quarta-feira, agosto 15, 2012

Notas (en)Latada(s)

Este artigo traz-nos uma novidade para a larga maioria dos leitores: que as latadas também ocorreriam também nos Liceus (nomeadamente os ditos "centrais").
O artigo que se segue fala-nos de uma latada que, contrariamente ao que hoje sucede, assinalava, precisamente, a alegria do final do ano lectivo no liceu local  (à semelhança do que se fazia na Universidade).
Sabemos que só a partir dos anos 40 em diante é que a "Latada" foi movida para o início do ano escolar, ligada à imposição de insígnias.
Sobre a história das Latadas, já AQUI reproduzimos o que tão bem se escreveu no blogue Penedo d@ Saudade.

Sabemos que não apenas a capa e batina, mas muitas outras tradições eram partilhadas entre liceus e Universidade, fosse na recepção aos novatos, fosse em algumas festividades ou mesmo na formação de grupos de cariz musical (em Coimbra, por exemplo, a TAUC admitiu liceais durante décadas). Não se estranha, por isso, esta latada, embora ao invés dos nossos dias, tivesse sido levada a cabo em regime nocturno.

O caso concreto, aqui, é singular pelo facto de estarmos perante uma adopção recente, uma estreia, numa pacata cidade de província e em plena noite, o que motiva a crítica do próprio jornalista.

Recordemos que Viseu (e outras vilas nos arredores, como Tondela, por exemplo) era visitada 2 a 3 vezes por ano pelos estudantes de Coimbra (que não apenas os naturais), em saraus caritativos e, tradicionalmente, nas famosas récitas de quintanistas (normalmente de Direito), daí que houvesse uma tão grande proximidade aos costumes estudantis e o fascínio dos alunos do Liceu local que, tal como sucedia noutros brugos, procuravam imitar esses modelos, fascinados que ficavam por aqueles doutores de capa e batina, os quais gozavam de enorme prestígio e simpatia junto das populações.

O facto é que a dita latada protagonizada pelos liceais, ainda para mais à noite,  deu mais dores de cabeça que outra coisa, numa cidade pouco habituada aos ruídos estudantis (e aqui vem à memória uma das razões pelas quais a Universidade, nos seus primeiros anos de fundação saiu de Lisboa para Coimbra: as queixas da população quanto ao barulho e desacatos dos estudantes).

Não se encontrou ainda registos adicionais de novas latadas, deixando a entender, porventura, que a coisa não pegou.

Jornal A Liberdade (Viseu), de 04 Junho de 1892, 22º Anno, nº 1122

1 comentário:

Sir Giga disse...

Permite-me apenas uma achega. Em Braga, sucedeu-se um fenómeno contrário ao que apresentas. O "Enterro da Gata" em Braga era um cortejo de alunos do liceu Sá de Miranda, por ocasião das festividades do 1º de Dezembro. Na Universidade do Minho, não só ao cortejo mas toda a semana académica do final do ano lectivo foi dado o nome de "Enterro da Gata", em homenagem ao original. Também o teor cómico/crítico que rodeia o cortejo académico na UM foi beber a sua inspiração ao "Enterro da Gata" original.

Um abraço