quinta-feira, maio 10, 2012

Notas à Capa Suja

Estava eu ontem à conversa com a minha afilhada, que me apareceu toda bonita de capa e batina (só agora passou a vestir, porque na sua faculdade  - Lisboa -  dizem que os os caloiros só na noite da Serenata é que trajam pela 1ª vez; prova de que continua a haver muita gente ignorante e que só diz besteiras), quando reparei na sua capa, ainda tão recentemente estreada, já suja com grandes manchas beje-acastanhadas.

Logo lhe disse que devia, na 1ª ocasião, depois da Semana Académica,  tratar de limpar aquilo, a que se seguiu a seguinte conversa (aqui abreviada):

- A capa não se limpa!
- Mas onde ouviste isso? Que parvoíce é essa de não se poder lavar?
- Foi o que me disseram.
- Ah, pois, mas não faz sentido nenhum.
- Mas está no nosso código e diz que nunca se lava a capa!"

Está bom de ver que algo de errado se passa naquela faculdade, e em tantas e tantas outras,  no que toca a coisas tão simples que querem transformar em papismos de meia-tigela.
Para o lixo com códigos que colidem com a Tradição e se arrogam o direito de inventar, deturpar e desvirtuar com base na ignorância, na pequenez intelectual e na falta de dois dedos de testa para pensasr e perguntar, antes de se armarem aos cucos!

Para o lixo com todos eles, com todos esse libelos da treta que conseguem ser mais anti-praxe do que outra coisa qualquer, enganam e induzem em erro os estudantes.
Já neste blogue se demascararam outros mitos (pins, emblemas, colheres de café na gravata, relógios, pasta de praxe, origem do traje, o nº impar, latim macarrónico, o grito FRA, insígnias......) e este é mais um.

Desde quando é Praxe e Tradição não se limpar a capa?
Desde quando é Praxe ou Tradição andar porco e sujo, trajando-se um uniforme (capa e batina ou qualquer outro traje académico)?

Propalam-se muitas patetices, a começar por esse supostos "líderes da praxe", cujos cargos são verdadeiros hinos à ignorância e incompetência, secundados pelos praxeiros em rebanho obediente no seu balir praxístico.
Depois a justificação é "o nosso código diz...", como se um codigozeco inventado à pressão se pudesse sobrepor à Praxe e à Tradição que lhe são anteriores e que são património basilar e transversal para a própria fundamentação de qualquer código de Praxe digno desse nome.
Não percebem que é imperativo haver um precedente e uma justificação na Tradição para validar um código que se arroga, ele próprio, repositório de tradição?

O traje e a capa devem ser limpos, sempre que andrajosos, sempre que sujos. Na capa não se colecciona esterco ou sujidade como se de medalhas se tratassem. A sujidade não é brasão que se cosa à capa e não é marca que digifique seja quem for. Se assim fosse, alguns sem-abrigo seriam Super-Dux.
Quem pensa e diz tais besteiras não é só a capa que devia limpar, mas o cérebro.

Aprumo e limpeza sempre foram exigidos em qualquer uniforme, em qualquer traje, e o Traje Nacional ou Traje Académico não foge à regra.
É uma questão de civismo, educação e excelência.
Aturar maus praxistas é uma coisa, mas que ainda por cima sejam porcos..........

Legislar a dizer que se tem de andar com uma peça de roupa mesmo que imunda é vergonhoso, triste e completamente parvo. Nem parece vindo de estudantes do superior.

Essa "moda" já não é nova, tem alguns anos, sabemo-lo.
Advém da mente de gente que queria, à força toda, (para darem nas vistas) imitar os antigos estudantes que só tinham o seu traje como indumentária diária (quando o porte era obrigatório, ou mesmo depois quando era a pouca roupa que possuíam) e que se rompia e sujava devido ao seu uso intensivo.
Só que o traje não é de porte obrigatório há 100 anos, nem o recurso a quem tem pouca roupa - que hoje é bem caro, até, comprá-lo!!!

E mais: não existem registos de estudantes andrajosos, sujos e com o seu traje/uniforme imundo! Não, não existe, porque era obrigatório, precisamente, o aprumo.
Em lado algum existe referência a não se poder lavar a capa. Só mesmo em codigozeco de meia-tigela.
As capas, e o restante traje também, sofriam com o passar dos anos, e andavam bem rompidos no caso dos mais veteranos, mas não consta que andassem sujas como hoje alguns as deixam (sob pena de nem poderem entrar nas salas de aula). Aliás, não era invulgar alguns estudantes comprarem novas capas ou mesmo calças, batinas ou coletes, a par com sapatos.

Note-se que há quem propositadamente suje a sua capa, a deixe pelo chão, só para lhe dar um ar "veterânico" (a lembrar aqueles filmes onde se amachuca uma folha, se passa por café e outros quejandos, para imitar um papel antigo), naquilo que é um desrespeito total pelo uniforme que envergam, inventando depois essa coisa estapafúrdia que não se limpa a capa porque as nódoas são recordações da vivência académica!
É preciso ter lata e ser muito estúpido para tal argumento, tamanho é o ridículo e absurdo do mesmo.
Quem assim faz, faz triste, patética e ridícula figura, pretendendo obter veterania pelo que aparenta e não pelo que deve ser e saber.

Historicamente, tradicionalmente, fique claro, não há nada que justifique não se limpar o traje e a capa também, muito pelo contrário.

Com efeito, bastaria recordarmos aqui  o Edital da Vice-Reitoria de 22 de Abril de 1839, e depois o Decreto de 25 de Novembro (Regulamento da Polícia Académica) desse mesmo ano, que determinava que quem entrasse nos Gerais e nas salas de aula o fizesse com "vestuário próprio", ou seja envergando o traje académico. Determinava explicitamente o art.º 27º que o traje reservado aos lentes, doutores, professores e estudantes deveria ser limpo e decente.

No entendimento da época, como refere António Nunes [in Identidade(s) e moda, Percursos contemporâneos da capa e batina e da sinsígnias dos conimbricenses. Bubok, 2013, p.73], "limpo e decente" abrangia a higiene corporal e vestimentária.
Assim, o traje e a capa eram limpos/lavados, sempre que se apresentavam demasiado sujos para exprimirem o aprumo que se exigia a um uniforme como era o traje estudantil.

No edital datado de 24 de Abril de 1862, pouco depois do reitor Basílio Pinto ser reconduzido no cargo, ordena-se que "qualquer estudante que for encontrado em público com vestido talar académico, sem ser limpo e decente, como ordena o art.º 27 do Regulamento da Polícia Académica de 25 de Novembro de 1839, será recolhido à casa de detenção académica pelso empregados da Polícia Académica que o encontrarem, ou dele tiverem notícia, dando-me logo parte de assim o terem praticado".

[idem, p. 84]



In "Legislação académica desde o anno de 1851 inclusivamente até ao presente" , editada em 1954 pela UC. Edição Impressa colligida e coordenada por José Maria de Abreu.



Aliás, como podemos esquecer, por exemplo, que o acto de passar em revista o traje  não concerne apenas o correcto porte, mas igualmente o aprumo, a sua limpeza (capa incluída)?

Nota: Como disso damos conta no artigo sobre "Foro Académico", no qual também abordamos a questão da Polícia Académica, é possível perceber que, em finais do séc. XIX, fruto de um crescente descontentamento interno e externo (desde a revolução vintista e guerras liberais que a UC vive tempos conturbados), muitos estudantes que eram contra o traje talar (e reclamavam "modernidade" - que resultaria na transição para a "abatina") se apresentavam propositadamente com os seus trajes em condições lastimáveis ou então com adereçso proibidos pelo regulamento de disciplina em vigor, como forma de provocar as autoridades e atitude reaccionária. Convirá não confundir tal com o romantismo ficcionado dos velhinhos estudantes de trajes puídos pelo uso.


Nota: também me disse essa minha estimada afilhada que só era Pastrana quando inciasse o seu 2º ano na faculdade, revelando que na instituição que ela frequenta andou muita gente a aparvalhar a Praxe, deturpá-la e a espalhar mitos; gente que manda na Praxe lá do quintal deles, mas que destes assuntos não passou ainda de caloiro.

Pastrano é a designação dada ao estudante que deixou de ser caloiro com o início da Queima das Fitas (época que marca a emancipação), até à 2ª matrícula.
É caloiro, mas já pode usar a pasta da praxe.
No palito métrico, "pastrano" é um nome equivalente a "caloiro"/"felpudo"/"loiraça" ou "boroeiro" - expressão injuriosa para designar os novatos. Aliás, o próprio João Fernandes do Palito Métrico é descrito como tendo descido do monte/casal até Coimbra. Termina a aventura a guardar cabras e ir à tábua. mesmo em Espanha, era frequente nos colégios dizerem ao recém-chegado que era filho de lavradores/pastores, etc.
Pastrano deriva de "pastorano" - pastor, daí o significado de "rústico, grosseiro". Cf. http://www.lexico.pt/pastrano/


Como lho disse a ela, digo-o para qualquer outro do género:

-Para o lixo esses codigozinhos da treta. Para o diabo tanta ignorância e estupidez disfarçadas de grandes heranças do passado.
Rasguem-se as páginas desses manuais e deixem apenas o que é TRadição, de facto.
Os códigos ficavam mais magros, mais fáceis de conhecer, transportar e respeitar, por só conterem o essencial, o genuino, o que de facto importa.

28 comentários:

Pedro Sousa disse...

Caro amigo,concordo completamente!A minha capa e traje já vão a caminho de 15 anos e já foram lavados muitas vezes!Mais,abomino aqueles que mandam a capa para cima de chãos imundos,passam por cima delas e despejam-lhes bebidas!Como disse um professor meu (autor de «A praxe na academia de Coimbra») - M.Prata - a capa era a "tapa-misérias"...para não haver distinção entre os alunos ricos (com mais mudas de camisas,por ex) e os pobres (com menos camisas e,logo,mais gastas)!A capa é a "tapa-misérias"...não a "mostra-misérias"!!Parabéns pelo post!

O Gajo que Tem a Mania que Sabe disse...

Apesar de já ter trocado todas as outras peças, a minha capa e batina ainda são as originais (compradas em 99).
À parte de três pequenos rasgões na capa - que também sou contra mas que de alguma forma conseguiram aparecer numa noite de folia dos festejos do fim do primeiro curso - O meu traje encontra-se normalmente impecável e
os sapatos engraxados.
É frequente acharem que sou "naftalina" (os que trajam 3 vezes por ano) por causa disso... o que não deixa de ser irónico, pois por muitos anos, este inclusive, aquele traje foi a única roupa que vesti - fora os fins de semana e férias, claro.

Suponho que, aos olhos de quem não me conhece, não dei tanta rodagem ao traje como aqueles que, ao fim de 3 ou 4 anos o apresentam num estado lastimoso... mas também não me interessa muito o que os outros pensam.

Ao "fingir uso" que muitos tentam atribuir ao traje, junta-se também, na minha opinião, a imagem de jagunço que, pelo menos na "academia" do Porto, tanto se associa ao bom praxista. Barba por fazer, e traje porco, rasgado e a cheirar mal, são para muitos atributos necessários ao bom praxista. É pena... talvez mais tarde aprendam e olhem para trás no tempo com vergonha.

É o que temos actualmente: "praxistas" que tanto bradam amor ao traje, mas que o tratam mal e o deixam de vestir mal têm oportunidade (aquando da veterania).

Abraço
Tiago "Evonet" Carvalho.

Anónimo disse...

todas as faculdades que conheço dizem o mesmo... também me recuso a andar com a capa suja mas a verdade é que nunca o digo alto.. pois os srs da praxe ainda me fazem mal... LOL

Eduardo disse...

Meus caros:

este é talvez o único aspecto em que sou algo "fundamentalista". A meu ver, a capa nem deve ser arrastada por uma quadriga em volta do Circo Máximo em Roma nem deve ser lavada.

Se alguém chegar ao pé mim com a capa a cheirar a sabão Clarim, pois não a chatearei - aliás, tenho mais que fazer do que andar a ver se alguém lavou a capa ou não.

Abraço!

Eduardo

J.Pierre Silva disse...

Nunca lavei a minha, porque nunca precisei de o fazer. Nunca a lavei, embora muito tenha dado a sofrer ao traje (que me era roupa quase diária - num tempo onde ainda se trajava com alguma regularidade), sempre tive o cuidado com a limpeza e preservação da capa.
Mas se fosse preciso, fá-lo-ia, porque o aprumo e a limpeza acima de tudo.
Percebo a ortodoxia, mas, caro Eduardo, só a defendes porque eras consciencioso e tinhas o devido cuidado com ela. Porque fazias fé de não a lavares, tudo fizeste para evitar fazé-lo, mantendo-a a salvo.
Certamente que, se por um infeliz acaso, alguém gregoriasse um farto almoço em cima dela a lavarias de pronto.
Já vi capas no chão junto a urinóis, em plena Queima (e podem imaginar o que era o "chão").......... não concebo que ficassem por lavar.


Agora, obviamente, não se trata da mania das limpezas e de andar a verificar capas à lupa.
Agora ostentar grandes manchas de suidade e recusar tirar porque "não se pode"........ isso não.

Em Praxe apenas dizer que quem quiser mandar limpar a capa a seco pode fazé-lo que não está a ir contra nenhuma norma, regra ou tradição.

Miguel disse...

Senhores,

visto que sempre ouvi dizer, em diversas faculdades pelo país, que a capa nunca deveria ser lavada, haverá algum fundamento plausivel para esta "regra"?

J.Pierre Silva disse...

Claro que não!
mas tal como outros, esse é mais um daqueles mitos que se propagou (chegando alguns a ter a divina estupidez - só de gente atrasada mental mesmo) que puseram isso nos seus "códigos".
Também ainda se diz que o traje nacional (capa e batina) vem das vestes clericais - outro mito.
Também se diz em muito lado que os caloiros não podem trajar ou que trajam pela 1ª vez na noite da Serenata - outro mito.
Também se diz que quem não for praxado não pode participar na queima, usar traje, ter fitas, etc. - outro mito.
Também se diz que quem recusa as praxes é declarado (ou deve declarar-e anti-praxe), mesmo que só não concorde em submeter-se a ritos vexatórios e humilhantes que, na prática, nada têm de Praxe. - Outro mito (porque um anti-praxe é contra tudo o resto, queima, fitas, serenata.... até mesmo o traje, pois não aceita regras do seu porte).

E muito mais haveria a acrescentar.

O problema da praxe é a quantidade de mitos propalados, dos líderes que são hinos à incompetência, e a pequenez intelectual de quantos seguem cegamente.

Anónimo disse...

É Coimbra é dito pelos mais velhos que se pode lavar. Contudo, somente se pode fazer caso seja nas águas do rio Mondego ou com águas provenientes da chuva.
Quanto aos rasgões na capa, não sou contra desde que os rasgões não vão até à colarinho.
Todas as tradições tiveram um início, tal como a Tradição Académica.
Agora há as boas e as más. E em relação em lavar a Capa, sim, desde que no Rio Mondego ou a partir da chuva.

Anónimo disse...

Voces nao sabem mesmo o que dizem,, e com cada asneira ai escrita....

Anónimo disse...

Pastrano derevia da palavra PASTA voce e muito ignorante....

J.Pierre Silva disse...

Caro anónimo,

Até prova em contrário, ignorante é vocé.
Demonstre a evolução etimológica e refira os documentos em que se baseia para dizer que Pastrano vem de "Pasta".
Ninguém lhe conhece qualquer estudo, investigação ou publicação que lhe confira o crédito para aqui vir tratar-me de ignorante.
Troque a sua cobardia por algum saber e algum estudo e dê a cara por aquilo que diz.
Vocé é mais um daqueles que não sabe (mas pensa que sim), acha que nada tem a aprender e tem raiva de quem sabe, de facto.

Se é tão douto para se averbar a pseudo-coragem de, sem se identificar, acusar este espaço de ignorância, pois prove que sabe mais e apresente o devido contraditório. Prove o que o que aqui se escreveu está errado, que é só asneira e não sabemos o que dizemos.
O problema, sabe qual é? É que não é capaz de tal. Mas pago-lhe um fino se conseguir,pelo menos, argumentar com eloquência.

Se não o fizer.....pois fica patente a sua mediocridade.

Acredite que gostava de saber 2 coisas: onde estuda e quantas matrículas tem.

Praxista disse...

Ó anónimo tu és mesmo burrinho de todo!
Dizeres que o notas&melodias é ignorante é como dizeres que o CR7 ou o Messi não jogam nada de futebol.
É tramado quando alguém puxa o tapete das tuas grandes certezas, não é?
Custa perceber que não se sabe assim tanto não custa?
A mim custou, mas fiquei agradecido. Aprendi que nem tudo o que me diziam era lei e estava certo. Passei a desconfiar, antes de acreditar no diz que disse.
Mas não foi com tipos como tu que aprendi, porque com gajos assim um tipo só faz e diz merda.
Foi com pessoas como do notas&melodias ou do porto académico e mais recentemente o Praxe Porto onde adoro também ler o que o Eduardo, o jcd e o administrador de lá escrevem.

Anónimo disse...

Gostei muito deste artigo.
Sempre me disseram que não se lavava a capa nunca, mas nunca explicaram a razão, ou melhor explicaram: disseram que era sagrada e que só a chuva a podia lavar.
Eu não suportaria que alguém vomitasse a minha capa e eu não a poder mandar limpar. Andar limpa não impede de respeitar o traje, pelo contrário, acho eu.

O que o artigo diz faz todo o sentido.

Mariana Gomes

J.Pierre Silva disse...

Continuo à espera que o senhor Anónimo venha provar que Pastrano deriva de Pasta, apresentando a sua tese e a explicação da evolução etimológica.
Onde anda, caro sabichão?

Joel Rodrigues disse...

Segundo a tradição da minha Universidade o não lavar a capa tem um propósito.
Na minha Universidade é permitido deixa-la a apanhar chuva, mas nunca lava-la diretamente, pois o propósito de não ser lavada tem a ver com a preservação de todo o historial académico. Pois acredita se que ao lavar a capa estamos a lavar a nossa vida académica.
é claro que a capa não deve andar demasiado suja, pois qualquer trajado deve orgulho na sua capa.

J.Pierre Silva disse...

Caro Joel,

Na sua Universidade e em qualquer outra é permitido a capa apanhar chuva! Era o que mais faltava não permitirem, quando ela serve para agasalhar.

Agora diga-me o que é isso de preservar todo o hisatorial académico.
Desde quando é historial académico uma nódoa ou sujidade? Na sua universidade as pessoas estão bem de cabeça?
Diga-me onde está consagrado que uma nódoa é historial académico; em que código, em que documento histórico, em que tradição?

Lavar a capa (ou madar limpar a seco) não lava vida académica coisa nenhuma! A vida académica é um conjunto d ememórias e não de nódoas. Era bonito ceharmos ao ponto de dizermos "A tua vida académica é uma grande nódoa!" " ou o teu historial académico é só nódoas e imundices".

Não meu caro, diga lá aos que lhe contaram essa história que façam uma lavagem ao cérebro ou que o ponham a funcionar.
Urine em cima ou diarreie em cima da capa de um deles e depois diga-lhes que não a devem limpar, porque acabou de nela inscrever uma recordação, um pedaço de vida académica de que nunca se irão esquecer! Está a ver bem a cena? Certamente que nessa altura já o disco muda. Mas basta, sei lá, sem querer, vomitar fruto de um jantar académico ou despejar uma lata de tinta amarela, daquela que está a usar para pintar o carro do cortejo, ou seja tudo em contexto académico, e depois diga-lhes que não podem lavar a capa.

Capa limpa, antes de mais. Se precisar de ser lavada, que o seja.
Não atenta coisa nenhuma, nem à Praxe nem ao brio que deve ter qualquer estudante quando trajado. Praxe é aprumo, limpeza e porte correcto do traje.

Forte abraço.



Abraço

ricardo disse...

Muito boa tarde.

Em primeiro lugar acho que se deve falar apenas do que se conhece e não generalizar, na academia onde estou inserido ninguém proíbe ninguém de lavar a capa, cada um é livre de fazer o que quiser com a sua capa, o que eu sempre ouvi em caso de lavar a capa é que "dá azar" por isso deixo as superstições para quem acredita.
Em segundo lugar acho que só tem a capa imunda quem quer, no meu caso tem oito anos, muito uso, serviu muitas vezes de agasalho a caloiros que nao estavam propriamente limpos, sempre foi lavada apenas por agua da chuva, e não é por isso que está imunda ou a cheirar mal.
Por isso deixem-se de supostos moralismos se as pessoas querem ser supersticiosas deixem que o sejam, se o não quiserem que não sejam. Era o que faltava andar a ver quem é que lava a capa ou não, existem tanto mas tanto desrespeito ao traje que sinceramente isso é um mal bem menor.

J.Pierre Silva disse...

Caro Ricardo, desde já obrigado pela participação.
Depois dizer que a generalização faz sentido, porque é oque se regista de norte a sul do país, onde se diz que a capa não deve ser lavada (chegando alguns sítios a proibir em código - o que é ainda mais estúpido). Não se trata de dizer que todas proibem, mas rara será a academia ou instituição onde não exista essa ideia errónea.
Novidade para mim é ssa do "dar azar", que nada tem a ver com superstição, mas com estupidez, porque será "desculpa" ainda mais recente que o argumento de "não e lavar as memórias", por isso invenção estapafúrdia de "3/4 de mês" (que alguém atirou para "defender" a sua ideia de que não se lava a capa; que é como agora virmso dizer que lavar a capa provoca cancro).

Em Praxe não há superstições!

Entretanto concordo que só anda com a cap aimunda quem quer.....e eu acrescentaria: E QUEM É PORCO!
Se por acidente ficar suja, é mandar limpar.
A minha percorreu muitas milhas e muitas andanças e nunca precisou ser lava (calhou, tive sorte e tive cuidado também).
Mas se precisasse, lavá-la-ia, com certeza.
E é isso que deve ser feito, porque é de Praxe o aprumo e a higiene, andar de uniforme limpo e digno.
Abraço

afonsóó disse...

Devo dizer antes que tenho pena de não conhecer este blog há mais tempo...

Sou estudante universitário (caminhando para a minha 3ª matrícula), mas já tenho traje académico há já 6 anos (toquei numa Tuna de Liceu que usava os mesmos Códigos de Traje que nos Institutos Superiores).

Este post deixou-me no mínimo "iluminado", e por cada post que leio fico cada vez mais parvo com a quantidade de barbaridades de regras que impõem e me sempre impuseram "de não fazer isto ou aquilo" " tal coisa é proibida", etc.

Nunca lavei a capa e sempre respeitei a tal regra de "se lavas, estás a apagar o teu percurso académico", mas de facto depois de ler alguns comentários penso mesmo que é simplesmente "parvo" achar que algo está a ser apagado dali... De longe a minha capa está imaculada, e já com os seus rasgões, e apesar de agora estar a a finalmente a aprender algumas das verdadeiras tradições vou manter as que me foram transmitidas. No entanto irei sempre ensinar ao meus futuros caloiros quais são as verdades e as mentiras do Código de Traje e afins.

Muito obrigado por estes posts, e irei certamente ler muitos mais!

Um grande Abraço

J.Pierre Silva disse...

Caro Afonso,

Obrigado pelas suas palavras.
Encontrará, do lado esquerdo do blogue, uma lista de artigos que lhe poderão ser úteis, a si e outros.
Abraço

Daniel Valério disse...

Estive um ano na FDUC como caloiro, e devo confessar que Coimbra e a Tradição Académica ficarão para sempre na minha memória! Apesar de ter tido a sorte de ter sido praxado por pessoas que sabiam o que faziam e me contaram e explicaram tantas das tradições que no blog são contadas e explicadas, tenho aprendido muito a ler tudo isto! E só dá vontade de ir para lá e o transmitir a todos! Às vezes os estudantes parecem esquecer-se de toda a tradição que precede tanto do que fazem sem eles o saberem! Coimbra é mais do que alcool, é o espirito jovem, empreendedor e corajoso! E a evolução da praxe devia ser no sentido de desenvolver esse espírito! Parabéns ao autor pelo excelente trabalho!

Sunshine disse...

Boa Noite

Sou caloira, aliás, deixo hoje de o ser visto que daqui a umas horas irei passar a tribuna, sendo hoje o Cortejo do Porto.

Pediram-me para descobrir a origem do cortejo e por acidente, vim parar a esta página.
Apesar de ter adquirido alguns conhecimentos tenho que demonstrar o meu descontentamento pela generalização que fazem à praxe.

Dizer que esta no código da praxe, não é de todo uma boa resposta, é uma chamada "resposta fácil", no entanto acho que quem pertenceu à praxe há 10 anos atrás, não verá a actual "praxe" com bons olhos, pois nao deve ser de todo semelhante à que viveu mas provavelmente tambem eu olharei para a praxe daqui a dez anos e direi que nao faz sentido, porque nao foi assim que fui praxada.

As pessoas que vivem/viveram a praxe devem perceber que a praxe se tem que adaptar aos tempos, até porque há certas coisas que deixam de fazer sentido, tal como a religião o faz a cada dia que passa... eu, como pessoa católica que sou e tambem catequista, nao acho que faça muito sentido os padres rezarem a missa de costas para a comunidade, no entanto, há vários anos atrás fez, chama-se evolução e adaptação aos tempos que correm.

Em relação ao "lavar da capa", o traje é nosso, comprado com o nosso dinheiro, a partir daí fazemos com ele o que "queremos", actualmente o traje já não é utilizado para os alunos nao serem distinguidos (é mas não no mesmo sentido do antigamente) nem é utilizado diariamente, apesar de na minha casa o ser utilizado com bastante frequência, e quando digo bastante refiro-me a vários dias por semana, por terem os seus significados, e nunca ninguém me proibiu de lavar nada.
O não lavar da capa simboliza sim actualmente um "não apagar recordações", mas atenção é algo simbólico! Ninguem tem culpa que alguns estudantes achem que entornar bebidas pelo traje tal como apanhar bebedeiras, seja bonito porque na minha opiniao é um desrespeito total pelo que se tem vestido,e pelo seu simbolismo.

Concluindo que cada um faz o que acha que deve fazer, e tenho vários Excelentíssimos Senhores Doutores que nunca lavaram a capa e não cheira mal nem está suja!
Como disse, chama-se evolução e adaptação.
Já agora, passarei a pastrana até ao inicio do segundo ano.
Só tenho pena que nem todas as pessoas sejam praxadas como eu fui e continuarei a ser na minha casa, a casa a que pertenço com tanto orgulho.

Saudações Académicas.

J.Pierre Silva disse...

Cara Sunshine,

Sobre o lavar a capa, reiterar que é um total disparate dizer que as nódoas e sujidade são recordações que não são para serem "apagadas". Aliás o argumento é tão parvo que nem sei como há quem o repita e professe sequer. Então, numa sociedade evoluída, com parâmtros de higiéne e saúde ao nível dos países mais evoluídos, dizer que não se lava algo porque isso simboliza as recordações e a vida académica é de gente ignara e estúpida.

Vida Académica nada tem a ver com nódoas ou sujidade. Isso não é vida académica, mas sim falta de aprumo e higiéne, nada mais.
Já o cheiro, umas cheirarão mal e outras não, devem lavar-se se cheiram mal.
Eu já vi de tudo, ao longo de mais de 2 décadas e digo-lhe que um praxista de capa suja é um porco, nada mais.

Quanto ao que motivou aqui a sua vinda, apenas fonecer-lhe 2 ou 3 dados sobre o cortejo:

Já se realizariam cortejos, mais ou menos formais, desde finais do séc. XIX. Uma das caracteríticas das festividades de fim de ano eram as latadas, que inicialmente, ocorriam no final das aulas, no "dia do ponto", desfilando pelas ruas, muitas vezes à noite, com latas, fazendo barulho que indicava alegria pelo fim das agruras do estudo. De notar que as latadas se faziam quer na Universidade ou escolas superiores quer nos liceus.
Aponta-se a celebração do Centenário da Sebenta (1899) como o "clique" que dá o empurrão final ao início da formalização e institucionalização da Queima.
Sabemos que, em 1901, em Coimbra, estudantes do 4º ano jurídico organizaram um cortejo com cerca de 20 carros motorizados e a cavalo, todos eles enfeitados. Temos, aqui, então, a 1ª alusão a carros alegóricos motorizados, pois antes eram puxados por cavalos ou bois.
Os cortejos estudantis eram comuns, especialmente no Carnaval. Daí que tudo indica que desde pelo menos o final da década de 1880 se fariam cortejos (mesmo que de reduzida dimensão)a assinalar o fim dos estudos.
No Porto, a Queima era inicialmente designada por "Entrega da Pasta" (mais tarde "Festa da Pasta") e só em 1943 a festividade passa finalmente a chamar-se, também, Queima das Fitas.
Em Lisboa, a 1ª Queima das Fitas ocorre em 1925, na qual consta, entre outras iniciativas, cortejo dos alunos, mas existiriam certamente festividades antes disso, embora, como sucedia nos primórdios, quer em Coimbra ou no Porto, as coisas se fizessem muito localizadas, por cursos ou escolas, no recinto ou imediações das mesmas e não com a dimensão que hoje sabemos.

Como referiu ser católica, referir que a 1ª indicação de Benção das Pastas, é do Porto em 1933.

Cumprimentos

Anónimo disse...

quem nao quer lavar a capa que nao lave, eu proprio so a lavei em ultimo recurso pois tinha a capa cheia de bolor e ja estava a deixar de ser preta e a passar a ser branca, mas sempre a escovei para tirar o maior da sujidade e manter a capa o minimo apresentavel pois nao e nada bonito traçar a capa ao fazer uma serenata e ter a capa cheia de nodoas

WB disse...

Fique claro: ninguém é obrigado a lavar a capa, tal como ninguém pode ser proibido (como dezenas de códigos da treta preconizam) de a lavar se o quiser/precisar de fazer.

E pode-se lavar com base em que Tradição?
Aqui transcrevo o que consta do artigo:

"Historicamente, tradicionalmente, fique claro, não há nada que justifique não se limpar o traje e a capa também, muito pelo contrário.

Com efeito, bastaria recordarmos aqui o Edital da Vice-Reitoria de 22 de Abril de 1839, e depois o Decreto de 25 de Novembro (Regulamento da Polícia Académica) desse mesmo ano, que determinava que quem entrasse nos Gerais e nas salas de aula o fizesse com "vestuário próprio", ou seja envergando o traje académico. Determinava explicitamente o art.º 27º que o traje reservado aos lentes, doutores, professores e estudantes deveria ser limpo e decente. No entendimento da época, como refere António Nunes [in Identidade(s) e moda, Percursos contemporâneos da capa e batina e da sinsígnias dos conimbricenses. Bubok, 2013, p.73], "limpo e decente" abrangia a higiene corporal e vestimentária.

Assim, o traje e a capa eram limpos/lavados, sempre que se apresentavam demasiado sujos para exprimirem o aprumo que se exigia a um uniforme como era o traje estudantil."

Madalena Batista disse...

Gosto muito dos seus posts e sigo-os muito atentamente. Vou trajar este ano, como direito que possuo, mas não vou praxar porque para além de não ter sido praxada, não consigo compreender muitas das coisas que são hoje feitas. Na primeira faculdade que frequentei, submeteram-me a coisas inadmissíveis mas apenas no 1º dia porque não voltei a por lá os pés. Conclusão: Não tive autorização para frequentar nem jantares, nem saídas de curso. Infelizmente muitos alunos submetem-se a essas ditas "praxes" e "codigos" apenas por medo da rejeição. É triste, mas é a realidade.

Maria (L) disse...

Olá, sou estudante em Lisboa e acabei de entrar para a minha segunda matrícula. Na faculdade a que pertenço, gosto de pensar que o espírito académico e o respeito do traje é levado a sério. No entanto, ao ler vários destes artigos deparei-me com várias coisas que a minha faculdade diz que supostamente vocês contrariam e dizem ser falso.
Primeiro queria dizer que acho que a tradição académica é algo a ter muito em conta e por isso não se deve inventar tradições a torto e a direito. Segundo, apesar disso acredito que tradições podem ser criadas, quer dizer, nós dizemos que é permitido fazer determinada coisa mas ela surgiu de algum modo, alguém teve de inventar e se calhar foi ridicularizado na altura em que criou. Pensem nisso...

Levei muito a sério o que aqui foi dito, e também a mim foi-me dito que não posso lavar a capa porque seria apagar memórias, a não ser com a chuva obviamente. A meu ver faz-me sentido, o que para vocês deve querer significar que eu sou estupida e ignorante. Mas para mim não lavar a capa não quer dizer que eu ande a sujá-la de propósito. São coisas muito diferentes. Enfim, podia continuar a defender os costumes que me foram incutidos mas não me quero prolongar.

Eu basicamente só fiz este comentário por um único motivo. Ao ler vários dos vossos artigos fiquem escandalizada. Não pelo tema de cada um, que admito ser bastante esclarecedor e interessante, mas pela forma como foi dito, o desprezo e os comentários cínicos que manda pelo meio. Senti-me insultada. Há muita coisa que me chateia, nomeadamente pessoas que não respeitam o traje, e eu sei que são muitas e em muitas faculdades, mas orgulho-me de dizer que a minha não é uma delas e por isso compreendo a vontade de ser um pouco mal educado, mas não é motivo.

Gostava de dizer mais mas já me alonguei mais do que queria. Espero que não levem a mal o que disse, mas senti a necessidade de dizer.

WB disse...

Se diz gostar de pensar que na sua faculdade as coisas são bem feitas (mas não identifica a instituição) está no seu livre direito. Só que nestas coisas, isso não vai de "gostar de pensar". é preciso, com efeito, pensar, e pensar é investigar, estudar e procurar saber matéria de facto.
O mesmo discurso tem muito boa gente que comete erro atrás de erro, mas convicta que na sua casa se faz bem.

A tradição não são criadas, minha cara, cristalizam-se pelo uso espontâneo. Algo de novo ou recente em tempo algum pode ser considerado tradição; é um paradoxo.
Se defende não se dever inventar tradições a torto e a direito, quem lhe garante que aquelas em que acredita não o foram?
Creio que é demasiado nova nestas andanças para poder pronunciar-se sobre o assunto sem ter previamente gasto uns anos a investigar e estudar estas matérias.

Foi-lhe dito que não podia/devia lavar a capa e para si faz sentido?
E acredita nisso só porque lhe disseram ou tem provas documentais de um antecedente que justifique tal patranha?
Se a não quer lavar é consigo, agora proibir-se de o fazer não tem senso algum, nem fundamento na Tradição, mais ainda se se tratar da capa e batina.
De facto, os costumes pelos quais se rege foram-lhe incutidos. Não os discute ou tenta perceber o fundamento. segue o que lhe dizem, mesmo que isso possa estar errado. Eis o estudante universitário de hoje: o que acredita sem ver e sem prova científica, na senda dos que acreditavam que o sol girava em torno da terra.
E para quem faz de nódoas e sujidade recordações, achando que só com isso elas perduram, está tudo dito. Pena não perceber que limpeza e aprumo são próprios do porte do uniforme estudantil.
Será que também só lava a sua roupa se for suja de propósito, caso contrário não a lava? estamos conversados quanto a isso.

Se você se sentiu insultada, é porque a carapuça lhe assentou.
Quando as pessoas fizerem prova do mesmo critério de seriedade no conhecimento da Praxe e da Tradição Académica, em vez de andarem em carneirada a seguir credulamente o que ouvem, talvez seja menos necessário dizer frontal e acintosamente o que é um facto: as pessoas pouco sabem de Prax ee Tradição e comportam-se com fundamentalismo baseado no perdurar do desconhecimento e da mediocridade à luz da qual parecem sentir-se bem.
Na verdade, você não consegue argumentar e fundamentar coisa alguma, apenas e só se insurge com a forma ou expressões que considera insultuosas.
É o que costuma acontecer.
Defende que não se deve lavar a capa, mas não consegue justificar isso senão pelo costumeiro" acho que".

E não, não levo a mal.