quinta-feira, setembro 13, 2012

Distinguir Caloiros de Veteranos.....ecos do passado.

Neste altura em que tudo está ao rubro, com milhares de praxistas em preparos e outros tantos caloiros em cuidados, julgo apropriado fazer eco de um escrito do séc. XIX, que trouxe à ribalta o amigo João Baeta na facebookiana Tertúlia do Penedo d@ Saudade.
 
Aqui fica:
 
 
"Como se distingue um caloiro de um veterano?
 
As ferias é effectivamente o tempo dos caloiros!... Desafrontados então de todos os receios, correm a toda a parte para dar pasto á sua até alli reprimida curiosidade. Não os vêdes espalhados pelo pateo e pelas escadas? não os conheceis pelas caras? «O que? conhecer os caloiros pelas caras?» observa agora um judicioso leitor.
É verdade, meu caro senhor!
É mais fácil distinguir, se um ente, que traja batina, é caloiro ou não, do que differençar um homem d'um kanguroo ou chimpanzé; e não creiam que eu sou algum Lavater, ainda assim.
Não, senhores; ha coisas que até os génios vulgares distinguem com perfeição, como por exemplo, um diamante, d'um seixo; ou um veterano, ainda que de batina nova, d'um caloiro embora com ella velha; e aqui se prova aquelle ditado portuguez muito velho e muito certo, — o habito não faz o monge. (…) pergunto pois, como se explica esta facilidade em distinguir o caloiro do veterano?
Dai-me de um lado o rapaz mais experto e mesmo o mais desembaraçado; encaixai-o n´uma capa e batina velha e bem velha; mostrai-lhe de noite, e ás escondidas, todas as ruas da cidade, para que elle se não engane; apresentai-o em público depois, e todos os que tiverem vivido um anno em Coimbra exclamarão: — é caloiro! ao passo que se de outro lado puzerdes o estudante mais acanhado, e menos desenvolvido, trajando batina nova e parecendo até receiar dos outros ninguém se intrometterá com elle!...
Não sei o que é, mas ha um certo ar no traçar da capa, no pôr do gorro, n'uma palavra, em cem minuciosidadesinhas, que só o habito de trajar tal habito (passe o gongorismo) é que ensina!
Estas differenças, já se vê, caducam no caloiro chronico, espécie hybrida, que pertence ao veterano pelo muito tempo, que tem de Coimbra, e ao caloiro pelo pouco aproveitamento que n'ella tem colhido. "
 
 
In A. M. da Cunha Belém, 1863: 4/5
 
 
 
 

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