quinta-feira, julho 25, 2013

Notas ao percurso de um Bacharel de Coimbra



Um artigo que nos dá conta do percurso académico de um estudante em Coimbra (até se fazer bacharel - curso de 4 anos), as praxes, o estudo,...... um retrato muito interessante sobre a praxis na primeira década do séc. XX.
De notar que este artigo é acompanhado de imagens preciosas (forma de trajar, a pasta e fitas...), realçando-se uma que julgo profundamente importante: a trupe; pois são raros os clichés sobre este tipo de grupos.







Illustração Portugueza, II Série, Nº 302, de 04 Dezembro 1911, pp.710-713 (Hemeroteca Municipal de Lisboa).


Terminamos este artigo, recorrendo à citação transcrita por João Baeta (a quem desde já agradeço):

"SAUDADES DE COIMBRA
Dizem-me, porém, que apezar de tudo, apezar da frivolidade pautada dos dias da Coimbra academica d'hoje, terei saudades
d'estes dias. Ter saudades de Coimbra é para o bacharel um tributo tão obrígatorio como o pagamento da congrua para o cidadão inscripto na matriz. Seria menos attentatorio dos nossos preceitos sociaes visitar alguém em chinellos, do que sahir de Coimbra sem a alma retorcida de saudades.
Póde representar torturas, difficuldades monetarias ou inteIlectuaes de toda a especie a conquista da bacharelice. EIIa póde equivaler a um numero sem fim de humilhações, de desalentos, de anciedades, de faltas d'ar e de confôrto, de revoltas e de desdens. Mas conduido o quinto anno, preparadas as malas, o bacharel observador dos bons costumes começa a desdobrar o lenço para enchugar lagrima. E enchuga a lagrirna ao chegar á Estação-Velha, ao perder de vista a silhueta ondulada da cidade, ao entrar na terra abraçado por parentes e amigos. E a todos assevera, os olhos humidos em alvo, a voz rouca da commoção, a mão espalmada sob peito:
- Ai, aquillo sim, meninos! Vida como aquella não torna!... "
 
SOUSA COSTA: 191?; 218/219

1 comentário:

Zé Veloso disse...

Caro amigo, muito interessante a postagem deste artigo. É mais um contributo para o conhecimento das tradições académicas de antanho.
Duvido, porém, que a foto da trupe seja genuína. Será, provavelmente, uma encenação para registar esta prática para a posteridade.
Nunca fiz trupes mas fugi de muitas e fui rapado no final da década de 50, ainda eu andava no liceu.
As trupes actuavam de noite, no limite, ao lusco-fusco (a foto é tirada à luz do dia) e no momento do rapanço era escolhido um local abrigado das vistas indiscretas e a trupe fechava-se deixando o infeliz no meio.
Mesmo admitindo que nos anos 20 as coisas se pudessem passar de forma diferente, continuo a duvidar. Parece mais uma peça de teatro, com os actores virados para a plateia, do que uma cena verdadeira, captada por um fotógrafo exterior ao grupo. Suponho que nos anos 20 apenas os fotógrafos profissionais tivessem máquina e que as fotografias fossem normalmente tiradas em pose. Teria sido o caso.
Mas que as trupes existiam e rapavam caloiros e bichos apanhados na rua fora de horas... isso é bem verdade.
Um abraço,
Zé Veloso