quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Notas ao DURA PRAXIS SED PRAXIS


"Dura Praxis Sed Praxis"
Cabeça dura não entende.

 
Um lema, uma frase da ordem que tem sido constantemente desvirtuada e truncada, colando-se-lhe N entendimentos e significados, nomeadamente para justificar coisas que nem são Praxe, nem praxes, nem Tradição.
 
Um lema que muitos entendem, erradamente, ligado à praxes e que serve para justificar praxes militaristas, física e psicologicamente ditas "duras", quando, no entanto, a frase nada tem a ver com praxes ou a sua dureza, mas com a lei académica.

 
Com efeito, Praxe é apenas, e só, o conjunto de regras e normas que regem os protocolos académicos (o modo de agir, trajar, proceder nos eventos académicos), com base na Tradição. Nada a ver, portanto, com praxes propriamente ditas. Nada a ver, portanto, com as praxes serem "duras", "difíceis", "custosas".

 
Assim, esse lema, inspirado no "Dura Lex Sed Lex"[1] (na verdade, é um decalque), significa apenas, e unicamente, que a lei académica (a Praxe/a norma) se quer justa e equitativa, igual para todos e a todos tratando de igual modo.

 
Porque a todos trata de igual modo, será dura de engolir para quem quer privilégios e regimes de excepção, para quem quer interpretar a norma a seu belo prazer, e segundo as suas umbilicais conveniências ou, até, inventar-lhe adendas e novos significados.

 
A Praxe é dura, de facto, quando alguns pretendem arrogar-se o direito de fazerem ora de uma maneira ora doutra, conforme lhes dá jeito.

 
A Praxe determina que as regras são para todos iguais e que não há lugar a uns fazerem assim ou assado, só porque lhes apetece, têm mais matrículas ou são filhos de algum ministro ou eternos veteranos e dux.

 
A Praxe assenta na Tradição, pelo que é difícil de engolir (é dura) para os invencionistas e praxeiros de ocasião, desde logo os que nem sequer a conhecem nas suas origens, expressão e porquês.
 
 



[1] A expressão se refere à necessidade de se respeitar a lei em todos os casos, até mesmo naqueles em que ela é não nos dá razão ou não justifica a nossa posição. A expressão remonta ao período de introdução das leis escritas na Roma Antiga; a legislação, até então, era transmitida pela via oral, e por consequência sofria diversas alterações por parte dos juízes, que as refaziam de acordo com tradições locais, e introduziam uma série de interpretações pessoais, na medida em que eram os detentores do poder de se referir a esta tradição oral. Com a introdução das leis escritas, passaram a ser iguais para todos - e, como tal, deviam ser respeitadas, por mais duras que fossem.