Em idos da década de 1990,
inicia-se um fenómeno, tão inusitado
quanto pandémico, de criação de trajes estudantis que visavam, na óptica
dos seus promotores/inventores, conferir identidade e diferenciação face ao paradigma
do Traje Nacional, conhecido na gíria por “capa e batina”.
O objectivo era emancipação face a Coimbra, e afirmação do novel burgo universitário/politécnico (quase sempre sem olhar a meios) ou sem ponderação, recorrendo-se a uma panóplia de invencionismos diversos (quase sempre pegando na Tradição e desmembrando-a para, sobre ela, enxertar novas práticas: como por um limoeiro a dar bananas - justificando que a cor do fruto é a mesma - e pretender que são toranjas), traduzidos no cúmulo de pretender apelidar de Tradição a algo recente (um paradoxo de todo o tamanho).
A criação de novos trajes foi uma dessas expressões.
O objectivo era emancipação face a Coimbra, e afirmação do novel burgo universitário/politécnico (quase sempre sem olhar a meios) ou sem ponderação, recorrendo-se a uma panóplia de invencionismos diversos (quase sempre pegando na Tradição e desmembrando-a para, sobre ela, enxertar novas práticas: como por um limoeiro a dar bananas - justificando que a cor do fruto é a mesma - e pretender que são toranjas), traduzidos no cúmulo de pretender apelidar de Tradição a algo recente (um paradoxo de todo o tamanho).
A criação de novos trajes foi uma dessas expressões.
Sabemos das diversas falácias que
esses panos, contudo, encerram:
- Criados porque se dizia que a “capa e batina
era de Coimbra, quando tal é falso (traje de Coimbra só no folclore).
-
Criados para, supostamente, identificar a instituição e localidade
(cidade/vila), quando, histórica e tradicionalmente, nunca os traje estudantis visaram
tal, mas apenas identificar a condição estudantil (pois são uniformes
identificativos do estatuto de estudante, apenas e só);
-
Criados recorrendo à colagem/inspiração/fusão de peças do folclore ou
etnografia local/regional, quando o traje estudantil existia precisamente para
distinguir o estudante dos demais mesteres e classes (a figura do estudante nem
sequer figura em qualquer tradição etnográfica ou folclórica), sendo por isso
um contra-senso e fazer do traje precisamente o contrário daquilo para que
sempre existiu.
Pior, ainda, quando alguns delinquentes intelectuais decidiram, há uns anos, mesclar o traje nacional com peças do vestuário escocês (na escócia não existe uniforme estudantil sequer), desrespeitando quer a etnografia anglo-saxónica quer, principalmente, a nossa cultura e tradição.
Pior, ainda, quando alguns delinquentes intelectuais decidiram, há uns anos, mesclar o traje nacional com peças do vestuário escocês (na escócia não existe uniforme estudantil sequer), desrespeitando quer a etnografia anglo-saxónica quer, principalmente, a nossa cultura e tradição.
Bem, mas o que hoje aqui motiva
este artigo é questionar muitos desses supostos trajes quanto à
legitimidade de se considerarem como “trajes académicos”.
Vamos lá então:
Vamos lá então:
Um traje académico/estudantil é, convém não
esquecer, um uniforme.
Como uniforme, ele tem a exclusiva
função de identificar a condição daquele que o enverga.
Assim, qualquer traje académico,
neste contexto estudantil, existe para dizer que aquele e/ou aquela são
estudantes.
É essa a sua função primária e exclusiva.
Depois, se o traje, pela sua configuração, ou
por algum símbolo adicional, identifica igualmente a instituição e cidade da frequência
dos estudos, isso é já outro patamar que aqui não é relevante sequer. Mas bastaria a analogia aos uniformes militares em que os soldados vestem por igual,s ó se distinguindo a sua especialidade pela insígnia na boina e no peito/braço.
Assim sendo, como podem alguns
auto-proclamados “trajes académicos” terem a distinta lata de pretenderem
reconhecimento, quando o seu uso é vedado, por exemplo, a caloiros?
Não são os caloiros estudantes da instituição
em causa? Temos Apartheid praxístico?
Como podem pretender que determinado fato seja
“traje académico”, quando o código da praxe o enquadra como indumentária não
permitida a quem não foi praxado (vulgo “anti-praxe”)?
Quem se recusa a ser praxado deixa de ser estudante
da instituição? Desde quando?
Como pode um traje ser apresentado como o
traje dos estudante da instituição X, se existe um regime de apartheid
praxístico que diz que nem todos os estudantes podem trajar; não por não serem
estudantes, mas porque não partilham da mesma opção praxística de uma suposta doutrina obrigatória (ridículo, até, quando muitos dos respectivos códigos até dizem que só adere à praxe quem quer)?
Até onde nos foi possível apurar,
sabemos que nenhum traje é proibido em função das convicções políticas, religiosas,
cor da pele, estrato social, etc.
Então por que diabo temos uns anormais,
auto-intitulados de "praxistas", que criam um regime de segregação em função de
algo que nada tem a ver com ser estudante da instituição?
Quem elaborou, em 1º lugar, e quem continua a
defender esses códigoszecos tem real noção das enormes e ridículas contradições
de tudo isto?
Não, caros leitores, muitos dos supostos
trajes que por aí andam a fazer de conta que são trajes académicos são, na
verdade, equipamento praxístico, a par de outros equipamentos para a prática de
actividades diversas.
Burra Praxis Sed Praxis, diríamos nós, uma vez mais, nestes
casos, onde ser curto de vistas
parece atributo sine qua non para se ser
praxista.
Nota: Também existem casos de instituições onde se diz que a"capa e batina" não pode ser usada por caloiros ou por quem não foi praxado (por quem é anti-praxe), coisa que, obviamente, releva de uma total ignorância e perverte a tradição, pelo que ilegal tal disposição.
Sobre o Traje Académico Português, leia AQUI.
Nota: Também existem casos de instituições onde se diz que a"capa e batina" não pode ser usada por caloiros ou por quem não foi praxado (por quem é anti-praxe), coisa que, obviamente, releva de uma total ignorância e perverte a tradição, pelo que ilegal tal disposição.
Sobre o Traje Académico Português, leia AQUI.
4 comentários:
Meu caro, não posso estar mais de acordo!
Um abraço,
Zé Veloso
Boa noite
Leitor atento e continuado acompanho a opinião
Abraço
Ricardo Figueiredo
Salatina da Alta (1936)
UC 1956/1961
Boa tarde,
Sou da faculdade do IADE, que como está ali em cima, usa o tão famoso kilt. No entanto, sempre me foi dito que qualquer aluno é livre de escolher entre o nacional e o kilt, coisa que nunca nenhum aluno fez... até à data. Após ter adquirido o ''traje nacional'' a comissão de praxe apôs-se a que usasse o mesmo durante a praxe ( sendo que não me é permitido praxar, seja com que traje for) pois para além de terem contrariado aquilo q sempre ouvi, argumentam também que segundo o codigo de praxe, com as ''regras'' do traje do iade, estou ''mal trajada'', e portanto indo a praxe, estou sujeita a ir a tribunal de praxe e ter como consequencia o traje rasgado. Fiquei entao de desmistificar esta questão: o traje nacional é ou não aceite em toda e qualquer faculdade a nível nacional?
Agradeciam imenso uma ajuda nesta questão!
Olá, Joana,
Se procurar no blogue, encontrará um artigo dedicado ao traje" do IADE ("Notas a uma Execrável Desafinação").
O Traje Nacional (cuja alcunha é "capa e batina") é o traje por excelência do aluno universitário).
Nada nem ninguém a pode proibir de o usar e com ele se apresentar nos actos académicos.
Se a sua comissão de praxe diz que não pode praxar com ele, creio que não vale a pena você criar uma guerra. As praxes não são o essencial da vida académica.
Agora em tempo algum a podem proibir do resto.
E muito menos podem violentá-la ou ameaça-la, ou isso torna-se caso de polícia.
O que o código do IADE diz vale zero em termos de Praxe, desde logo porque atentam à tradição com o dito Kilt, são, aliás, uma ofensa às tradições académicas.
O Traje Nacional deveria ser aceite em qualquer instituição, mas há comissões de praxe que entendem o contrário, simplesmente porque são burras que nem uma porta.
Não se deixe intimidar, porque usa ro traje nacional é legítimo em qualquer instituição e certamente que a reitoria da sua escola a não irá proibir d eo usar ou dirá que está mal trajada.
Agora é óbvio que não é fácil ser diferente no meio de gente que traja kilt e acha que a presunção da sua ignorância é quanto vale parta ser tradição.
Não permitas que alguém exerça sobre si coação. Errado seria apresentar-se, por exemplo, com o traje "Tricórnio" (da Univ. do Minho) ou outro específico de uma escola.
Neste caso, está a usar traje nacional, pelo que está de acordo com a tradição académica portuguesa e o IADE ainda está em Portugal e, que eu saiba, não é território ou reserva diplomática da Escócia.
E não, não está mal trajada pelas regras do traje do IADE, pois não usa o traje em causa. Mal trajada seria usar o traje do IADE e trajá-lo mal. Você, trajando capa e batina só não traja o kilt, mas traja o uniforme do estudante português, com uma tradição enraízada e comprovada.
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