quarta-feira, setembro 21, 2011

Notas a reter (Magnum do Porto Vs Tunas)

Porque importa desmistificar e explicar, tomo a liberdade de aqui reproduzir duas belíssimas intervenções feitas no PortugalTunas (clique AQUI para ver tudo), a propósito deste triste episódio protagonizado pelo Magnum do Porto.
Quem as profere foi, em seu tempo, Dux Facultatis do Porto, sendo igualmente um dos mais ilustres tunos da nossa praça.
Servem estes excertos para reforçar a certeza que as Tunas nada devem temer, que não devem satisfação ou obediência ao Dux e que têm toda a legitimidade para baterem o pé, quando a própria Praxe é ultrapassada ou pervertida, e as Tunas assim desconsideradas:


"Há três palavras que descrevem esta nova aberração:

RIDÍCULO - nem tudo o que se faz de traje cai imediatamente sob a alçada dos organismos de praxe. Se assim fosse, esses organismos poderiam proibir-me de, por exemplo, namorar com determinada rapariga pelo simples facto de tanto eu como ela estarmos matriculados na universidade. Que tem um bando de frustrados prepotentes que ver com quem eu me associo seja para que fim for? E se for para fazer serenatas? E se for para tocar música? E se for para fazer teatro? E se for para fazer amor? Não têm rigorosamente nada que ver com a minha vida privada, mesmo que as minhas actividades sejam públicas, ou publicamente assumidas. Desde que não esteja a participar numa actividade promovida por um desses organismos, não têm nada que legislar sobre mim ou sobre os grupos a que pertenço.

TRISTEZA - por constatar que há quem se submeta aos caprichos de pessoas cujo único mérito parece consistir em se raparem mutuamente e em circuito fechado, porque mais ninguém lhes liga bóia. Assim tivessem a coragem de denunciar as jogadas das queimas, a pouca-vergonha de quem se aproveita descaradamente dos estudantes, de quem se apoderou da manifestação mais visível da Praxe: a Queima das Fitas.

VERGONHA - de que haja gente que admita que outros lhes digam quem podem ou não convidar para suas casas. Mas era o que faltava que o meu vizinho de baixo me viesse proibir de receber quem eu quero em minha casa. Se alguma tuna retirou um convite que já tinha feito por causa desta anormalidade, essa tuna devia pintar a cara de preto. Como é possível??????????

Ridículo, tristeza e vergonha. Oxalá caiam em si e recuperem a dignidade.

Já deu para aprenderem alguma coisa? Espero que sim. Espero que esta abominação tenha ao menos o efeito positivo de fazer com que as pessoas aprendam à própria custa. Nada que não fosse previsível.

A bola está agora do lado das tunas: ou aparam o jogo, ou viram as costas e deixam os fulanos a bater bolas - ou a bater o que lhes apetecer... - contra a parede.

Abraço,

BOA MÚSICA e... HAJA AQUELA PARTE DA BIOLOGIA MASCULINA QUE É SINÓNIMO DE "CORAGEM" NA LINGUAGEM VERNÁCULA!"

O Conquistador, 20-09-2011
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"Vou analisar apenas um parágrafo da intervenção do RT. Escolhi este por conter uma gradação crescente de ingerência na vida interna das tunas a todos os títulos inadmissível. Revela, além disso, uma confrangedora ignorância que meteria dó, se não fosse perigosa.

A ingerência começa a um nível meramente superficial, pois pretende apenas que a Tuna X não convide a Tuna Y (declarada “anti-praxe”) para uma actividade:


«... impedir uma determinada tuna feminina de participar num certame de uma outra, ameaçando a anfitriã de que - caso não fosse retirado o convite em causa - "comeriam pela mesma tabela", ou seja, seria também ela declarada "anti-Praxe” (cito) como foi a convidada...»

a) se a actividade (festival) é promovida pelo Conselho de Veteranos, tem este todo o direito de interferir na organização. Porém, se a actividade é promovida pela Tuna, o Conselho de Veteranos não tem rigorosamente nenhuma palavra a dar sobre o assunto, tal como não dita regras nas actividades desportivas - ou de qualquer outra natureza artística, pedagógica, etc. - que os alunos da escola X entendam promover ou em que entendam participar.

b) que consequências práticas derivam de alguém ser declarado anti-praxe? Nenhumas, a não ser que seja "apanhado" a participar à força numa actividade directamente promovida ou ligada à praxe, podendo, nesse caso, sofrer sanções. Ora, não me cansarei de repetir que AS TUNAS NÃO NASCERAM DA PRAXE. Sendo assim, um Conselho de Veteranos tem tanta autoridade para declarar uma tuna anti-praxe como para declarar o Governo anti-praxe; ou a Reitoria anti-praxe; ou os empregados do bar e da cantina anti-praxe. Isto é NÃO TEM AUTORIDADE NENHUMA. É o equivalente a eu excomungar o Papa. Posso proibir determinado jogador de futebol de alinhar na selecção? Não. Posso formular essa proibição? Posso, contudo a mesma não tem qualquer validade. É o que acontece com um Conselho de Veteranos quando declara uma tuna anti-praxe. É uma declaração absolutamente inútil e por uma razão simples: não se pode declarar anti-praxe aquilo que não tem que ver com a praxe. Pode-se escrever um decreto com essas palavras; pode-se gritar do alto da Torre dos Clérigos com um megafone essa mesma proibição: não tem qualquer valor;

c) quem quer ser “dono” da praxe tem ao menos a obrigação de a conhecer. No Porto, como em Coimbra, existem as figuras da “protecção de Baco” e da "protecção de instrumento". Quer isto dizer que um académico que seja apanhado por uma trupe na rua a horas em que já devesse estar na cama, se transportar consigo um instrumento não pode ser incomodado, desde que prove que o sabe tocar. Pretendia esta medida proteger os caloiros que participassem nos grupos artísticos da universidade; como o caloiro não pode sair à noite, e os ensaios destes grupos eram em horário nocturno, o caloiro estaria proibido de participar nos ensaios. Ora esta medida é extensível a todos os académicos, pelo que uma Tuna está por sua natureza sob protecção de instrumento - de cordas, de percussão, de teclas ou vocal. Se não, está sob a protecção de Baco. Mesmo que um organismo de Praxe caia no ridículo de declarar uma tuna anti-praxe, coloca-se no duplo ridículo de não poder exercer sanções por os seus elementos estarem necessariamente sob uma das duas protecções... Isto é, mesmo que se arme uma “milícia” para castigar os refractários, essa milícia não pode fazer rigorosamente nada!


d) Suponhamos que uma das consequências de se ser declarado anti-praxe era a proibição do uso da capa e batina. Ora O TRAJE É DA ACADEMIA (ACADÉMICO), NÃO DA PRAXE. Qualquer aluno tem o direito de usar o traje a partir do momento em que se encontra matriculado, pelo que NÃO PODE SER PROIBIDO DE O USAR. Donde se segue que se eu for despedido o meu ex-patrão não pode continuar a dar-me ordens... Se a minha tuna for declarada anti-praxe, deixa, por esse mesmo motivo, de estar sob a alçada da Praxe - onde nunca nenhuma tuna esteve, é bom que se recorde.

Volto a fazer a pergunta: que consequências práticas advêm de alguém ser declarado anti-praxe? Nenhumas: não posso ser proibido de usar o traje académico nem posso ser praxado. Que pena...

A ingerência sobe agora de tom e de nível - e de ridículo:


«retirar a uma dada tuna do estatuto de "académica" com a conivência do próprio Dux da sua própria casa - que foi, qual acólito, apresentar queixa a "São Pedro"»

O Dux daquela casa - e não sei de qual se trata - não tem sequer autoridade sobre os seus. Não tendo força a nível interno, foi chamar a seita. Se a tuna é “académica”, é, tal como o traje, DA ACADEMIA, não da Praxe. Que autoridade têm estes “senhores” para dizer que a “Tuna Académica de X” perde o estatuto de académica? Nenhum. Não têm qualquer direito de o fazer. Repito: podem escrever decretos com palavras que indicam a perda desse estatuto e ir gritá-lo de megafone na mão do alto da Torre dos Clérigos - tal como eu posso andar com um badalo pelas ruas a gritar que, por meu decreto, o Primeiro Ministro perdeu o estatuto de português. O efeito é rigorosamente o mesmo: isto é, nenhum. Já não estão a querer inventar sobre a praxe: agora pretendem interferir no próprio significado das palavras da língua - património de todos os portugueses - e até no próprio meio universitário, decretando quem pode ou não ter o estatuto de “académico”. Mas esta gente tem consciência do que anda a fazer, ou pensa que somos todos parvos? Pelo visto, deve pensar que sim, que somo parvos. E têm razão, pois há quem vá nestas cantigas.

Mas enquanto se divertem a apedrejar o Sol, estamos nós bem. Mas veja-se agora o terceiro grau da ingerência e do ridículo:


«deixando a tuna feminina dessa mesma casa de ser, por isso, afilhada da dita cuja tuna em questão»

Como? Já decretam sobre as relações entre as tunas? Já a estupidez e a falta da consciência dos próprios limites rompe uma relação baseada na amizade e na admiração? É suficiente para destruir laços de amizade e cooperação institucional e pessoal, forjadas por largos anos de convívio e consubstanciadas por uma cerimónia formal - o baptismo? Que é feito da protecção dos padrinhos? Que é feito da admiração e do carinho dos afilhados? Como é que se destrói a relação entre aqueles que se responsabilizam pela entrada de outros no mundo das tunas e os que procuraram nos padrinhos o aconselhamento e a orientação, concedendo-lhes a honra e a responsabilidade de apadrinharem, uns, e de serem apadrinhados, outros, porque os padrinhos vêem nos afilhados qualidades em que acreditam? Ou não passou afinal tudo de um pretexto para padrinhos e afilhados jantarem juntos?

Ridículo - de quem intimida.
Vergonha - de quem se deixa intimidar.
Tristeza - de ver tunas contra tunas, pior ainda quando são afilhados e padrinhos.

Isto só passará daqui se as tunas, todas as tunas, deixarem.

Abraço e

BOA MÚSICA!"
O Conquistador, 21-09-2011



Mesmo que, eventualmente, quisesse alguém evocar o projecto de código do Balau e Soromenho, cuja validade não existe, e alegar qualquer intenção dos legisladores, daria com uma porta fechada, pois em lado algum há uma só referência que seja a Tunas (que também não existe na praxis coimbrã, diga-se).
Não tem o MCV ou seu Dux autoridade para se atribuirem poderes especiais, sob pena de, qualquer dia, dizerem que podem mandar, sei lá, nos talhos da cidade.

6 comentários:

As Minhas Aventuras na Tunolândia disse...

Ilustre:

Curiosamente - ou não - o titulo deste post resume praticamente tudo: "Magnum do Porto Vs Tunas".

Alguém quer confrontação. Não verão essa pretensão deferida, seguramente.

Abraços!

As Minhas Aventuras na Tunolândia disse...

Meu caro:

O Projecto - que disso nunca passou - de balau e Augusto Soromenho (D.E.P.) nunca passou disso mesmo, de um projecto. Vale, portanto, o que vale, havendo desde há muito alguns anacronismos flagrantes face á realidade.

Nem será por aí. Agora uma coisa sei: Se Augusto Soromenho fosse vivo nada disto se estaria a passar...

Abraços!

Eduardo disse...

Caro WB:

fui, a meu tempo, Dux Facultis de Letras, não do Porto.

O título devia ser "Dux Facultatis", devia, mas é "Facultis". Alguém que não percebia nada de latim inventou o termo e... assim ficou.

Não se vá ficar a pensar que fui Dux Veteranorum, esse sim "do Porto".

Cada faculdade tem o seu próprio Conselho de Veteranos, presidido por um "Dux Facultis".

Os "Dux Facultis" compõem o "Magnum Consilium Veteranorum", presidido pelo "Dux Veteranorum".
O Magnum Consilium Veteranorum de Coimbra é, ao que julgo saber, constituído por todos os veteranos e lá não há o "Dux Facultis".

É uma idiossincrasia da Academia do Porto, que nunca conseguiu desligar-se dos seus primórdios - conjunto de escolas que se reuniram para formar a Universidade.

Abraço!

J.Pierre Silva disse...

Ilustre,

Quando referi Dux Facultatis do Porto, éobvio, e claro (pelo menso para nós) que era o ser Dux d euma das Faculdade do Porto (até porque não existe a Faculdade do Porto tout court).
Bem sei que usam, por erro, o "Facultis", mas deixa-me, ao menos, escrever correctamente, lol.

De resto, nada a acrescentar. Sei como funcionam ambos os organismos, não tivesse eu estudado ambos os códigos (digo ambos, mesmo se o do Porto, de que tenho exemplar em Pdf, não passou de projecto).

Abraço e parabéns pelas preciosas intervenções!

As Minhas Aventuras na Tunolândia disse...

WB, volto a referir:

O Projecto de Balau e Soromenho nunca passou disso mesmo, de um projecto. Não conta por isso para qualquer análise ao que se passou/passa/passará na Academia do Porto. Ou seja, é = a zero.

Abraços.

J.Pierre Silva disse...

Caro, pode ser zero juridico-praxisticamente, como documento, como código, mas o seu conteúdo serve de base à praxis portuense, pois nesse projecto se inspiram as actuais práticas; e a esse "código" regressa boa gente quando quer alicerçar algum argumento da praxis do Porto.

Precisamente porque há quem o invoque, e tão só por isso, é que o refiro como sendo um documento que nada refere sobre tunas. Podia fazé-o, mas nem isso faz sequer.
Assim, quem alega que as Tunas são Praxe, não encontra no documento/código mais antigo (da época do boom), qualquer suporte - como também o não encontra e nenhum outro, diga-se, porque, também eles, nada dizem/regram sobre Tunas.