segunda-feira, outubro 13, 2008

Notas ao interior do Traje

Em tom jocoso e sarcástico, que o assunto só consegue mesmo provocar esse sentimento, trago à baila a última (que nem é assim tão recente, diga-se) das modas contemporâneas sobre a arte de bem vestir o Traje Académico.
Não falarei do que se vê, mas, como diz o outro no Rei Leão, para lá do que se vê: falo do traje académico de interiores, vulgo roupa interior normalizada e de uso "obrigatório".

Pois é, parece que uns iluminados pela acefalia aguda criaram a moda de que era imperativo que, com Traje Académico, se usasse determinado tipo de roupa interior (uma jogada de marketing com alto patrocínio de muitas AEs e/ou Conselhos de Praxe) . Nuns casos, são os belos boxers, meias com logótipo, etc., noutros estipula-se que tem de ser toda preta. Há para todos os gostos. Quando mais estúpido e ridículo, melhor. Como o assunto é roupa interior, na cabe, por exemplo, o caso de uns meninos de kilt (que fazem disso traje académico) e que determinam que, com ele vestido, é sem roupa interior (o passar da revista, caso se faça, ou um leve descuido em público já torna o caso um caso de polícia - atentado ao pudor).

A pergunta é clara: não querem legislar sobre mais nada? Sei lá, sobre de que lado deve estar a capa quando beijamos a namorada, se o penso higiénico deve ter uma colher de pau estampada ou se o preservativo deve também ter logótipo bordado.
Depois da mania de andar com o colete com 1 botão desapaertado (ideias peregrinas de quem quer inventar pseudo-tradições), já só faltava esta.

Pergunto-me, então, como se fiscaliza o cumprimento desse normativo. Pede-se às pessoas para baixarem as calças ou levantarem a saia?
E se o soutien for cor-de-rosa ou o boxer tiver motivos florais, em que pena se incorre? E quem andar sem qualquer adereço interior, paga multa, mesmo que os seus ditos sejam claustrofóbicos e possua atestado médico a comprovar a necessidade de arrejo ou exige-se, pelo menos, um logótipo tatuado na nádega?

Quem sabe se a moda de andar com as calças ao fundo do rabo, com os boxers à mostra (gente sem espelhos em casa que não conhece o conceito de decoro e aprumo e bem dá impressão de ser deficiente físico ou precisar de ir à Corporacíon Dermostética para levantar o rabo que descaíu meio metro) não pega também pelos lados do Traje Académico. Também já só falta isso!
Se a moda se alastra, a revista torna-se mais fácil, pelo menos isso. Até estou a imaginar o passar da revista a uma trupe onde a palavra de ordem é: "Toca a baixar as calças!" (conquanto não seja uma veterana, para não haver interpretações indesejadas! Hehehehehe).

Nada contra esse material promocional e de marketing existir, mas daí a dar-se a ideia que é imperativo o seu uso quando trajados.........vistam lá umas coisas dessas aos neurónios a ver se andam mais........."na praxe"!

Numa época em que o povinho anda de calças na mão, a conjectura é propícia!

O Rei vai nu.... a praxe para lá caminha!

7 comentários:

Anónimo disse...

É como aquela de poderem usar guarda chuva se fosse com símbolo estampado da associação de estudantes que vendiam a bom preço quando de traje não se anda de guarda chuva.
Quando o objectivo é ganhar dinheiro, adapta-se a praxe. Nada mais fácil! Já se vé de tudo.

Eduardo disse...

Quanto a guarda-chuvas, pelo menos no Porto pode-se andar de guarda-chuva desde que o objecto tenha 12 varas - não discuto a validade deste preceito, que é mais antigo do que eu...

Quanto à roupa interior: é pura e simplesmente proibido fazer revista à roupa interior - era o que mais faltava... Daí ser um contra-senso de tal forma inconcebível obrigar caloiros a fazerem strip-tease, como inconcebível é decretar-se sobre o que cada um usa - ou não... - por baixo do traje...

Quanto ao último botão desapertado no colete: não é um preceito de praxe, mas de elegância em geral. Por etiqueta, nunca se aperta o último botão do colete. Ao que parece, certo rei inglês ter-se-ia esquecido de abotoar o último botão inadvertidamente... E era ver a corte em peso a macaquear o augusto e sereníssimo lapso, para não parecer mal diante do monarca... A coisa, pelo visto, pegou - para ficar.

Abraço!

J.Pierre Silva disse...

Também na minha faculdade existia o regime excepcional do guarda-chuva de 12 varras com cabo de madeira "e coisa e tal" que, segundo creio, norma que permanecia (o nosso código baseia-se no de Coimbra) por ser utensílio raro (pelo menos com essas características).

Quanto ao colete, percebo perfeitamente o argumento, mas como nós saberão os demais que se prende com etiqueta?
Por outro lado, até porque nem falei nisso, que dizer das colheres de café a servir de pinça nas gravatas?
Eu vejo com cada "tradição" que até me dá voltas "aux entrailles"!

Forte abraço, amigo Eduardo!!!

Anónimo disse...

Colheres de café a servir de pinça de gravata? Essa nunca tinha ouvido... Realmente há idiotas para tudo...

Quando puderes, dá uma vista de olhos ao fórum Praxe Académica.

Abraço!

Eduardo

Panamá disse...

de facto, há sempre invenções, pena que sejam para dar lucros monetários a uns e não para pregar umas partidas, porque há sempre quem caia.
A parte do guarda chuva com 12 varas... faço de conta que não o sei pois deve ser uma preciosidade e uma raridade encontrar semelhante objecto.
Quanto as colheres de café... Andas distraido Eduardo... aos anos que isso acontece!! lembro-me da minha Tuna actuar em Santarém e os nossos guias (com muito amor e carinho e bem intencionados, claro) passaram a tarde toda enquanto faziamos passacalles e pedipaper a adquirir academicamente as colheres de café para darem uma a cada elemento da tuna, para colocar dobrada na lapela do traje. Não tivemos coragem de não a colocar, pois era uma desfeita. Mas obviamente que chegadas ao Porto, a reliquia teve que ir para o baú de recordações. Mas que cada vez mais isso vem proliferando, até a nível geográfico...
Saudações

Anónimo disse...

Caríssima Panamá:

a questão do guarda-chuva de 12 varas é parte essencial do espírito dos códigos de praxe: tornar certas condições tão difíceis de realizar só para não se dizer que é absolutamente proibido - ou permitido, conforme os casos. Que sirvam de exemplo as condições para se poder praxar o reitor: que este esteja à porta da Torre dos Clérigos à meia-noite. Ora isto é uma condição tão altamente improvável que o mesmo é dizer «Não se praxa o Reitor».

É este espírito de «gozo» com o próprio código e a praxe que faz com que a própria formulação dos preceitos tenha uma intenção cómica que muita gente não entende, tendendo a levar tudo à letra e andar à cata de botões nos colarinhos ou o número de ilhós nos sapatos.

Costumo dizer que cada um anda na praxe como na vida: há quem passe toda a vida à cata de pequenos defeitos nos outros para fazer valer a sua «superioridade moral»; há quem seja menos judicativo, já que «aquilae non capiunt muscas». A águia tem mais que fazer do que andar a caçar moscas... Filtrar o essencial e preocupar-se apenas com o que realmente vale a pena é outra forma de estar na vida... e na praxe.

Abraço!

Eduardo

Anónimo disse...

Em relação ao chapéu de chuva, desconheço se na minha academia existe isso, mas acho que não é permitido, também a capa não serve só para estar no ombro... já me serviu para muitas coisas, cobertor, colchão, almofada, toalha, etc... e até mesmo chapéu de chuva

Quanto à colher, eu conheço muitas universidades que usam essa regra, acho que até é um dos poucos "adereços" permitidos no traje académico, tirando o relógio de bolso (não uso nenhum dos dois). Em relação ao ultimo botão do colete desapertado, na minha universidade tem essa regra, esse botão só é apertado caso seja casado.

Por ultimo, a roupa interior, acho uma estupidez isso de terem cores e como já foi falado, ninguém vai ver de que cor e a roupa interior da pessoa.

NOTA: Em relação as calças no fundo do rabo, eu acho que vamos entrar um novo período (espero estar errado), "Período Morangos Com Açúcar...", só falta agora trajados com brincos enormes onde cabem um papagaio la dentro. Beware...

Abraço,
GR