quinta-feira, outubro 26, 2017

Notas de Vídeo sobre o que é Praxe (2016)





Uma entrevista originalmente publicada em 2 vídeos, no youtube, em que uma aluna entrevistada, uma jovem aluna da FADEUP, pretende explicar em que consiste e se traduz a praxe - e escrevemos "praxe" com letra minúscula, porque, pelas palavras da entrevistada, a mesma não parece saber muito bem o que é Praxe e o que são praxes (gozo ao caloiro), e confunde-se completamente com o termo "praxar".
 

 
Visto o vídeo, retemos o seguinte:
 
 
"(- O que é a Praxe?)
Essa é a mítica pergunta que toda a gente faz e para a qual não há uma resposta que seja uma ciência exacta."
 
  • Não pode ser ciência exacta, para quem não estudou nada do assunto e faz do "ouvi dizer" a sua bibliografia. A definição de Praxe existe. O entendimento disso depende do grau de empenhamento colocado em perceber o assunto.
 
"A praxe é uma forma de estarmos na vida, por exemplo."
 
  • Infelizmente, há muita gente mal resolvida que faz da praxe uma "estranha forma de vida".
 
"Quase toda a gente define a praxe como uma forma de nos integrarmos na faculdade. Não é. Felizmente é uma consequência de algo muito maior, muito mais acima do que a integração."
 
  • Que algo muito maior? Que algo mais acima? A pobre entrevistadora parece não perceber (apesar de assentir que sim), e nós também não.
 
"A praxe é um conjunto de regras em que as pessoas que estão na praxe aceitam estar sob essas regras; aceitam viver, aceitam defender a praxe segundo aquelas regras."
 
  • Até começa bem, mas depois atira para o pé com o "defender a praxe". Lá está: não basta ouvir dizer umas coisas, porque no meio se perdem dados importantes.
        Muita confusão. Muita.
 
"Isso que vocês (no Brasil) chamam o trote, parece-me a mim aquilo que nós chamamos de gozo ao caloiro, que é diferente do praxar em si, é diferente da praxe. O gozo ao caloiro está inserido na praxe. Fazemo-lo, mas não é a praxe. Não estamos a praxar propriamente, quando fazemos o gozo ao caloiro."
 
  • A partir daqui perdeu-se o fio à meada. É a confusão total. Fácil perceber o quanto a formação importa. Para esta moça, há gozo ao caloiro (que não é praxe), há praxar e há praxe. Assustador!
 
"Quando nós traçamos a capa, estamos a praxar."
 
  • Já vivi muitos anos. Esta nunca tinha ouvido! Estou profundamente estupefacto!

 
"A praxe em si (...) é um conjunto de regras, de tradições, de história em que toda a gente aceita defender aquilo, reger-se sob aquilo."

 

  • Mais uma definição, mais uma argolada, mais confusão.


 

"Quando eu estou em praxe e quero ter a certeza de que a mensagem passa, eu digo:
- vais olhar para mim."

 
  • Ou seja, a moça, que até tem uma vaga ideia de que mandar caloiros olhar para o chão não tem fundamento, fica-se por dizer que, quando quer que um caloiro apanhe o que ela está a dizer, nesse momento, manda-o olhar para ela. E quando não é o caso, consente que ele fique a olhar para o chão? Não o diz.
  • No que concerne à reflexão sobre não haver um código de praxe, transversal em termos nacionais, não se sai muito mal, mas a argumentação é mal explorada.
 
 
     
"Para mim, pessoalmente, costumo dizer que a praxe é bom-senso, respeito e hierarquia."

 
  • O problema está logo no início: a Praxe não assenta numa visão ou interpretação pessoal. A definição de Praxe jamais pode assentar em "para mim a Praxe é".
 
"Antes de ser caloiro" há mais nomes (designações) que também existem"
 
  • Não sabia que na hierarquia da Praxe havia nomes de hierarquia atribuídos a quem ainda não é sequer aluno universitário. Salvo em Coimbra, no que se refere aos alunos de liceu (e que desapareceu da prática corrente desde 1970), nada há.
 
  • Quanto às denominações, em função de haver cursos com mais ou menos anos, é uma confusão de incoerências.
 
"O veterano é aquele que já terminou o curso, que já não veste o traje, simplesmente usa a capa"
 
  • Uma verdadeira aberração. Veterano, na Praxe, é quem tem mais matrículas do que as necessárias para terminar o curso.  É um estudante!!!! Quem já é formado não está na Praxe nem tem hierarquia de veterano. Veterano não usa só capa. Isso só o antigo estudante!!!!
  • No que toca aos números ímpares, a aluna da FADEUP tem uma posição correcta face aos factos, mas falha num ponto essencial: não sabe explicar por que razão acha que é mito. Está à espera que alguém lhe explique o fundamento de evitar números pares (e pode esperar sentada, pois não existem), quando ali se exigia que explicasse precisamente a falácia de tal.
 


 


CONCLUSÃO

 
Mais um vídeo que induz em erro, que passa mensagens e conceitos errados, apesar da entrevistada ser bem intencionada e se perceber que lhe chegou aos ouvidos algumas coisas correctas que aqui temos explicado ao longo de anos.


Mas lá está: não basta ouvir.

E quando é suposto (como nesta caso, numa entrevista - publicada urbi et orbi) explicarmos, é de bom tom estar preparado, estudar a lição, documentarmo-nos, evitando especialmente o "para mim" ou o "acho que".

 

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