiros presentes nas primeiras filas e, alguns, no papel de actores involutários (para se sentarem, en nome de todos, no banco dos reús, respondendo a perguntas estapafúrdias de que nunca sabiam a resposta ou davam respostas erradas).
Textos bem ensaiados, uma representação digna dos melhores sketches, onde o Caloiro era o centro das acusações e a defesa esboçava uma tentativa vã de defender os novatos, mas acabando por também os acusar ao manifestar a impossibilidade de defender o indefensável e transformando a argumentação da defesa em claras contradições que punham todos a rir.
Especialistas vinham com suas teses sobre a evolução do caloiro ou sobre outros aspectos (textos de autores da literatura, devidamente alterados, teorias científicas aplicadas a caloiros....), advogados com eloquentes textos truncados, cheios de palavras caras, juízes em claro conluio com a acusação, testemunhas a apresentar factos qual deles o mais inverosímil.........
Era gargalhada pegada durante cerca de 2 horas, fruto da mestria de quem elaborava os textos e representava o seu papel, digno dos melhores actores e de um óscar da Academia.
Deixo aqui, à laia de exemplo, 3 textos (com autoria de Jean-Pierre Silva): dois do libelo acusatório (advogado de acusação/promotor público) e 1 da defesa, utilizados em julgamentos no início dos anos 90. Segundo o mesmo, havia muitos outros (os dos especialistas, das testemunhas, dos juízes.....), de que se perdeu rasto.
Riam à vontade, imaginem a teatralização e a boa disposição daí resultante:
--------------------------------------------
TEXTO DA ACUSAÇÃO (VERSÃO 1)
Em libelo acusatório contra os arguidos aqui presentes, a
comunidade académica apresentou queixa ao Conselho de Reitores e de Veteranos, que
remeteram este processo para o Ministério da Praxe. Após parecer favorável da Procuradoria-Geral
da ResPraxe, a mesmo, ordenou a constituição de um tribunal que analisasse e
julgasse as acusações levantadas contra os arguidos, denominados de Caloiros.
Deste
modo procedeu-se à identificação dos Caloiros:
Os
arguidos, vulgo Caloiros, Bichos, Bestas,
Acéfalos, Esquezifróides, Toxicosidocanceroleprosos, quadricórneos, etc.
com idade psicológica de 1 micro segundo, naturais do planeta Maluc, residentes na prostibular (casa
de prostitutas) colónia terrestre Merdaleja,
distrito de Aterro Sanitário, grupo
sanguíneo da Adega Cooperativa “Todos os
Vinhos”, e de filiação desconhecida.
Uma vez
identificados os arguidos vem a Procuradoria-Geral da ResPraxe, em nome de
todos os doutores, nomeadamente Grelados, Fitados e Veteranos, promulgar as
seguintes acusações, testemunhadas “in loco”, na esperança que a acusação
encontrará outras tantas:
1.
No mês de Setembro do corrente ano de……., entraram os
arguidos como candidatos, nas nossas sumptuosas e imaculadas salas, depois de
terem sido sido admitidos sem reunirem conhecimentos suficientes, usando dos
processos mais obscuros, subornando os professores e, usando da arte de Cabular,
só permitida a doutores, para obterem médias forjadas, nos exames do 12º ano.
2.
A admissão duvidosa destes reles bichos, veio macular o
prestígio desta Universidade, sendo um atentado à inteligência dos ilustres
veteranos que necessitaram do mínimo de 20 valores para acederem a esta
instituição. Mais ainda: os próprios doutores não foram consultados pelos
arguidos a fim de saberem se podiam ou não entrar, se deviam ou não
candidatar-se.
3.
No próximo passado futuro mês de Outubro e ainda este
mês qualquer, entraram pelas portas principais desta casa na posição erecta, só
permitida a seres superiores, seres esses com pelo menos 2 matrículas. Este
acto foi premeditado pois os arguidos sabiam de antemão que deviam transpor o
solo sagrado das Escolas de Ensino Superior na sua posição natural de
quadrupedante, ou seja nas suas 4 patas.
4.
Como já foi referido, reincidiram em invadir as nossas suseranas salas de sapiência e demais
compartimentos de acordo com o seu instinto brutesco e de conduta não-humana,
deslocando-se numa posição que lhes não é própria mas que foi copiada para
assim tentarem enganar os doutores, o que constitui um plágio e uma tentativa
mal sucedida de altivez e desafio, quando queriam compara-se a pessoas.
5.
Perante tais atitudes, agindo de má-fé como foi o caso,
nas circunstâncias de tempo, lugar espaço, modo, número e género, que se
deixaram descritas, os referidos caloiros acometeram-se (insurgiram-se) contra
os estudantes supremos, uma vez que compete ao Caloiro, calar em toda e
qualquer situação, seja-lhe pedido tal esforço ou não. Mais ainda, através da
sua inexprimível e tranquibérnia
(fraudulenta) linguagem, estes Celenterados
(Grupo/tipo de animais) vociferaram uma vacuidade
(vazio) de impropérios, motejos (zombarias)
e dísticos refalsados com arrogância que mais não eram do que Cavilações Cateniformes (propostas
traiçoeiras em cadeia) na tentativa de nos estoliar
(atrofiar) e lancinar (atormentar) as
faculdades, naquele seu ar néscio (estúpido)
e inerme (inofensivo). Tal constitui
um acto atentório à moral académica dos sapientíssimos e eminentíssimos
engenheiros e doutores.
6.
Os biltres
(infames) vituperadores
(injuriadores) arguidos, presentes neste imparcial e justo Tribunal, são ainda
acusados de atentarem contra a cultura e o saber, desprezando os
ensinamentos do altíssimo Baco não tendo prestado provas no sentido de
merecerem a confiança desta comunidade, ficando-se por um dúbio e inepto (tolo)
esforço de fazer uma prova que mais não era do que um autêntico boletim de
totoloto; e mesmo aí foi necessário o factor C (Cunha).
7.
Sabendo nós que as condições de acesso ao Ensino
Superior exigiam aproveitamento de excelência (20 valores), os meliantes (gatunos) arguidos são
acusados de fraude por não se terem submetidos a exame veterinário. Deste modo
são acusados de terem inapropriadamente utilizado o factor Sorte e influenciado
os resultados, acusação que o Ministério da Praxe espera ver confirmada até ao
fim desta sessão. Mais ainda, estes hematozoários, quiseram propositadamente
vir quebrar a paz e o sossego desta
vetusta cidade sabendo que existiam no resto do país milhares de vagas.
Ora, não nos julgamos obrigados de acolher esses zarucos (palermas), pois esta academia não é a Sociedade Protectora
dos Animais.
8.
Os desaustinados (sem tino) Caloiros aqui “presuntus”,
desrespeitaram também o esforço titânico desenvolvido pelos doutores na praxe,
que tudo fizeram para bem os inserir, informando-os do funcionamento, regras e
estruturas da Praxe. Apesar disso, os petulantes
arguidos desprezaram tão valiosos ensinamentos, uns por premeditação outros
por negligência e outos por andarem sempre a mudar de código postal. Isto
porque muitos foram aqueles que não participaram nas actividades propostas ou
infringiram dolosamente as leis do código da estrada para carroças. Aqui, quer
o Ministério da Praxe e a Procuradoria Geral da ResPraxe salutar o esforço
inserssor desenvolvido pelas Trupes/comissões de Praxe que, pedagogicamente, na
penumbra da noite, à guisa de préstito
(procissão), reencaminharam os Caloiros tresmalhados, que se esqueceram que, a
partir que após a hora de recolher obrigatório deviam estar em casa a estudar física
nuclear aplicada à literatura neozelandesa, influenciada pela teoria da relatividade
marxista.
Disposições
Jurídicas:
Após a apresentação do libelo acusatório e, analisadas as
acusações formais levadas a este Tribunal, nos termos da lei e do Código da
Praxe, os arguidos aqui presentes, são acusados de terem infringido a tradição
académica e suas normas, a saber:
·
Violação dolosa, por negligência e premeditação
da Praxe.
·
Violação dolosa e dolorosa das disposições camarárias
das juntas de freguesia do nosso distrito, em todas as alíneas e regiões, sobre a
condição e regras de conduta que o Caloiro deve incondicionalmente cumprir;
acrescendo o facto de não terem pago IMI sobre os devolutos habitats em que
vive o seu único neurónio.
·
Violação premeditada por qualquer razão aparente
sem aparência nenhuma, de maneiras que é claro.
·
Violação por desrespeito e negligência, no
tratamento adequado a ter para com a hierarquia académica.
·
Violação ao Artº 4º da Constituição da República
Portuguesa, por se fazerem passar por cidadãos nacionais, quando estes, são
alienígenas.
·
Violação do Código Fiscal em toda a sua extensão,
altura, largura, espessura e cor.
·
Violação da Constituição da República Portuguesa
e demais constituições de todo mundo, por premeditação, na tentativa de invadir
o nosso planeta e suas universidades, num intento absurdo de criar uma nova
desordem mundial.
Nos termos
da lei e dos usos e costumes académicos, solicita a entidade acusatória que os
arguidos sejam julgados e condenados, de acordo com a sua insignificante
condição, para preservação do ambiente e salvaguarda das almas.
O princípio
geral em todo o texto juridicamente legal deste preâmbulo à laia de intróito
acusatório, é irrefragável (indiscutível) e da maior rigidez e, por isso,
solicita a entidade acusatória a aplicação das sanções previstas, revistas e
imprevistas na lei, que tornarão o protervo (insolente) Caloiro, num animal
social.
Trata-se, em suma, de instituir um direito mais
sancionador que reeducador, sem esquecer que a punição para ser conseguida e
surtir efeito poderá descurar os interesses fundamentais da moral animal, mas
nunca da moral académica. Nesse sentido, para todas as violações não previstas
nem descritas neste processo, valerá a sabedoria, dos doutores, na escolha das
sanções a aplicar segundo deliberação favorável (que outra coisa se não espera)
dos ilustres juízes e jurados aqui reunidos (a quem peço, desde já, que se não
esqueçam de passar recibo dos cheques que lhes endossei à luz da Lei do
Mecenato.
Na certeza de que o veredicto será “Culpados”, o
Ministério da Praxe e a Procuradoria-Geral da ResPraxe exigem do imarcescível
(incorruptível) e idóneo corpo de juizes e, segundo o acórdão de ambas as
partes, duras sentenças e penas pesadas (nada menos que 10 gramas nas unhas por
cabeça), para esses prevaricadores, para sanção desse gravame (vexame).
As entidades promotoras deste processo acusatório
aguardam pois as alegações dos proficientes (competentes) advogados,
testemunhas e comprovação dos factos supracitados para uma justa sentença.
E AGORA, “QUID JURIS?”
TEXTO DA ACUSAÇÃO (VERSÃO 2)
Exmo e Meritissimo Sr. Dr. Juiz, Exmo Sr. Provedor da
Justiça, Imparcialíssimos membros do Juri, Caro colega, Ilustres Doutores,
prezados colegas:
É uma ofensa ao nosso intelecto, à
nossa sábia experiência e ao nosso prestígio de universitários partilhar um
ano lectivo com este animais dentro da universidade.
Esta sessão do tribunal servirá
apenas para comprovar aquilo que é por todos sabido: que estes animais
saprófitas, parasitas, trogloditas e acéfalos são, mais uma vez, uma ameaça ao
meio académico.
Perante esta situação, queira este
tribunal pesar bem os factos que passo a apresentar:
1. Em primeiro lugar, temos uma
manada de caloiros a ameaçarem o nosso meio académico, contagiando os nossos
ares e recintos com as suas viroses e cheiros nauseabundos.
2. Este animais, com designação genética de
sido-imundo-desoxido-libido-carbónico-caloiros, transpuseram as portas da
universidade em posição erecta, em vez de o fazerem nas suas quatro patas,
violando deliberadamente o artigo 10º do “statutus
caloiribus”, promulgado em Diário de Républica (dos bananas), na revista Maria e no Seringador, violando também o instinto natural de
conduta destes bichos ao marcharem numa posição que não lhes é peculiar e a da
qual o Criador os não dotou.
3.
Em terceiro, e é a situação mais agravante, é que foram os principais
causadores de provocar filas no bar, atrapalhar os serviços da fotocopiadora,
do mau atendimento da secretaria, do atraso nas obras da futuras instalações da
universidade, do aumento das propinas e, finalmente, da falta de estacionamento.
4.
Em vez de aceitarem a praxe no primeiro dia de aulas, foram insolentes
e insuportavelmente soltaram um grito de chimpanzés, insurgindo-se em palavras
e actos – contra os supremos sapientíssimos e eminentíssimos doutores
possuidores do saber - em termos e actos
ofensivos, atentatórios da imoralidade publica quando, e passo a citar o art.
5º do “statutus caloiribus refere que
a estupidez é do uso exclusivo do governo do país e deputados.
5.
Em quinto lugar, este acéfalos-apedeutas não obedeceram às justíssimas
ordens dos Altíssimos Doutores, logo transgredindo dolosamente os art. 3º, 5º,
6º e 7º do “statutus caloiribus” que,
sem precisar de referir (todos conhecemos), cria jurisprudência, segundo receita e baixa médica emitida pelo Observatório Astronómico de Zurich.
6.
A/a caloira/o [ um nome ao acaso], filha/o de Miquelina Carroça e
Gervázio Bigodino, solteira, idade nenhuma, natural de Ranholas, concelho e
distrito da Vila Nova da Cafeteira, grupo sanguíneo da Adega Vitivinícola de
Borba é também acusada de ter obrigado o seu congénere [outro nome de um
caloiro], filho de Ornato Pinguço e Josefina Verduadas, viuvo, idade 257
milésimos de segundo, natural de Alguidares de Baixo, Distrito e Concelho de
Montanelas, grupo Sanguíneo Urina com
Chumbo, a marchar em posição Quindrúpede, isto é sobre as 5 patas, quando
aquela, de acordo com o art. 10º do “statutus
caloiribus” sabia ser amoral e socialmente condenável ao caloiro em toda e
qualquer situação marchar sobre as 5 patas.
7.
Finalmente, os réus, aqui presentes, animais acrófilos, misófilos e
andrófilos, são ainda acusados de terem asassinado a cultura desprezando os
ensinamentos do altíssimo Baco, bem como de terem atentado aos cânones do
código da praxe e aos prestigiados doutores, que estão incumbidos de executar a
árdua e inglória tarefa de praxar.
É certamente com grande indignação
que perguntais:
1. de onde surgiram estes
energúmenos dolicocéfalos desprovidos de inteligência, e de qualquer ideologia
política religiosa ética ou cultural?
2. Quem são e como vieram aqui
parar?3. Como reconhecê-los e o que fazer com eles?
Pois bem, estas são as dúvidas que, graças a um minucioso
trabalho de investigação, passarei a esclarecer, numa brevíssima exposição.
Peço pois a vossa atenção
Mas como reconhecê-los perguntais vós ?
Não é fácil, contudo há traços que
nos facilitam a missão tais como:
1- Um caloiro reconhece-se
quando não se conhece, é sempre preciso pedir a identificação ao bicho.
2- Um caloiro reconhece-se pelo
ar desorientado ou deslumbrado.3- Um caloiro é identificável quando não sabe onde fica a sala de aulas, secretaria ou os W.C.
4- Expressões de medo e ansiedade, ar culpado ou doente.
5- Os caloiros costumam manter a caixa córnica baixa e olhar desconfiado.
6- Os caloiros menos avisados esquecem-se de tomar banho sendo fáceis de identificar nessa altura, chegando alguns a bater com a cabeça na parede e grunhir.
7- Por vezes entram em pânico e optam por atitudes graxistas para escapar à Praxe.
8- Os caloiros não sabem quem é o Dux, quem compõe o Conselho de Veteranos ou preside à nossa Universidade. Nem sequer sabem quem matou Viriato ou Kennedy, pasme-se!
Mediante essa provas inequívocas………… e mesmo que não houvesse nenhuma, bem sabemos que a própria designação de caloiro é sinónima de culpado, mesmo que o caloiro ainda nem tenha saído do curral e pisado o sagrado solo desta instituição, aliás já o era ainda antes dele saber. É culpado pelo pecado original de Adão e Eva, e a personificação do erro de Descartes. Sendo genético, só a santa praxe se afigura como cura, cura essa que só é possível com o arrependimento do caloiro, depois de limpo da sua iniquidade.
Tenho dito.
TEXTO DO ADVOGADO DE DEFESA
Exmºs e Meritíssimos Senhores Juizes,
Veteranos
e Ilustres desta praça,
Caros
Colegas de Ofício,
Caros
doutores,Minhas senhoras e meus senhores:
É ingrata a tarefa que me
foi impostamente incumbida, a de defender o indefensável, a justificar o
injustificável, provar que os culpados são culpados….desculpe: Inocentes !
“Caloiribus Brutus ou Criados”; “ Caloiro ou
Serviçal”; Animal irracional ou Animal de estimação” eis a questão !
Não
tentarei aqui, por ser uma tarefa de todo impossível, refutar o libelo
acusatório, nem contradizer a sapientíssima exposição do meu colega da acusação,
mas há, no entanto, que rever o enquadramento jurídico-social destes
toxicosidocanceroleprosos.
Não é
de todo prático, banir a pseudo-classe dos caloiros desta sagrada instituição.
Com efeito, o estado abrutalhado, alambazado, cocófilo, acéfalo e sumítico dos
réus é passageiro. Sim, passageiro pois que, pelos ritos de integração, meia
dúzia de estaladas e maquilhagem apropriada, fazem desta varra de réus, animais
obedientes, fieis a seu dono e minimamente apresentáveis.
Que
seria dos doutores sem serviçais prestáveis, criados para todo o serviço,
futuros amantes de ocasião, escribas que mal ou bem lá vão passando os
apontamentos aos colegas doutores que se ofereceram para repetir o 1º ano (ou
algumas cadeiras deste) na sempre nobre missão de ser pastor dessas
tresmalhadas ovelhas ronhosas?
Quão
triste seriam estes meses de outono-inverno, sem os bobos, saltimbancos ou
cantores pimba que animam os intervalos das aulas, fins de dia e que, além do
mais, nos dão mais uma razão para umas festas, uns concertos, uns copos…. Não
que precisemos de motivos para tudo isso, mas sempre é mais uma justificação a
dar aos pais: “… é por
causa dos caloiros que hoje chego amanhã !”.
Não
sejamos hipócritas! Quão útil é o caloiro que serve de máquina de tabaco, bar
móvel, cinzeiro, massagista, que tira os horários dos doutores….
Tão
bem nos faz ao ego ter caloiros a nossos pés, bichos que nos idolatram, que
perante nós rastejam, imploram, suplicam e tudo fazem para nos agradar.
Tudo isso, caros colegas,
fazem-no de livre e espontânea vontade. - - Não é verdade Caloiros!??
Mais
ainda: a defesa irá provar que graças aos caloiros se mantêm viva a
reivindicação do curso de Belas Artes nesta instituição:….. Que melhor tela se
poderia ter do que um caloiro, que serve de modelo e quadro ao mesmo tempo,
fascinantes que são as obras de pintura expressionista, mercuriosista e
praxisística realizadas pelos colegas?
Como
vêem, está mais que provada a utilidade do Caloiro: uma pedra em bruto, um
bruto que podemos esculpir ao sabor das nossas vontades, um cérebro vazio que
podemos encher de tudo o que quisermos e não precisarmos; um animal
domesticável que podemos tornar dócil, fiel e que, com certeza, convirá para
atenuar os momentos de solidão do “boby” lá de casa, pois uma casota tem sempre
lugar para mais um.
Dizei-me,
senhores, não é tão gratificante e prestigiante termos nesta academia, o nosso
próprio jardim zoológico, podermos passar por algumas salas e, espreitando, ver
através do vidro, os animais no seu habitat natural?
Quantas
casas não foram limpas, quantos cafés, finos e afins não nos foram servidos,
quantas vontades não foram prontamente satisfeitas graças à serviabilidade dos réus?
Amanhã,
ainda hoje na tarde de ontem, graças ao laboratório de pesquisa de doenças
caloirocontagiosas, foi descoberta a cura para a doença do “saio à noite após
as 22 horas” !
Com efeito, o Instituto de Ciências do Comportamento do
Bicho da Escola Agrária, atesta que o remédio está na prevenção, sendo
aconselhável rapar todos os bichos antes das 10 da noite. Bem sei que isso iria
provocar uma onda de despedimentos nas Trupes, mas matar-se-iam 3 coelhos com
uma só paulada: por um lado fica a desparasitação feita, mais uma aula de
Teoria do Desenvolvimento Caulicular
ficaria dada e sempre poderia prestar
mais serviços domésticos “fora d´horas”.
Podeis
falar da infiltração de caloiros nas Milícias Why-Ta-Rak, no grupo terrorista
Sandero Piolhoso a quem é atribuída a queda do 747 da Air-Andorra, de
Associação Chulosa do Sindicato dos “Q.U.É – F.R.Ô.?”.
Bem sabemos das acusações que pesam sobre os réus
pela falsificação dos “Ice-Tea” lançando produtos de candonga como os
“Ice-Tenfio”; “Ice-Tecomo”; “Ice-Tapalpo” e outros, no intuito de envenenar a
nossa prestigiada classe. Não é de admirar a alta taxa abstencionista nas
últimas legislativas e boicotes nas freguesias de “Montanelas”; “Colo do Pito”;
“Cutencho”, etc.
Todos
estes processos que sobre estes réus pesam não podem ser de todo imputáveis.
Que pedir a um ser cujo o cérebro é do tamanho de
uma ervilha e em tudo semelhante ao de um retardado mental ?
Sejamos
condescendentes. O Caloiro é um ser que sofre de “disforia”, estado de
insatisfação de si próprio, visível pelo seu ar desorientado e lunático - o que origina a “encopresia” ou, se quisermos,
a incontinência fecal, daí o cheiro nauseabundo que deles imana. Tudo isso
advém, pois, involuntariamente, devido a uma gene chamado “Entrada no Ensino
Superior”.
Como culpabilizar alguém que não sabe o que faz, que
não tem domínio de si próprio e cujo vazio intelectual só é comparável ao vazio
que se faz sentir nalgumas aulas?
Como
culpar juridicamente seres que são “eliptoides” (doença caracterizada pela
lentidão e imaturidade que leva à inadaptação social) ?
Não me
irei alongar muito mais, pois medo tenho de ganhar a causa e demover-vos das
vossas convicções, capazes que seriam de ilibar estas bestas… desculpem, quero
dizer… estes réus!
Estes
cervídeos (ruminantes de cornos macios e caducos), pustulentos codegueiros
(cobertos de côdeas) que nos enfraxiam (obstruem), devem, no nosso ponte vista,
ser enviados para um centro de reabilitação ou instituto mental que possa
suprir os cuidados veterinários de que os réus estão carenciados.
Vós
mesmos os aceitastes como colegas, baptizados que foram na Latada, num rito que
lhes confere natureza académica ! Bem sei que “They still freshmen”, mas
revestistes os réus com o pesado fardo de académicos, baptizados sob os auspícios
do Santo Espírito da Praxe e com a benção do ilustre, esbelto e magnífico Dux-Veteranorum
.
Se
isso vos esquece, mais valia té-los carregado com um pesado fardo de palha !
Tão
irrisórias são as acusações de desrespeito dos caloiros, só porque riem por tudo
e por nada, quando sabeis que os seus antepassados se cruzaram com as hienas e
que o seu riso nada mais é do que a expressão do seu desejo sexual, dum cio
incontrolável que se regista nesta época!
Inocentes
clamo eu ! Inocentes, clama a defesa neste tribunal!
Quantos
doutores e engenheiros se não prestaram a educar e domesticar esses animais?
Quantos não têm agora um bicho de estimação? Quantos, pergunto eu, pelo Santo
Laço do Apadrinhamento, se não comprometeram na titânica tarefa de os reciclar
e deles fazer verdadeiros cidadãos desta academia ? E quereis vós agora condená-los?
A defesa alega a sua inocência por inocuidade
mental, castrados que estão de cérebro e inteligência.
Caros
Caloiros, tentei ser convincente, numa defesa à medida do cachet que me foi
entregue, mas 1 ano de propinas não dá para mais lábia ou parlapier. Deste
modo, se nenhum Caloiro carregar a minha conta bancária, dou por encerrada a
minha alegação, ficando bem claro que só acedi a esta tarefa porque a isso fui
obrigado e também porque 60 contos sempre dão jeito. E, por falar nisso,
convido o corpo jurídico a beber um copo após esta sessão.
Exmº
Corpo Jurídico reunido neste Tribunal, apelo ao vosso bom senso, que não mais
me coloquem nesta cátedra ingrata, porque bem sei que eles não têm defesa
possível, porque a Lei diz no artigo 1º das Normas Reguladoras da Santa
Inquisição, que o Caloiro nunca tem razão e que, caso remotamente a pudesse
ter, é aplicável o artigo 1º.
Que
fiz eu este tempo todo, senão adiar o inadiável? Ganhei uns trocos, é certo, dei
aso à minha retórica argumentativa, é certo também, mas com certeza que uma decisão sumária, uma
condenação sem julgamento pouparia a defesa deste vexame e gasto inútil de
potencialidades.
Não há
“habeos corpus” que os salve, senão praxe redobrada e canalização das suas
parcas e limitadas capacidades em prol, serviço e promoção da classe académica,
da Praxe e da Academia.
TENHO
DITO !!!!
TESTEMUNHOS FIDEDIGNOS DE ESPECIALISTAS
Dizia
o Paleontólogo Japonês Hiroku Saykaro:
" Hondsuziki Sonydawoo"
O que quer dizer: “A morfologia do
Caloiro, malgrado os condicionalismos evolucionistas Darwinianos, é um ser
amorfo, saprótida, que não tem respeito por si e pelos outros, devido à mutação
transgénica duma bosta de canário. Deste modo, o efeito sobre o ausente cérebro
é de vazio no vazio, o que prova que o Caloiro não sabe o que faz”.
(De notar o poder de síntese dos Japoneses)
Já
o Zoófilo Francês Bertrand Bate Mume esclarece:
“…les Bizuts, soufrent de troubles hypomaniaques et d´anorexie
boulimienne mentale. De ce fait, il est possible que cette race ne sache rien
d´autre faire que des bêtises tel les singes dans leur puberté”
Deste modo: “…os Caloiros sofrem de perturbações hypomaníacas e de anorexia
mental. Deste modo, é possível que esta raça não saiba fazer mais nada do que
asneiras tais macacos na puberdade”
Quanto ao Arqueólogo
Espanhol: Juan de
Montanellas:
“ Los novatos san una espécie de conhos
(cabr ~..) y és porssupuesto que su
utilidad limitada és ademas un risco que tenemos de correr, para satisfaction
de nuestros dejejos mas recónditos. Su ar debil está en acordo com su condition
pitoresca, mas hoy se prova que sen ellos la vida seria una canha ( copo de
cerveja) azeda.
John
Eduards Fock, do National Geography diz ainda:
“
The freshmen are like dog excrement, but they are useful to the green around
university. Only after a complicate
praxis recycling process it’s possible
a total recover off them to make a better slave. Until that, the freshmen
aren’t guilty from there act and will
they only knows stupidity, dullness and
necrotic fornication.”
O que traduzido “ipsis verbis” dá: Os caloiros são excrementos de cão
mas úteis à relva que circunda a Universidade. Só após um complexo processo de reciclagem
na praxe é possível recupera-los para deles fazer melhores escravos. Até lá, os
caloiros não são culpados pelos seus actos e continuarão a conhecer apenas a
burrice, a estupidez e a necrótica fornicação.”
Para reforçar tudo isso, afirmava
John Kod Morse :
“ --. ---.. -. -… --.
--. -… - …--.--. -.-. --… … --- … .-.- ..-..-. .-..- -- .-.-. --..- .--- .--- .-----.. ..-. .-.-.
..-.-- .. -- --. ..- …-- ---.. .-.- -.-. ----- …- …”
Traduzido: “ Tal sentimento de condenado rumo à guilhotina , o
sofrimento experiênciado pela sua condição miserável é uma auto-flagelação
constante. A culpa é das amas e mordomos pedófilos que traumatizaram esta
manada quando ainda eram lactantes.”
Os
Caloiros NO CINEMA:
-
“ 9 Caloiras e meia”
-
“ Mamã encolhi o Caloiro”- “Indiana Jones e o Cérebro do caloiro vazio”
- “Alien, o 8º Caloiro”
- “ O Caloiro nas garras do Latim”
- “ 007 e o Caloiro da pistola dourada”
- “ Emanuelle, a caloira em Brasa”
- “ E. T. “
- “ Encontros imediatos do 3º quarto”
- “ A aldeia da caloira branca”
- “ Sei o que fizeste no Caloiro passado”
- “ Caloira púrpura do Cairo”
- “ O Melga”
- “ Academia de Pocilga” (I a VI)
- “ Dossier Pelicano”
- “ Holocausto”
- “ A bela e Monstro”
- “ Branca de Neve e os 7 caloiros”
- “”Roubó Copo” ( I e II)
- “ Nascido para Praxar”
- “ Bicho Jurássico”
- “ Proposta Indecente”
- “ “Palpitações”
- “ E c/ tudo o caloiro levou”
- “ Gritos”
- “ Chocolate e Caloiras”
- etc.