quarta-feira, maio 01, 2019

Notas à Imposição da Cartola e afins

Tem sido cada vez mais comum que o uso da cartola e demais adereços festivos que os finalistas usam no cortejo da Queima, passem por uma cerimónia de imposição.
António Nunes refere-se a isso como um acto inspirado nos rituais de cavalaria (com toda o imaginário hollywoodesco associado).
O que é que os rituais de cavalaria têm a ver com estudantes? Nada.
 
Que o uso de bengaladas seja comum entre colegas, como quase sempre o foi, aliás, pois nada a obstar. Que se transforme tudo isso num cerimonial revestido de praxis é que já roça o ridículo.
E ridículo porque, há que recordar, cartola, bengala, laço, roseta...não são propriamente insígnias pessoais (e muito menos da Praxe), e apenas se usam na Queima (no cortejo).
As insígnias de finalista são as fitas que usa na pasta!!!
Esses adereços festivos, carnavalescos, são isso mesmo: adereços de fantasia.
O Notas&Melodias já abordou e explicou a questão dessas "insígnias de finalista" e insígnias pessoais. É cada um ponderar.

Não há cá, portanto, lugar a pessoas de joelhos, como cavaleiros, e a bengala a servir de espada a investir seja quem for. Torna-se, até, estranho, quando vemos pessoas ajoelhadas perante colegas do mesmo ano (ou ano inferior) para serem "investidos". Serão saudades de andarem de joelhos nas praxes?
Não vejo sequer razão para se ajoelharem perante seja quem for, ainda mais para meterem uma fantasia em cima da cabeça.
Guardem lá a genuflexão para quem, de facto, merece tamanha reverência e adoração e poupem-se à figura subserviente que aparentam num momento que não é para tais preparos sequer.
 
O finalista apenas precisa de vir para o cortejo já com a sua cartola, bengala, laço e roseta, e sujeitar-se às bengaladas dos colegas finalistas que assim o saúdam (se quiserem).
 

Bem sabemos que, nomeadamente no Porto, e desde há já muitos anos, há o costume de alguém da instituição como que solenizar o momento, dando também umas bengaladas, mas isso não é uma investidura, nem deve ser visto como uma imposição de insígnias.
 
Aliás, recordemos que as insígnias se colocam, secundum praxis, não na altura da Queima, mas no início do ano lectivo, pois as insígnias dizem respeito ao ano que se frequenta e não àquele que se vai frequentar. Isso de imposições de insígnias na altura da Queima é algo sem nexo algo que se espalhou como epidemia.
Nisso, perverteu-se totalmente, e de forma muito grave, o sentido e significado das insígnias (que são as 8 Fitas e o Grelo, e também, mais recentemente, a Nabiça e a Semente) que representam o ano curricular do aluno.
Nada há na Tradição que determine qualquer imposição de cartolas e afins, muito menos qualquer cerimonial.
Não tarda e temos imposição de pins, de emblemas, de relógios, de telemóvel e quejandos.
Afinal, se já temos essa estupidez pegada de "traçar a capa", é só uma questão de esperar para ver até onde vai a insensatez inventar.
Portanto, quando  estiverem muito preocupados porque não sabem como devem proceder; fiquem descansados: não há obrigatoriedades nem protocolo tradicional. Vão, divirtam-se e deixem os praxismos das cartolas de lado que nesse dia é para festejar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Isto é um pouco subjetivo. De acordo com o Código de Praxe da Universidade de Coimbra a Cartola é considerada uma insígnia pessoal, juntamente com as fitas e o grelo. O conjunto todo da Cartola utiliza-se no ano seguinte ao grelo e às fitas. A bengaladas surgiram por influências do São João do Porto, era inimaginável dar bengaladas na Cartola de um quintanista em Coimbra.
Associar isto a atos medievais é completamente ridículo... mas são daqueles mitos que vão passando e ninguém questiona o "porquê?".

Excelente trabalho e adoro o seu blog!

Saudações académicas