terça-feira, novembro 13, 2007

Notas sobre uma execrável desafinação!

Para ser coerente com a linha editorial a que me propus, e com a postura que sempre adoptei na vida, terei, também aqui, de usar este espaço, também dedicado a Tunas, de facto, para fazer referência a algo que, de todo, o não é, denunciando o travestir e a pretensa legitimidade de uma coisa que se apelida de tuna, mas mais não é do que a caricatura disforme de uma dantesca figura camaleónica.


Se as sapatilhas da Cartola fizeram correr muita tinta, talvez pela projecção que a mesma tem, e pelo percurso conforme que sempre teve, antes de "virar o bico ao prego" (e não falo exclusivamente da bota), este grupo de pseudo-tunos, consegue ultrapassar, em muito, o até aqui conseguido.


Já dele tinha ouvido falar, ou melhor: ouvira falar sobre o exisitir um traje assim num instituto qualquer, mas hoje podemos tecer considerandos de forma mais explícita, dado que, também estes, fazem questão de ostentar essa coisa a que chamam Traje Académico, através de fotos, em blogue próprio e de acesso ao público em geral!




Estes........ (faltam-me as palavras) são uns tais que se auto-intitulam de A Tuna Académica do IADE (Instituto Superior de Artes Visuais, Design e Marketing) e usam, segunda consta, o traje em vigor lá pelas bandas da sua instituição de ensino.


Obviamente que estes senhores precisavam de cursar algumas cadeiras de história e, quiçá, de uma qualquer terapia que remediasse tamanha ignorância, descaramento e estupidez.


O que estes tais ousam fazer não nada menos que delapidar e atentar aos nossos valores e património académico, ousando misturar uma peça de origem anglo-saxónica (da Escócia, para ser mais preciso), o Kilt, com uma camisa branca, colete e gravata, "roubados" à capa e batina, ao traje nacional, e colocando uma capa preta pelos ombros.

Como saberão os leitores, o traje académico existe para distinguir o foro académico dos demais mesteres. Desde logo por isso é que, por exemplo, a incorporação de  peças do folclore e etnografia regional, onde a figura do estudante é inexistente, se afigura um paradoxo. Com efeito, o Traje Académico é um traje corporativista (uniforme estudantil), e não pano identitário de uma localidade ou de uma actividade agrícola, piscatória ou outra que não a estritamente expressiva da condição de estudante (figura inexistente na etnografia e folclore).
Mas o Kilt nem sequer é isso que acima se descreve. Nem sequer vai beber a qualquer tradição etnográfica portuguesa. Esse "traje" o que faz, é desmembrar o Traje Nacional (desde logo um desrespeito enorme) e costurar-lhe peças escocesas que, por sua vez, nada têm a ver, no país de origem, com estudantes - recordemos que a Escócia não tem traje universitário e que o Kilt em nenhum momento é próprio de estudos, antes um traje etnográfico próprio de uma geografia que nada, mesmo nada, tem a ver connosco.
Assim sendo, essa importação é, ela própria, um atentado cultural, pois também faz do traje escocês uma espécie de "rodízio", onde se escolheu o que se achou giro, travestindo o próprio significado do traje anglo-saxónico.
Esse McTraje é, por isso, uma roupagem que nem é o traje etnográfico escocês, nem o traje académico nacional. É uma aberração folclórica digna de um carnaval circense, sem qualquer credibilidade ou fundamentação histórica.


Sacrilégio gritariam muitos a dar cambalhotas no túmulo, disso não duvido, tal como, pessoalmente, me dá uma nausea ignara e abjecta ao olhar para esta..........."coisa".

Só mesmo nesta Lisboa, que já não é de outras eras, pois estou certo que, noutras urbes (e estou a lembrar-me da Invicta, por exemplo), até a antiga polícia académica ressurgiria das brumas.


É pacífico, mesmo se não consensual, as indumentárias equiparadas ou semelhantes às dos nossos vizinhos espanhóis (e de que temos exemplos vários cá em Portugal), até porque neles inspirados e/ou com eles partilhando muitos laços históricos, culturais e sociais, mas fazer a importação do Highlander Connor ou Duncan McLeod, só porque um qualquer afecto ao filme/série "The Immortal" achou piada e pensou ser isso criatividade e arte........deixem-me que me vire pró lado e regurgite o meu jantar.


Não posso crer que seja por ignorância em alunos que cursam o ensino superior, ou então alguma coisa não está bem na exigência colocada para se militar nessa instituição, pois que mesmo o mais néscio saberia ter o discernimento e aplicar algum bom-senso em questões de praxis e tradição no que respeita ao Traje Académico e à Tuna Portuguesa (seja ela popular, ou de cariz estudantil), não perpetrando tamanha heresia escatológica.


Deixem-me o direito à indignação, depois ao riso e, finalmente, ao gozo.
Compreendam que,  perante esses preparos e vil ataque à cultura escocesa e portuguesa, a última coisa que tal indumentária me merece é respeito e consideração. Isso não é Tradição nem tem fundamentação em nenhum acultura estudantil portuguesa ou seja de que país for.
A instituição merece-mo, muitos dos seus alunos também, mas a decisão de tal, a argumentação e a configuração desse suposto traje...............nenhum.


Como diz o reclame, mas eu incuto-lhe um tom sarcástico e irónico: "Há coisas fantásticas, não há?"


Nota de 25 -11-2007: A pedido do Ensaiador do grupo em questão, Júlio Martins, que solicitava o retirar das fotos, decidi manter as mesmas, mas tapando a cara dos intervenientes para, assim, as pessoas fotografadas não serem personalizadas ou "coladas" com os juízos de valor tecidos sobre os alunos e membros do grupo musical em questão (preocupação do Senhor Júlio Martins que compreendo).

As fotos constantes neste artigo foram retiradas do blogue da TAI.

16 comentários:

As Minhas Aventuras na Tunolândia disse...

Ilustre;

Já em tempos idos se tinha detectado este fenómeno que, por razões óbvias, não me merece mais qualquer tipo de reparo excepto o mesmíssimo que teci à sapatilha e afins, são fruta de um mesmo cesto a merecer, portanto, o mesmo tratamento que será, a meu ver, banir liminarmente.

Mais considerandos será fazer publicidade gratuita a algo que, não se configurando como Tuna, não caberá aqui qualquer comentário inserto na natureza tunante. Se me desafiarem para comentários quanto à História das Highland´s poderie ainda fazer uma perninha na matéria, eventualmente noutro blog, com todo o gosto e prazer.

Abraços!

J.Pierre Silva disse...

Ilustríssimo,

Líquido porque óbvio.
O meu comentário neste meu blogue vem apenas por uma questão de coerência, dado que se dei algum tempo de antena para me pronunciar sobre sapatilhas, não faria sentido fazer excepção quanto à denúncia de outros casos similares.

Não faria qualquer menção ao assunto se esses tais se não auto-intitulassem tuna académica, obviamente.

É peditório para o qual não voltarei a contribuir (no que concerne a este grupo), mas merecia esta nota, porque denunciar e alertar para estas situações é um imperativo de qualquer auto-regulação na nossa comunidade, mostrando que há gente que, pleo menos, se não fica pelo conformismo da silenciosa, e cumplicitária, omissão (ou assobiar pro lado).

O pessoal das Highlands é que até acharia piada, digo eu, aos malabarismos dos pandeiretas, isto se forem fiéis ao porte do kilt. hehehehe

Abraço.

Anónimo disse...

É tão simples quanto isto: por que é que uma tradição criada há 20 anos atrás tem mais valor que uma que foi criada há meia dúzia de dias? Se há 20 anos atrás (e as tunas que havia por essa altura e que hoje restam tal como eram nessa mesma altura são poucas) tivessem dito que "a tradição é vestir calças de ganga e colete de cabedal para tocar música do rancho" era essa a tradição, e hoje o pessoal que anda por aí trajado de capa e batina seriam uns "morcegos"...

É por tanta "desafinação" nessas mentes de pseudo-críticos-intelectuais-tunos que quem gosta de música normalmente não vai à bola com tunas... e eu, formado em Ciências Musicais, com alguns passos dados em festivais de tunas, não pago um tostão que seja para ouvir tunas ao vivo, pois todas, senão quase, são tristemente atrasadas para não admitirem naturais evoluções. É pena.

E ainda mais penoso quando se consideram "embaixadores da cultura e música portuguesas". Mais uma - e suficiente q.b. para nunca me ter metido numa coisas dessas!

Vão aprender a tocar guitarra e vão ler uns livros de história da música, que assim ocupam melhor o tempo!

J.Pierre Silva disse...

Um músico de formação, achar natural que certas tipologias devem evoluir, parece-me o exercício de dar um tiro no pé.

Também um rancho tem de evoluir musicalmente?
Evoluir não é desvirtuar ou descaracterizar!
Se ao Canto Gregoriano sucederam novas formas, se ele evoluíu, tudo o que daí resultou deixou de se chamar Canto Gregoriano, fiz-me entender?

Que a Tuna possa evoluir no virtuosismo, na execução, é uma coisa.....mas descaracterizar é algo que não se confunde com pseudo-evoluções, ou dexamos de ter Tuna para ter outra coisa qualquer (que não condeno, mas não chamo Tuna).

Depois, não estamos a falar de uma tradição criada há 20 anos, porque bem anterior (o que há, isso sim, é um percurso retomado há 20 anos, o qual ainda está a fazer caminho), ainda assim, tem mais valoração que algo com uma dúzia de dias, não apenas porque já existia, mas porque quem entrou optou por esse modelo.

E se não se optou, há 20 anos por coletes de cabedal e afins, é porque houve quem tivesse o bom senso de não inventar, mas ter o cuidado de olhar para trás.

O meu amigo anónimo, formado em ciências musicais, compreenderá que a Tuna não é só música ou festivais, muito pelo contrário, daí que fosse pertinente não fazer o papel de douto em matérias que não domina.

As tunas são embaixadoras da cultura portuguesa, no tocante à área em que se inserem, e o que produzem musicalmente é, ou deve ser, apenas parte do que têm para oferecer, daí que não as podemos julgar apenas pelo que produzem musicalmente (porque umas melhores que outras, dependendo dos seus recursos humanos).

Se a música fosse apenas para gente formada em ciências musicais não existiriam tunas, nem coros, nem outra coisa qualquer, mas ainda bem que assim não é, porque são, normalmente esses, quem menos faz pela música e cultura musical académicas (com as devidas excepções, claro).

Resta saber o que o meu amigo anónimo fez para melhorar essa situação que critica, em alguns pontos, eventualmente com alguma razão.

Quem gosta de música também ouve tunas, ou só detém legitimidade para catologar boa música, alguém formado na área?
Os músicos de profissão só tocam para os seus pares? É que o público, que eu saiba, não tem de mostrar currículo para entrar, ou tem?
Quando os auditórios se enchem, é só de gente licenciada em música?
Se assim fosse, pobres dos músicos!

Presunção e água benta, cada qual toma a que quer!

Anónimo disse...

"As tunas são embaixadoras da cultura portuguesa".... qual cultura?? A da "Mulher Gorda"??? ou a da "estava a assar sardinha com o lume a arder"?? Bem, se isso é a cultura portuguesa, acho que deviamos votar no Zé Cabra para primeiro-ministro!!
Presunção, caro colega, é criticar arrogantemente um traje diferente quando aquele que se defende nem se sabe porque se usa nem tão pouco como se usa! Parece-me menos despropositado usar um kilt do que andar de Capa e Batina com uma lapela cheia de pin's ao estilo "árvore de natal" ou uma capa, que supostamente seria "negra" (para quem não sabe o significado do termo "capa negra") mas se encontra povoada por 567978684032 símbolos que nada têm a ver com a vivência de estudante... e pior ainda que usar um kilt é ver as lindas "donzelas" tunantes que se intitulam pandeiretas a fazerem o que bem entendem com a saia do suposto traje académico (desse que se defende com unhas e dentes), desde abrir rachas, a meter fechos, a subir bainhas, é o vale tudo desde que esta propricie um bom "abrir de pernas", porque é isso que caracteriza actualmente uma boa pandeireta feminina! Noutras circustâncias teriam outro nome, mas como até trazem uma capa pode-se-lhes chamar tunantes...
"(...)achar natural que certas tipologias devem evoluir, parece-me o exercício de dar um tiro no pé." Qual foi mesmo a tipologia que não evoluiu já? A música que as tunas tocam e cantam?? Se bem me lembro, as tunas surgiram como divulgadoras da musica popular portuguesa. Mas o que temos actualmente? As tunas a atropelarem-se em festivais para ver quem consegue repetir mais temas muito pouco originais, tirados de bandas sonoras de filmes, de cantores pop, de músicas brejeiras, no verdadeiro "vira o disco e toca o mesmo"? Ou a passagem dos ditos intrumentos populares para os contrabaixos, os jambés (até baterias já vi) com uns confettis e serpentinas à mistura para colorir o espectáculo? Parece-me que a dita "evolução" já se deu, mas para muito pior do que seria esperado, levando-me a questionar o nível intelectual dos próprios alunos que frequentam o ensino superior e que, portanto integram a maioria das tunas.
Se esta é a cultura que as tunas querem continuar a invocar, ainda bem que os verdadeiros nomes da cultura portuguesa já faleceram há muito, porque se vissem o espectáculo...morriam!

J.Pierre Silva disse...

"...qual cultura?? A da "Mulher Gorda"??? ou a da "estava a assar sardinha com o lume a arder"?? Bem, se isso é a cultura portuguesa, acho que deviamos votar no Zé Cabra para primeiro-ministro!!"

Certamente que o meu amigo perceberá que não podemos tomar a parte pelo todo. "A Mulher Gorda", para tomar este exemplo, é um tema de recolha transmontano (feito pela Tuna Académica da UTAD e "roubado" pela E.U.L.), ao qual se acrescentarma ou substituíram as quadras.
Estou tão de acorod consigo em discordar de certos desvios, mas meter tudo no mesmo saco é que não me parece ser adequado, pois há quem prime pela excelência (a todos os níveis). Não podemos resumir a cultura apenas à música, mas também não nos podemos esquecer que até esses exemplos que dá fazem parte da cultura nacional, mais ou menos pimba, goste-se ou não (eu não gosto, diga-se).

Para não ocupar tornar extensa a resposta, citando-o, dizer que eu critico o Kilt pelo já exposto, como indumentária que nada tem a ver com a cultura tunante e académica nacional ou ibérica (quando neste ponto falamos de tunas). Do mesmo modo que critico os "generais russos" cheios de medalhas nas lapelas, e afins (como já o fiz neste blogue (é uma questão de ter pachora para o ler.

Não critico arrogantemente, mas veementemente algo que é abjecto e desprovido de qualquer significado, dentro de uma tradição académica estilizada.

Defendo, com conhecimento, o bom uso do traje académico ou de tuna, dentro daquilo que são os parâmetros consensuais (e os dados históricos ou tradicionais que existem sobre o assunto) sobre o porte e vestuário dessa realidade, sobre a qual me tenho alongamente debruçado neste blogue, e sobre o qual tenho, também, estudado alguma coisa, de há uns anos a esta parte. Po risso mesmo, não falo do que não sei.

Por certo que os aspectos que salienta sobre saias e afins, merecem atenção, e com eles estou, grosso modo, solidário e em concordância. Sendo ambos problemas, são contudo distintos

Uma coisa é uma orquestra sinfónica de Berlim (salvo erro) acompanhar os Scorpions, outra é apelidar os Scorpions de orquestra sinfónica. O Kilt não petence à tradição académica em lado algum (nem na Escócia) e muito menos à Portuguesa no geral.

As Tunas não surgiram como divulgadoras da música portuguesa "tout court", bastando atentar às muitas que, por exemplo em princípios do século passado, executavam temas clássicos, tangos, valsas, boleros, marchas para além das de cariz popular. Por ese mesmo motivo, não é objectivamente restrito esse aspecto, embora haja consensos quanto ao que não é tido como próprio de Tuna, nomeadamente no espectro de instrumentos a utilizar (os quais se defende que seja prioritriamente acústicos).

Po resse mesmo motivo é que também repudio baterias e afins, mas se passar os olhos pelo livro "Tunas do Marão", perceberá que os instrumentos em uso nas tunas nem sempre estiveram confinados a cordofones ou instrumentos "populares" (nem há razão para que o sejam, embora haja limites, obviamente). O mesmo se aplica oas temas escolhidos. É uma questão que está hoje na ordem do dia, que é amplamente discutido, numa comunidade que procura definir-se, depois destas 2 primeiras décadas de percurso (onde muita coisa se fez de bom, mas também de mau).

Já se os temas são repetidos, uma coisa é inquestionável: quando bem tocados, quando bem urdidos, não enfastiam, nomeadamente quando cada interpretação dos mesmos por tunas diferentes, rivalizam em qualidade.

Mas este artigo é sobre traje e não sobre música, daí que, quanto a isto, apenas dizer que, como diz o ditado "À erra onde fores ter, faz como vires fazer!", ou seja há que haver o discernimento de não atropelar tradições e património comum, com umbilicais desejos de invenção pelo simples desejo de parecer diferente. É que tanto quererem ser diferentes, passam a sé-lo, deixando de ser tuna.


Uma vez mais, não podemos rotular a Tuna e sua cultura, apenas pelos maus exemplos ou arquétipos erróneos, ignorando todos quantos não porfiam desse modo de ser e estar (e que ainda são muitos).

Anónimo disse...

Justificar o uso de kilts e sapatilhas porque se usa mal a Capa e Batina tem a mesmíssima validade que justificar-se o 11 de Setembro com as câmaras de gáz dos campos de concentração Nazis: É absurdo, ignóbil, ridiculo e seria cómico até se não fosse tão argumentativamente imbecil.

É mau andar-se mal trajado seja com que traje seja. Mais grave será inventar coisas que nada têm a ver com a Tradição estudantil e tunante e fazê-las passar por coisas estudantis ou tunantes.

Usar bem o kilt (!!??) não serve de atenuante em nada face ao trajar mal Capa e Batina. E esta ultima se for mal usada é obviamente mau. Mas isso não torna o correcto uso de um kilt num traje aceitável pelo meio tunante. Dizer que uma aberração qualquer por sê-la até de primeiríssima qualidade não serve de justificação para se inserir em algo que nada lhe diz respeito. Trajar mal Capa e batina está errrado e deve ser punido, denunciado e corrigido; Tentar com isso "impingir" coisas contra-natura Tunante é mais grave ainda do que trajar mal porque é uma forma arrogantemente fraca de tentar justificar o obviamente injustificável, porque compara o incomparável; seria o mesmo que dizer-se em tribunal que se matou a rajada de metralhadora 50 pessoas e muito bem porque "li o Mein Kampft" e o autor do livro até matou "uns milhõeszitos", coisa pouca....

J.Pierre Silva disse...

Caro RT, não poderia estar mais de acordo!
Escamotear o uso do Kilt com argumentos musicais ou com o mau uso que alguns fazem do traje, no modo como o envergam, é pernicioso.

Música e traje são realidades distintas, tal como Kilt e batina são realidades totalmente diferenciadas, sem qualquer ponto em comum, nem mesmo no tecido!

Anónimo disse...

Não me revendo de maneira alguma nas palavras do anónimo(que no Portugaltunas assina AM)não posso deixar de afirmar que,em minha opinião,não vejo nada de mal no uso desse "kilt"!Sei que é uma tradição escocesa(adoptada por várias partes da Grã-Bretanha)mas também sei que o traje adoptado pelo IADE(que até já foi "mostrado" num programa do Herman,julgo)contempla um "kilt",por que é que a sua Tuna não o há-de usar?Desde que não o façam erradamente(e só a sua academia os pode "penalizar")não vejo por que é que eles teriam que mudar de traje!A sua tuna tem é que ser julgada pela sua qualidade em todas as vertentes!
Mas,reitero o que disse no início,ou seja,o que o "anónimo" disse sobre o traje "normal" não tem cabimento!Até os membros da Tuna do IADE,em determinadas alturas,devem usar mal o seu traje!São "coisas da vida"!!:)

Saudações tunaes a todos!!

J.Pierre Silva disse...

Ou seja se um dos nosos ministérios decidir hastear a bandeira chinesa ao invés da portuguesa, nas suas instalações tal não tem mal, porque só a si lhe diz respeito, é isso?

E se o Regimento de Artilharia de Vendas Novas passar a usar como farda a seus homólogos romenos (por exemplo) e jurar bandeira sob o estandarte do Congo, está tudo bem, principalmente se canta ro hino grego!?!

TRaje Académico em Portugal, tem uma matriz. Existem muitos que não a capa e batina, mas todos nela inspirados, fazendo a assimilação de traços etnográficos ou culturais regionais à capa e batina, mas tudo na geografia culturale social daquilo que é nosso: português (e, quando muito,ibérico - quando se trata da tradição tunante).

Essa história de "é lá com eles" é olhar pró lado.
Uma suposta instituição permitir o Kilt como traje académico releva sintomas preocupantes e uma falta de valores nacionais a toda a prova.

Não se trata de um pólo universitário escocês em Portugal, o que ainda justificaria alguma coisa (se é que isso fosse possível).

Haja respeito, isso sim, mas pela nossa tradição, e não para coisas que nos querem impor de fora para dentro, sem qualquer propósito, só pelos simples desejo de "dar nas vistas"!

Anónimo disse...

Pois eu concordo e muito com a dita opinião do anónimo AM... E ainda gostava de saber o que é que definem por "natura tunante"...ou "contra-natura tunante"... "tradição tunante"... "valores nacionais"... isto sim, é ignóbil!!! Isso na prática traduz-se em quê? Aliás, nem é preciso responder, basta atentar no actual panorama tunante que nasce como ervas daninhas, reflectindo a igual emergência das instituições de ensino superior que representam (qual é a terriola que não tem uma Queima das Fitas, por exemplo?)... O que vos parece que estes "tunantes" entendem por "tradição"? Isso existirá, porventura? Como definir "natura tunante" de tunas que nascem do nada, só e apenas porque as que já existem não servem para si, e portanto vamos criar uma nova, que é o que está mesmo a fazer falta na nossa terra??? Acham mesmo que a maioria da tunas existentes (eu diria 80%) e respectivos tunantes páram para pensar em "natura"? Em "tradição"? As tradições são as que se vão copiar à academia do vizinho... Muda-se-lhes uma fita aqui, um fecho ali, e temos uma tradição! É lamentável dizer isto, e sobretudo desprestigiante para as tunas que têm cartas dadas a nível de qualidade, antiguidade e tradição! Mas quer queiramos quer não, esta é a realidade que temos.
"Mais grave será inventar coisas que nada têm a ver com a Tradição estudantil e tunante e fazê-las passar por coisas estudantis ou tunantes." Isto, infelizmente, é o que todos os dias vejo fazer, de capa e batina... E o mais grave é que poucos parecem importar-se com isso...

J.Pierre Silva disse...

Os diversos casos supra-mencionados, de desrespeito para coma tradição, as tunas feitas "a martelo" são, também, motivo de preocupaçãoe atenção. Aliás, somso alguns a já ter dado o nosso contributo, alertando para esses casos (seja em blogue pessoal, seja noutros locais, como o ptunas).
Mas não é o erro alheio que justifica o nosso. Ambos são erros.

Ritzz! disse...

Espero que desde o passado ano de 2007, quando este "maravilhoso" post foi escrito que a sua opinião tenha mudado. Sou aluna do IADE e uma das coisas das quais mais me orgulha é passar na rua e poder ver pessoas trajadas com o kilt. Aliás pq a tradição é inimiga da evolução, e a falta de identidade é uma coisa que me faz comichão. E o que não falta p'rai, principalmente falando de trajes académicos, é a falta de identidade. Na nossa maioria somos estudantes de artes, e se calhar é isso que nos faz tentar inovar. A tradição e o espírito académico não está nas vestes que cada um enverga mas sim no coração de todos aqueles que por algum momento na sua vida viveram esses dias. E assim espero que mude a sua opinião, ou pelo menos que comece a achar que nem todos temos de andar vestidos de morcegos para que o espírito académico sobreviva.

J.Pierre Silva disse...

Para os tótós que acima pergunta oque é "natura tunante", aconselha-se a leitura do livro "QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal",a primeira obra sobre tunas estudantis em Portugal e a 1ª no mundo sobre a diáspora ibérica pelas américas, Europa e restante globo. Da Espanha ao Peru, de Goa ao Rio de Janeiro, da Austrália à Holanda........ uma visão holística do fenómeno tunante, desde o séc. XIX até aos nossos dias.

Escrito e pensado para os Tunos de todas as gerações, o rigor da investigação e a simplicidade da linguagem são os trunfos desta obra de referência obrigatória tanto para o público em geral como para sociólogos, historiadores, etnólogos e musicólogos.

Da década de 70 do séc. XIX a 1995, mais de 100 anos de história e estórias de uma cultura e património singulares, em cerca de 340 páginas.

Pode ser adquirido online,por 22 euros apenas, em:

http://www.euedito.com/qvid-tvnae-a-tuna-estudantil-em-portugal-ve.html

ISBN: 978-989-97538-0-8


Quem sabe aprendem alguma coisa!

J.Pierre Silva disse...

(1º Parte)

Cara Ritzz,

Não apenas não mudei de opinião, como reitero tudo quanto escrevi sobre o assunto.
Pode sentir todo o orgulho que quiser no seu kilt, mas isso não o torna legítimo enquanto traje da nossa cultura e tradição académica nacional.
Há também quem sinta orgulho em certas práticas abjectas, como recentemente ilustrei no artigo http://notasemelodias.blogspot.pt/2012/09/a-praxe-das-bestas-e-os-imbecis-da-praxe.html (e basta ver alguns comentários dos otários em questão ao artigo ou os que se seguem aos respectivos vídeos) e ficando indignado porque sediz que aquilo não são praxes nem Praxe.

A Tradição nunca foi inimiga da evolução, antes sim a ortodoxia resultante das mudanças.
Uma Tradição, para o ser, tem de manter-se fiel a certos pressupostos, precedentes e características que lhe conferem, precisamente, a designação de “Tradição”. Ora não há tradição em permanentes mudanças e desvios – a isso, minha cara jovem, chamam-se modas.
Terá de me dizer o que é para si falta de identidade, pois parece-me que conhece mal a história do Traje Nacional, ou então está a confundir, mais uma vez, moda e tradição.

A larga maioria dos trajes académicos que diferem do Traje Nacional são sucedâneos da capa e batina, ou seja são “construídos” com base nisso, a que se acrescentam traços da etnografia regional portuguesa. Poderíamos discutir da validade das opções tomadas em inícios dos anos 90, pois todos esses trajes pretendiam uma identificação própria, distinguir a academia, não serem confundidos com Coimbra.
Obviamente que foi uma parvoíce, pois existia uma secular identidade nacional que identificava inequivocamente o estudante universitário português: a capa e batina, o que hoje se perdeu, de certa forma. E hoje em dia, na quase esmagadora maioria dos casos, o objectivo da identidade não foi sequer conseguida, porque ninguém reconhece quem é quem, tal a variedade (e muito menos os turistas).
E no fundo……importa tal vaidade e bairrismo?

Além disso, a capa e batina nunca foi de Coimbra. A capa e batina, adoptada em finais do séc. XIX e inícios do XX, foi-o ao mesmo tempo no Porto, Coimbra e Lisboa, e em todos os liceus nacionais (distritos), vindo a ser declarado Traje Nacional por decreto governamental. Mesmo depois da abolição do porte e uso obrigatório, manteve-se traje identitário de qualquer estudante de liceu ou universidade.

Não minha cara, identidade existe, e certamente mais que no seu dito kilt que nem português é sequer, e em tempo algum pode ter a pretensão de ser uma tradição estudantil portuguesa que possa merecer o mesmo tratamento e respeito que os que se baseiam numa indumentária catalogada em termos etnográficos e históricos como próprios de Portugal e do estudante universitário.


Serem estudantes de artes não vos dá a legitimidade ou ónus da razão ou propriedade da criatividade e inovação.
O que você defende é simplesmente o direito que julgam ter de poderem desrespeitar a Tradição, bem como acharem que têm propriedade e legitimidade para redefinirem a própria Tradição, só porque vos deu, em tempos, na real gana de inventarem, ignorando tudo e todos (numa mistura de ignorância, irreverência libertina e falta de bom-senso).

A forma como tiveram o desplante de pegar na capa e batina e a delapidarem, costurando-lhe (colando-lhe) peças escocesas é não apenas abjecto como um desrespeito total para com a Praxe, a Tradição nacional.
É que nem sequer o kilt, a bolsa, as meias, e quejandos são sequer traje estudantil na Escócia.
Quanfdo foi criado o traje do IADE foi por mera invenção, nada mais. Não tem base histórica, não tem fundamento na tradição estudantil das roupagens académicas, etnografia nacional ou qualquer historicidade que o legitime enquanto paritário dos demais trajes académicos nacionais.
Quando um traje é criado assim, ou é para um desfile de moda ou para o Carnaval.

(continua...)

J.Pierre Silva disse...

(2ª parte)


Por muito que isso lhe custe a aceitar, as coisas são mesmo assim.
Lamento que mostre tamanho desprezo pelo Traje Nacional ao apelidar de morcegos os que o envergam , um traje com história, com crédito, com prestígio, coisa que o seu não tem, nem terá, sendo antes alvo da chacota de todo o país, um país estudantil do qual o IADE se quis distanciar, achando-o muito démodé, achando-se melhor do que todos os outros e achando que o seu Kilt afirmava algum tipo de diferenciação positiva em relação aos “pobres morcegos” de norte a sul do país (e ilhas).

Não me venha pois com “espírito académicos” porque ele é como o bom-senso que todos acham possuir e os outros não. Nem você sabe o que é espírito académico, nem você percebe a diferença entre isso e Praxe/Tradição.
Não é preciso sequer traje para ter ou sentir espírito académico.

Não, minha cara, não mudo de opinião, nomeadamente porque nenhum facto, nenhuma prova suporta ou justifica a opção do kilt enquanto traje académico português.
Para mudar de opinião, têm de me demonstrar que estou errado, e nessa altura não só o faço como reconheço publicamente que estava errado.
Mas não creio que seja você que o consiga, não apenas porque apenas opina (e não argumenta ou justifica cabalmente), mas porque nem sequer mostra ter conhecimento quer daquilo que defende, quer daquilo que critica (história da capa e batina, saber sobre Tradições Académicas…..).
Assisti, ainda você não era nascida, ao dealbar das modas dos novos trajes, quando todos queriam era ser diferentes e quanto mais vistosos, excêntricos e espalhafatosos melhor, com N variantes de cores, fitas, chapéus, emblemas nos ombros, pins, crachás e afins, para cada qual poder ostentar as suas diferenças e vaidades pessoais (hierarquia, origem, partido, clube, sexo….), por isso conheço bem a origem das patetices e o que motivou boa gente a inventar parvoíces a metro.
A única grande diferença entre esses trajes e o kilt é que os estudantes das academias em causa mantiveram limites (a identidade nacional/etnográfica/histórica), enquanto os do kilt pura e simplesmente se arvoraram em fazedores de “tra(d)ições”, apropriando-se da capa e batina e des(re)fazendo-a a seu belo prazer, como se fossem donos exclusivos da razão, do saber e da própria Praxe.

Termino apontando o seguinte link para um debate onde um colega seu fez algumas observações que tentavam justificar o traje:
http://portugaltunas.com/forum/resposta_a_opiniao_sobre_o_traje_e_o_kilt/forumid=1/id=26480/