Uma
entrevista originalmente publicada em 2 vídeos, no youtube, em que uma aluna entrevistada,
uma jovem aluna da FADEUP, pretende explicar em que consiste e se traduz a praxe
- e escrevemos "praxe" com letra minúscula, porque, pelas palavras da
entrevistada, a mesma não parece saber muito bem o que é Praxe e o que são
praxes (gozo ao caloiro), e confunde-se completamente com o termo
"praxar".
"(- O que
é a Praxe?)
Essa é a
mítica pergunta que toda a gente faz e para a qual não há uma resposta que seja
uma ciência exacta."
- Não pode ser ciência exacta, para quem não estudou nada do assunto e faz do "ouvi dizer" a sua bibliografia. A definição de Praxe existe. O entendimento disso depende do grau de empenhamento colocado em perceber o assunto.
"A praxe
é uma forma de estarmos na vida, por exemplo."
- Infelizmente, há muita gente mal resolvida que faz da praxe uma "estranha forma de vida".
"Quase
toda a gente define a praxe como uma forma de nos integrarmos na faculdade. Não
é. Felizmente é uma consequência de algo muito maior, muito mais acima do que a
integração."
- Que algo muito maior? Que algo mais acima? A pobre entrevistadora parece não perceber (apesar de assentir que sim), e nós também não.
"A praxe
é um conjunto de regras em que as pessoas que estão na praxe aceitam estar sob
essas regras; aceitam viver, aceitam defender a praxe segundo aquelas regras."
- Até começa bem, mas depois atira para o pé com o "defender a praxe". Lá está: não basta ouvir dizer umas coisas, porque no meio se perdem dados importantes.
Muita confusão. Muita.
"Isso que
vocês (no Brasil) chamam o trote, parece-me a mim aquilo que nós chamamos de gozo
ao caloiro, que é diferente do praxar em si, é diferente da praxe. O gozo ao
caloiro está inserido na praxe. Fazemo-lo, mas não é a praxe. Não estamos a
praxar propriamente, quando fazemos o gozo ao caloiro."
- A partir daqui perdeu-se o fio à meada. É a confusão total. Fácil perceber o quanto a formação importa. Para esta moça, há gozo ao caloiro (que não é praxe), há praxar e há praxe. Assustador!
"Quando
nós traçamos a capa, estamos a praxar."
- Já vivi muitos anos. Esta nunca tinha ouvido! Estou profundamente estupefacto!
"A praxe
em si (...) é um conjunto de regras, de tradições, de história em que toda a
gente aceita defender aquilo, reger-se sob aquilo."
-
Mais uma definição, mais uma argolada, mais confusão.
"Quando
eu estou em praxe e quero ter a certeza de que a mensagem passa, eu digo:
- vais olhar
para mim."
- Ou seja, a moça, que até tem uma vaga ideia de que mandar caloiros olhar para o chão não tem fundamento, fica-se por dizer que, quando quer que um caloiro apanhe o que ela está a dizer, nesse momento, manda-o olhar para ela. E quando não é o caso, consente que ele fique a olhar para o chão? Não o diz.
- No que concerne à reflexão sobre não haver um código de praxe, transversal em termos nacionais, não se sai muito mal, mas a argumentação é mal explorada.
"Para
mim, pessoalmente, costumo dizer que a praxe é bom-senso, respeito e hierarquia."
- O problema está logo no início: a Praxe não assenta numa visão ou interpretação pessoal. A definição de Praxe jamais pode assentar em "para mim a Praxe é".
"Antes de
ser caloiro" há mais nomes (designações) que também existem"
- Não sabia que na hierarquia da Praxe havia nomes de hierarquia atribuídos a quem ainda não é sequer aluno universitário. Salvo em Coimbra, no que se refere aos alunos de liceu (e que desapareceu da prática corrente desde 1970), nada há.
- Quanto às denominações, em função de haver cursos com mais ou menos anos, é uma confusão de incoerências.
"O
veterano é aquele que já terminou o curso, que já não veste o traje,
simplesmente usa a capa"
- Uma verdadeira aberração. Veterano, na Praxe, é quem tem mais matrículas do que as necessárias para terminar o curso. É um estudante!!!! Quem já é formado não está na Praxe nem tem hierarquia de veterano. Veterano não usa só capa. Isso só o antigo estudante!!!!
- No que toca aos números ímpares, a aluna da FADEUP tem uma posição correcta face aos factos, mas falha num ponto essencial: não sabe explicar por que razão acha que é mito. Está à espera que alguém lhe explique o fundamento de evitar números pares (e pode esperar sentada, pois não existem), quando ali se exigia que explicasse precisamente a falácia de tal.
CONCLUSÃO
Mais um vídeo que induz em erro, que passa mensagens e conceitos
errados, apesar da entrevistada ser bem intencionada e se perceber que lhe
chegou aos ouvidos algumas coisas correctas que aqui temos explicado ao longo
de anos.
Mas lá está: não basta ouvir.
E quando é suposto (como nesta caso, numa entrevista - publicada urbi et orbi) explicarmos, é de bom tom
estar preparado, estudar a lição, documentarmo-nos, evitando especialmente o
"para mim" ou o "acho que".
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