sábado, novembro 04, 2006

Notas sobre as Latadas - Dados


AS LATADAS


As Latadas são uma das festividades académicas mais irreverentes e divertidas, marcando actualmente a iniciação dos caloiros à Praxe Académica. Neste cortejo, os caloiros vão vestidos com fantasias ao gosto dos doutores da praxe transportando normalmente cartazes de carácter crítico respeitantes à vida circum-escolar, política e social da nação e da comunidade internacional.
A partir dos anos 50 e 60 passam a realizar-se no início do ano lectivo e não no final como acontecia antes.

Após o fim do período de Luto Académico, em 1979 a Praxe Académica volta à actividade. É a partir desta data que se passa a realizar uma só Latada para todas as Faculdades. Anteriormente, até aos anos 50 e 60, faziam-se tantas Latadas quantas as Faculdades, mas o aumento significativo do número de estudantes levou a que se procedessem a alterações nas realizações das Latadas

As "Latadas" remontam ao século XIX quando os estudantes exprimiam ruidosamente a sua alegria pelo termo do ano lectivo - em Maio. Utilizavam para tanto todos os objectos que produzissem barulho, designadamente latas...

Durante os 3 primeiros dias que antecediam as férias de ponto ninguém na Alta
(Bairro Latino) tinha sossego. Das instituições académicas subsistentes foi das
que melhor testemunhou o longo processo evolutivo, porquanto chegou quase aos
nossos dias ligada simultaneamente à cerimónia de imposição de insígnias e à
iniciação dos caloiros (baptismo).
Como a “Queima” as “Latadas” representam
um modo de reconhecer a autenticidade das instituições e o poder político
decorrente da legitimidade saída de uma sociedade fortemente tradicionalista.»
(in A sociedade tradicional Académica Coimbrã de A.R. Lopes, s.d.,)

Analisemos o relato de Trindade Coelho para tentarmos compreender melhor a vivência académica do seu tempo:

«Ora foi na aula do Chaves, nem mais nem menos, que o Pássaro, rasgando uma
folha em branco da Novíssima Reforma Judiciária, fez no 4.º ano o programa das
latas, o célebre programa das latas, que é hoje raríssimo, e uma das peças
clássicas da boémia de Coimbra - tão afamado como o Palito Métrico! Apanhado, o
programa foi impresso; e impresso, não houve ninguém que o não comprasse no dia
seguinte, à Porta Férrea, por um vintém - pois que de mais a mais tinha
oportunidade: as aulas de Direito fechavam-se nesse dia, e à noite, como era da
tradição, a rapaziada tinha de sair pelas ruas de Coimbra - naquela
extraordinária inferneira chamada a Festa das Latas, em que cada um, incluindo
os novatos, que nesse dia ficam emancipados e já podem sair de noite sem
protecção, arrasta atrás de si as latas que pôde ir juntando durante o ano, ou
as que comprou na «feira das latas» aos garotos, que vendem uma banheira velha
por um pataco e três cântaros de «folha» por um vintém!
Essa é a tremenda
noite de Coimbra, em que ninguém prega olho - troça aos estudantes das outras
Faculdades, que ainda têm aulas no dia seguinte -, e que uma vez obrigou a fugir
não sei que inglês touriste, que berrava, de mala na mão, a correr para o
caminho-de-ferro:
- Doidos! Doidos! Doidos varridos!» Fim de citação.


Bibliografia: In Illo Tempore; Coelho, Trindade; Publicações Europa-América, Livros de Bolso, n.º 287; s.d.; pp. 14

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