quinta-feira, setembro 10, 2009

Notas Extraídas I

Desta feita, o Notas&Melodias decide contemplar um artigo interessantíssimo, publicado hoje no consagrado blogue "As Minhas Aventuras na Tunolândia".
Um artigo de opinião que expressa uma reflexão que partilho e subscrevo integralmente e deverá, quanto a mim, merecer a atenção dos tunos e tunas da nossa praça, para devida introspecção:



A Aventura da Militância...

 
Numa altura em que o folclore iconográfico/político está no seu auge - para desespero do comum mortal ... - assalta-me uma questão á mente que, de certa forma, já aflorei ao de leve anteriormente em algumas "aventuras" mas que nunca teve direito a uma mais aprofundada, digamos, análise: a militância tunante. Mas afinal, que é isso da militância tunante?


Passo a explicar: entenda-se a militância tunante, aqui, como o exacerbar à ultima consequência a defesa in extremis da sua Tuna, da Tuna de cada um de nós, ou seja, aquela coisa tão tribal quanto romanticamente emocional. Não falo - por ora - da militância tunante pela causa comum, pela Res Tvnae, que essa conversa dará para muita reflexão e escrita, até porque causa maior.

 
Mas vamos ao mais comezinho: A militância tunante a que chamo baixa militância tunante, para ficar mais claro. A sua génese é remota e, por si só, serviria para explicar muito do que justifica, aparentemente, essa baixa militância tunante. No "boom" de idos dos anos 80, inícios de 90, essa militância tunante teve o seu auge precisamente porque a Tuna foi o "braço armado" do exacerbar de cada Casa de Altos Estudos, uma espécie de "brigadas negras" de "elite" de um nome, entroncando com o ressurgir das Tradições Académicas e da Praxe que até então estavam hibernadas. Nessa altura - e porque o contexto universitário, académico, praxista e até mesmo social da conjunctura de época o originaram e alimentaram - cada Tuna era uma espécie de Euskadi Ta Askatasuna - ou seja, ETA - de cada Universidade, Faculdade ou Instituto Superior, numa lógica perfeitamente bélica onde as armas eram bandolins e violas, as bombas eram prémios e a Calle Borroka era o Cortejo, mais coisa menos coisa. Ou seja, cada Tuno era simultâneamente Tuno e guerreiro da "sua" universidade, faculdade ou instituto, sendo que a Tuna era "usada" como forma previlegiada de militância exacerbada, onde o contacto com os restantes que não os seus eram pontuais ou justificáveis por força de circunstâncias especiais - apadrinhamentos, irmanamentos e pouco mais.

 
O isolamento a que se vetavam esses guerrilheiros tunantes originou uma fórmula que a prazo se veio a revelar altamente prejudicial ao todo, à Tuna em sentido lato. A fórmula em questão diz-nos que "eu faço bem, tu fazes bem. ele faz bem e nós fazemos todos....mal". Ou seja, na defesa militante exacerbada do que era nosso esquecemo-nos todos daquilo que era afinal de todos: a Tuna. Mea Culpa que nessa época era um miudo...

Hoje essa baixa militância tunante é cada vez mais absurda, desadequada aos tempos e contextos que correm e mais, mesmo no seio tunante, desprovida de qualquer lógica excepto uma: o orgulho. De se ser da Universidade X ou Faculdade Y ou Instituto H. Mas o orgulho em se pertencer a algo nada tem a ver com a baixa militância tunante de antes, olhando para o seu umbigo e polindo-o, elegendo os outros Tunos e Tunas como inimigos, do outro lado da barricada quando, afinal, se constataria depois que não há barricada alguma entre Tunos. O auto-polimento do ego tunante de então - e hoje pode-se dizer - foi altamente prejudicial ao todo do fenómeno a prazo, que ainda hoje deixa marcas e mostra a sua natureza, de quando em vez, em certos e determinados casos/situações felizmente cada vez mais pontuais.


Deriva de todo este contexto histórico também a forma como a Tuna em Portugal foi evoluíndo (!!??) por oposição ao fenómeno espanhol. A nossa heterogeneidade inter-tunas deriva também dessa baixa militância tunante, onde a procura da diferenciação a todo o custo - visual, estética, musical, etc - resulta precisamente na vontade exacerbada de representação guerreira do "seu" e não preocupada de todo com o que é de Todos. Poder-se-á afirmar que paradoxalmente foi precisamente o atrás dito que catapultou a qualidade das Tunas nacionais. Mas não me restam dúvidas que em Espanha a rivalidade inter-tunas é muito mais diminuta do que a que por cá se passa, o que não deixa de ser curioso tendo Espanha mais Tunas que nós.

Duas décadas depois poder-se-á dizer que está na altura de dar a vez à Alta Militância Tunante por até absurdo actualmente misturar-se orgulho com altivez. Casos há de Tunas nacionais que desmancham somente pela sua génese e formação o conceito de baixa militância tunante e curiosamente com sucesso o fazem. Não faz sentido algum que actualmente o Tuno misture conceitos quando tem hoje em dia todos os dados na mesa, perfeitamente delimitados e actuais, que indicam um caminho de maior aproximação inter-tunas, de troca de experiências, de tolerância, de abertura. Hoje em dia Tunas que se fecham em si mesmas estão na ante-câmera de um valente trambolhão existencial.


Há que dar primazia ao todo, ao conjunto do fenómeno, com abertura de espírito e menos espírito guerreiro - de que os festivais competitivos são catalizadores - potenciando intercâmbio, diálogo, se quiserem glastnost, ou seja, desanuviamento inter-tunas. Saí hoje a Tuna da idade do armário e vai a caminho da maioridade ou mesmo nela está. Resta a maturidade. E essa começa por todos nós, que deveremos procurar a Alta Militância Tunante para bem da Tuna portuguesa.
 
in http://asminhasaventurasnatunolandia.blogspot.com/2009/09/aventura-da-militancia.html